Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
Página 42
tendência para colocar a sua continuidade antes do crescimento, de forma a manter o
status (Gersick
et al. 1997, 38). Assim, a continuidade da empresa familiar é uma
construção multifacetada, que faz sentido na interpretação da empresa familiar
multigeracional (Gioia
et Chittipeddi 1991
; Gioia
et al. 2000
; Pieper
et al. 2015). São as
interações entre os subsistemas família, gestão e propriedade, que conduzem à
aprendizagem, pelo que as pessoas mudam contínuamente, e com elas, a organização a
que pertencem. Logo, nem os membros da família empresária nem a própria família
empresária se podem considerar sistemas estáveis (Gallo
et al. 2009, 31-32). Assim, o
envolvimento da família empresária poderá ter um papel importante no
modo como uma
empresa familiar equilibra as suas ações empreendedoras na procura de sustentabilidade
ao longo das gerações (Goel
et Jones 2016, 95-96):
a)
Através de iniciativas de exploração
de produtos, serviços ou
mercados existentes,
onde a empresa já atua (
exploitation). Só por si, estas ações não são suficientes
para a sobrevivência a longo prazo, pois, o meio envolvente muda e a organização
não pode permanecer estática;
b)
Através da exploração de novas oportunidades de negócio, novos produtos,
serviços e mercados (
exploration). Estas atividades incluem procura, assunção de
risco, descoberta, experimentação e flexibilidade de novas oportunidades, com a
finalidade da reorientação das competências da organização, tendo aquelas como
fonte das vantagens competitivas.
Como se percebe, o êxito do processo de gestão utilizado por uma empresa familiar
assenta na diversidade e multidimensionalidade do envolvimento da família empresária,
sendo por essa razão que a influência desta é percebida como constituindo o oxigénio
que alimenta o fogo da orientação empreendedora dos seus membros (Rogoff
et Heck
2003, 559) e desempenha um papel claro na identificação de novas oportunidades de
negócio, no reconhecimento dessas oportunidades e na consequente decisão de iniciar
novos negócios, bem como no processo de mobilização de recursos para as atividades
empreendedoras. Este conceito de atividade empreendedora é entendido como a
manifestação de um conjunto de práticas executadas por membros de diferentes
gerações da família empresária que convergem para a construção e renovação de
empresas familiares empreendedoras (Habbershon
et al. 2010). Estas práticas são
facilitadas pela pertença a uma família empresária, em cujo seio são formados como
empresários, desde pequenos, educando-os dentro de um sistema de relações sociais
Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
Página 43
vinculadas a negócios que os prepara com vantagem para a sua futura vida profissional,
através de formação nas melhores escolas possíveis. Para além de terem condições para
uma boa preparação, têm também uma forte motivação ideal e simbólica: a
continuidade do êxito do projeto económico da família empresária (Lima 2003, 169).
2.3.1.4.2
Capital social familiar
A ênfase da teoria dos recursos no fator família tem como núcleo essencial o capital
social (Bourdieu 1980a, Portes 1998), enquanto rede de relações duradoura considerada
fundamental, em especial na deteção de oportunidades e criação de novos negócios.
Sorensen
et Bierman (2009, 193) ampliam aquela visão de capital social para as
especificidades da empresa familiar, criando a noção
de capital social familiar, enquanto
conjunção do capital social, do capital humano e do capital financeiro. A sua
manifestação está associada ao facto de os recursos da família empresária ou os seus
ativos (conjunto de direitos) superarem o passivo (conjunto de deveres); são recursos
provindos da família empresária que podem ser disponibilizados à empresa familiar
(Sorenson
et Bierman 2009, 193). Para a noção de capital social familiar são ainda
convocados os conceitos de confiança mútua e infraestrutura moral (Hoffman
et al.
2006,139; Sorenson
et Bierman 2009, 194) e o senso familiar (Ensly
et Pearson 2005,
269). A confiança mútua é desenvolvida e percebida pelas relações entre os membros da
família empresária, dada a experiência de trabalho conjunto
entre a empresa familiar e a
família empresária (Hoffman
et al. 2006, 139), a qual gera cooperação e colaboração, e
facilita a resolução de problemas (Sorenson
et Bierman 2009, 193). A infraestrutura
moral e o senso familiar representam o relacionamento entre membros da família
empresária e a relação destes com a comunidade. Assim, o elemento central parece ser a
confiança, considerada como um meso conceito que permite verificar a integração de
aspetos psicológicos e organizacionais (Eddleston
et al. 2010, 1045).
Sirmon
et Hitt (2003, 345) elegem como os principais recursos que distinguem a
empresa familiar da empresa não familiar: capital humano, capital social, capital de
sobrevivência, capital paciente e estruturas de governo.
Em particular, o capital social, o qual deriva da reciprocidade das relações de confiança
entre os indivíduos e a empresa familiar, facilita as atividades de criação
de valor, sendo
o recurso da família empresária que constitui a distinção do efeito família (Pearson
et
al., 2008, 951); a família empresária funciona como fonte, arquiteto e utilizador do