Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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A sobreposição destas três dimensões permite uma avaliação qualitativa da tipologia do
fator família (distinto ou restrito) e separa as categorias de famílias de acordo com a sua
aptidão para desenvolverem recursos únicos e competências que influenciem diferentes
níveis de desempenho e competitividade. Chrisman
et al. (2003) sublinham que a
criação de riqueza não é necessariamente o único ou o principal objetivo de toda a
empresa familiar (visão mono-objetivo), antes apresenta um complexo sistema de
objetivos económicos e não económicos. Ou seja, os autores deixam perceber que na
tomada de decisão devem ter-se em conta quer motivações económicas quer emocionais
(não económicas), estas últimas ligadas ao reconhecimento social, sentimentos pessoais
ou empatia com outros atores sociais. Esta prossecução dos objetivos não monetários é
conseguida através da perceção de um benefício gerado pelas atividades desenvolvidas
pela empresa familiar que aumente a satisfação de todas as partes interessadas,
independentemente do valor monetário gerado, ou seja, pelo dividendo emocional
(Martínez 2012, 26).
Portanto, ao prosseguir os objetivos não económicos, a empresa familiar pode melhorar
o seu desempenho económico, através dos efeitos de sinergia entre os primeiros e os
segundos. Assim, em relação a este modelo bidimensional, os mesmos autores afirmam
que é correto substituir a criação de riqueza pelo objetivo mais genérico de criação de
valor, o qual corresponde à maximização da função utilidade da família empresária e
inclui a satisfação dos objetivos económicos e emocionais. Böhm-Bawerk (1884), na
teoria do valor, define o bem-estar pela inclusão dos bens materiais e também por
qualquer coisa que o indivíduo considere desejável e valiosa. Obviamente, que esta é
uma apreciação subjetiva e pessoal, que não altera o funcionamento dos mercados, tal
como os conhecemos. Chrisman
et al. (2003, 25) definem a função utilidade da família
empresária como sendo o sistema da visão da coalização familiar que gera distintos
fatores família pela criação de valor intergeracional (Kellermanns
et al. 2016, 42).
2.2.1
A escala F-PEC
Klein
et al. (2005) construíram uma escala de medição da potencial influência da
família empresária sobre a empresa familiar, através das dimensões: poder, experiência
e cultura (F-PEC
scale), a saber:
a)
O poder (P) da família empresária sobre a empresa familiar pode advir da posse
da propriedade (direitos de voto) e da sua influência e participação nos órgãos de
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governo e de direção
da empresa;
b)
A experiência (E) da família empresária refere-se à geração que iniciou a empresa
familiar; pode ser medido pela geração em que a propriedade se encontra, pela
geração que no momento atua na gestão ou está representada na direção/conselho
de administração ou pelo número de membros da família que nela trabalham;
c)
A cultura (C), enquanto traço distintivo que provém da existência do predomínio
de uma cultura própria da família empresária, pode ser percebida pelo grau de
sobreposição entre a cultura dessa família e a cultura da empresa familiar, bem
como pelo grau de compromisso da família empresária com a empresa familiar.
Irava
et Moores (2010), por sua vez, identificam como dimensões do fator família os
recursos humanos (reputação e experiência), recursos organizacionais (tomada de
decisão e aprendizagem) e recursos de relacionamento (redes de contatos)
. Estas redes
duráveis de relações mais ou menos institucionalizadas de conhecimento podem ser
assimiladas ao conceito de capital social (Bourdieu 1980; Portes 1998), proporcionando
benefícios que resultam dos atuais e potenciais recursos colocados à disposição da
empresa familiar. Este capital social parece ser um recurso tácito para a empresa
familiar por ser difícil de imitar, quer pelas empresas familiares concorrentes quer pelas
empresas não familiares, constituindo-se como uma potencial vantagem competitiva
daquelas. No contexto da família empresária este capital social desenvolve-se ao longo
do tempo e de gerações, sendo formado pelos valores e normas da família (Frank
et al.
2010, 121). Ora, supõe-se que o fator família
– nas suas dimensões humana,
organizacional e de relacionamento –, resultará dos efeitos de sinergia de todos os seus
membros, contribuindo, assim, para que o todo seja superior ao somatório das partes
(efeito de sinergia). Isto se existir harmonia e coesão entre os membros do grupo social
que é a família empresária (Ensly
et Pearson 2005, 270); caso contrário, existirão perdas
de eficiência, contribuindo para um empobrecimento da Sociedade onde se insere a
família empresária (D’Allura
et Erez 2009). Logo, o fator família compreende o
conjunto de recursos e capacidades idiossincráticos derivados da interação entre a
família (acervo histórico, tradições e ciclo de vida familiar correlacionado com as
gerações), membros da família (seus interesses individuais, competências intrínsecas e
estágio de vida pessoal em que se encontram os proprietários, os gestores participantes
ou restantes membros da família) e o negócio (ciclo de vida relacionado com o estágio
das empresas, as suas estratégias globais e estruturas de mercado) (Bornholdt 2005, 40).