Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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celebração de acordos de cooperação, o trabalho colaborativo em parcerias, as alianças
estratégicas e a atuação em rede são alguns dos mecanismos utilizados pelas empresas
para o desenvolvimento de inovações (Oberg
et Grundström 2009).
A adoção de estratégias deliberadas para influenciar os outros e/ou trabalhar com
pessoas-chave como agentes para atingir objetivos são comportamentos praticados pelos
empreendedores. McClelland (1972) demonstrou a relação de tais comportamentos com
persuasão e poder, com a capacidade de influência do empreendedor para alcançar os
seus próprios objetivos condicionada ao uso de várias estratégias e ações persuasivas
com amigos e pessoas próximas de sua rede de relacionamentos. Miller (2011) ao
revisitar o seu trabalho seminal também destacou a possibilidade de algumas ligações
entre a orientação empreendedora com outras teorias, entre as quais a teoria de redes,
chamando ainda a atenção para algumas questões, como a do equilíbrio entre as relações
com clientes, concorrentes e fornecedores, e a sua influência sobre a orientação
empreendedora, salientando também a necessidade de mais trabalhos que estudem as
ligações entre a orientação empreendedora e as estruturas de rede.
Assim, para Zellweger
et Sieger (2010) um elevado e permanente nível das dimensões
da
orientação empreendedora
não é condição necessária para o sucesso a longo prazo da
empresa familiar. Pelo contrário, a orientação empreendedora é dinâmica e adapta-se ao
longo do tempo. Na mesma linha de raciocínio, Salvato
et al. (2010) concluem que a
empresa familiar precisa de manter constantemente a sua atenção no futuro, mas
respeitando as realizações e sacrifícios feitos pelas gerações anteriores. O impacto dos
fatores internos e externos sobre a
orientação empreendedora
são mais importantes nas
empresas familiares de segunda geração, reduzindo-se à medida que caminham para a
terceira geração e posteriores. Os fatores internos (gestores e investidores não
familiares) ganham destaque na terceira geração e seguintes (Cruz
et Nordqvist (2012).
2.3.2.2 Recursos
A noção do fator família transporta-nos para o seio da família empresária, a qual se
encontra no centro da compreensão do empreendedorismo na empresa familiar. Ora,
sendo aquela um campo social, com as suas estruturas próprias, onde se geram
interações entre os subsistemas que a constituem, emerge daí um sem número de fatores
específicos ligados à lógica de funcionamento de cada família empresária, com as suas
hierarquias, envolvimentos, regras do jogo próprias e modo de organização espeifico
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(Accardo 2006, 68). Por isso, Habbershon
et al. (2010) referem que a teoria dos recursos
(Barney 1986, 1991; Wernerfelt 1984) complementa a orientação empreendedora.
Aquela teoria é a base teórica original do
familiness (Pearson
et al. 2008, 952) e aponta
para a especificidade dos negócios como um conjunto de recursos que podem criar
vantagens competitivas, na medida do valor desses recursos, da sua raridade, da sua
limitação e substituição, o que faz com que o perfil dos recursos de uma dada
organização – o mesmo é dizer, a noção do fator família – conduzirá ao sucesso do seu
desempenho. Este tema foi desenvolvido no ponto 2.2 O fator família.
2.3.3 Criação
de valor transgeracional
O construto potencial transgeracional é complexo e multidimensional, sendo entendido
como a perceção da probabilidade de sucesso da família empresária (Habbershon
et al.
2010, 8). Este sucesso mede-se, em geral, pela criação de valor, independentemente da
sua forma de repartição posterior. Em geral, a existência de vantagem competitiva numa
empresa corresponde à capacidade de criação de valor acima da média da concorrência
(Barney 1991). Essa criação de valor corresponde ao intervalo entre a disposição do
valor a pagar pelo cliente e o custo de oportunidade do fornecedor (Frank 1994, 124).
Este modo de cálculo do valor criado deixa perceber a sua dependência do contexto de
inserção da empresa e das suas relações na cadeia de valor (Porter 1985). Em função das
interações entre clientes e fornecedores, a empresa pode criar mais valor e expandir as
fronteiras do intervalo entre a disposição do valor a pagar e o custo de oportunidade do
fornecedor. O valo criado não é, necessariamente, o valor apropriado pela empresa.
Figura 2.3 – Criação
de valor e riqueza
Enquanto o custo de oportunidade do fornecedor e a disposição do valor a pagar pelo
cliente são os extremos que definem o intervalo de criação de valor, o preço e o custo
definem o intervalo do valor apropriado pela empresa (Figura 2.3). A parte do valor
Valor criado
•
•
•
•
custo de oportunidade
custo
preço
disposição do valor a pagar
excedente do fornecedor
valor apropriado
excedente do cliente