75 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
o status quo parece ser uma propensão generalizada de diversos indivíduos em contextos diversos.
Quando entendermos esse fato, talvez possamos compreender episódios que parecem enigmáticos
pela lente da teoria padrão. Por exemplo, o viés do status quo pode ser um ingrediente importante
para compreender o motivo de os consumidores raramente trocarem de banco ou de fornecedor de
energia elétrica, mesmo quando a troca parece gerar benefícios evidentes.
Nudging :
compreender melhor as causas do comportamento também pode, por vezes, ajudar
na formulação de ferramentas simples e eficazes para influenciar decisões. Um bom exemplo – ligado
à minha discussão do viés do status quo e do efeito dotação – tem a ver com as opções default. Por
vezes, a manipulação da opção default pode ter um impacto significativo na escolha das pessoas.
Em certos contextos, isso pode fornecer aos formuladores de políticas públicas oportunidades para
estimular mudanças de comportamento “desejáveis”. Um exemplo bem conhecido, utilizado inicial-
mente nos EUA, diz respeito à alteração das opções default dos planos de aposentadoria para fun-
cionários de diversas empresas. Antes da intervenção, os funcionários podiam optar pelo aumento
da taxa de poupança à medida que o salário aumentasse, mas a opção default não previa nenhum
aumento dessa taxa, a menos que o funcionário optasse ativamente por ele. Baseando-se em seu
conhecimento do viés do status quo, Benartzi e Thaler sugeriram mudar a opção default para que a
poupança aumentasse automaticamente com os salários, a menos que o funcionário optasse por não
participar do programa. Isso foi testado por um período de alguns anos, e os resultados mostraram
um aumento surpreendente nos índices de poupança como consequência dessa simples mudança.
Para mais informações sobre esse exemplo específico, uma boa fonte é Benartzi e Thaler [22]. O
argumento mais geral ilustrado por esse caso, no entanto, é o de que a Economia Comportamental
possui grande potencial para contribuir para o bem-estar das pessoas, e é uma disciplina que deve
ser estudada e posta em prática.
Referências
[1] Lichtenstein, Sarah and Paul Slovic. 1971. “Reversals of Preference between Bids and Choices in
Gambling Decisions,” J. Experimental Psych., 89, pp. 46–55.
[2] Grether, David. and Plott, Charles. R. 1979. Economic theory of choice and the preference reversal
phenomenon. American Economic Review 69, 623–38.
[3] Tversky, Amos; Paul Slovic, and Daniel Kahneman. 1990. “The Causes of Preference Reversal,”
Amer. Econ. Rev., 80:1, pp. 204–17.
[4] Gächter, Simon, Henrik Orzen, Elke Renner and Chris Starmer. 2009. “Are Experimental Econo-
mists Prone to Framing Effects? A Natural Field Experiment, Journal of Economic Behaviour and
Organization, 70, 443-446.
[5] Knetsch, Jack L. 1989. “The Endowment Effect and Evidence of Non-reversible Indifference Cur-
ves,” Amer. Econ. Rev., 79, pp. 1277–84.
[6] Neumann, John Von and Oskar Morgenstern. 1947. The Theory of Games and Economic Behaviour.
2nd ed. Princeton: Princeton U. Press.
[7] Allais, Maurice. 1953. “Le Comportement de l’Homme Rationnel devant le Risque: Critique des
76 Guia de Economia Comportamental e Experimental
Postulats et Axiomes de l’Ecole Americaine,” Econometrica, 21, pp. 503–46.
[8] Machina, Mark J. 1982. ‘“Expected Utility’ Theory without the Independence Axiom,” Econometri-
ca, 50, pp. 277–323.
[9] Loomes, Graham and Robert Sugden. 1982. “Regret Theory: An Alternative Theory of Rational
Choice under Uncertainty,” Econ. J., 92, pp. 805–24.
[10] Loomes, Graham and Robert Sugden. 1986. “Disappointment and Dynamic Consistency in Choi-
ce under Uncertainty,” Rev. Econ. Stud., 53:2, pp. 271–82.
[11] Kahneman, Daniel and Amos Tversky. 1979. “Prospect Theory: An Analysis of Decision under
Risk,” Econometrica, 47:2, pp. 263–91.
[12] Starmer, Chris. 2000. “Developments in non-expected utility theory: the hunt for a descriptive
theory of choice under risk”, Journal of Economic Literature, XXXVIII, 332-82.
[13] Tversky, Amos and Daniel Kahneman. 1992. “Advances in Prospect Theory: Cumulative Repre-
sentation of Uncertainty,” J. Risk Uncertainty, 5:4, pp. 297–323.
[14] Schmidt, Ulrich, Chris Starmer and Robert Sugden. 2008. “Third-Generation Prospect Theory”,
Journal of Risk and Uncertainty, 36, 203–223, 2008.
[15] Benartzi, Shlomo and Richard H. Thaler. 1995. “Myopic Loss Aversion and the Equity Premium
Puzzle,” Quart. J. Econ., 110, pp. 73–92.
[16] Cox, James C. and David M. Grether. 1996. “The Preference Reversal Phenomenon: Response
Mode, Markets and Incentives.” Econ. Theory, 7, pp. 381–405.
[17] List, John. 2003. “Does Market Experience Eliminate Market Anomalies?” Quarterly Journal of
Economics, 118:
41-71.
[18] Braga, J., Humphrey, s. J. and Starmer, C., 2009. Market experience eliminates some anoma-
lies--and creates new ones European Economic Review. 53(4), 401-416
[19] Loomes, G., Starmer, C. and Sugden, R., 2010. Preference reversals and disparities between wil-
lingness to pay and willingness to accept in repeated markets Journal of Economic Psychology. VOL
31(NUMBER 3), 374-387
[20] Sugden, R., Mcquillin, B.(2012 How the market responds to dynamically inconsistent preferences
Social Choice and Welfare 38. pp. 617-63
[21] Sugden, R., Mcquillin, B. (2012) Reconciling normative and behavioural economics: The problems
to be solved in Social Choice and Welfare 38. pp. 553-567
[22] Benartzi, Shlomo, and Richard Thaler. 2007. “Heuristics and Biases in Retirement Savings Beha-
vior.” Journal of Economic Perspectives, 21(3): 81-104.