Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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Capítulo 2. Teoria dos recursos e família empresária
Há quem considere que só existe empresa familiar após uma primeira transmissão do
património, ou seja, da passagem da primeira para a segunda geração (Barach
et
Ganitsky 1995; Gallo 1995; Miller
et al. 2007). Como consequência, só haverá família
empresária quando os seus membros pertençam à segunda geração ou a gerações
posteriores. Esta premissa, que num primeiro momento poderá parecer uma limitação da
perenidade do negócio deverá ser vista, porém, como uma potencial vantagem
competitiva sustentável (Wernerfelt 1984, 1995; Barney 1991), pois, permitirá à família
consciencializar-se, pelo menos no decurso de uma geração, da sua firme intenção de
preservar o negócio na família e “educar” as capacidades empreendedoras dos seus
membros (McEnany
et Strutton 2015; Wyrwich 2015), as quais induzirão ao
empreendedorismo transgeracional (Habbershon
et al. 2010). Como a seguir se explica.
2.1
Teoria dos recursos
A teoria dos recursos da firma –
resource-based view (RBV) – procura explicar
como as
vantagens competitivas obtidas por uma empres familiar derivam de a mesma dispor de
um conjunto único e singular de fatores produtivos, oriundos da família empresária.
2.1.1 Conceito
de recursos e capacidades
Aquele conjunto único e singular de fatores produtivos da família empresária são
referidos como recursos e capacidades, os quais são intangíveis e de difícil definição.
Assim, justifica-se uma tentativa de explicação concisa dos mesmos.
2.1.1.1 Conceito e natureza de recursos
A teoria dos recursos da firma, enquanto modelo teórico, assenta nos pressupostos de
heterogeneidade e da não imitabilidade dos recursos:
a)
Princípio da heterogeneidade. De acordo com Penrose (1959) e Grant (1991), uma
empresa pode ser pensada como um conjunto de recursos produtivos singulares;
logo, diferentes empresas detêm conjuntos diferentes e distintos desses recursos;
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b)
Princípio da inimitabilidade. Alguns daqueles recursos produtivos são difíceis de
imitar (a sua cópia é dispendiosa ou mesmo impossível), por terem uma dimensão
tácita e intangível – cultura organizacional, recursos humanos, criação de
conhecimento e aprendizagem, reputação – não existindo oferta no mercado para
os mesmos poderem ser comprados (Selznick 1957, Grant 1991, Barney 1991).
Logo, a teoria dos recursos descreve a empresa em termos dos meios que a integram.
Em geral, o termo
recurso refere-se aos atributos que aumentam a eficiência e a eficácia
do desempenho (económico, financeiro, social) de uma empresa. Uma disponibilização
generalizada dos recursos no mercado irá neutralizar as potenciais vantagens
competitivas de uma empresa. Então, para que uma empresa tenha um desempenho
elevado e uma vantagem competitiva sustentável (ou seja, inimitável pela concorrência),
é necessário que a mesma disponha de recursos heterogéneos que sejam difíceis de
criar, substituir ou imitar pelas outras empresas concorrentes (Grant 1991).
A natureza dos recursos pode ser tangível ou intangível. Os recursos tangíveis são
constituídos por ativos físicos, financeiros, tecnológicos e organizacionais, que a
empresa possui e que, apesar da sua importância, só por si,
raramente são fonte de
vantagem competitiva, uma vez que podem ser facilmente imitados pela concorrência.
Os recursos intangíveis consistem no conhecimento, aptidões e reputação, orientação
empreendedora (OE) e são, por natureza, difíceis de imitar. Estes recursos, só por si,
não são suficientes para a empresa obter uma vantagem competitiva sustentável ou um
elevado desempenho organizacional (Teece 2007), pelo que as empresas têm de ser
capazes de os transformar em capacidades e, consequentemente, num desempenho
organizacional superior ao normal. Estas empresas que obtêm um desempenho
organizacional superior à concorrência, não o conseguem apenas por deterem mais ou
melhores recursos, mas também devido às suas competências distintivas (aquelas
atividades que uma empresa, em particular, desempenha melhor que qualquer uma das
suas concorrentes), as quais lhe permitem dar uma melhor utilização aos mesmos.
2.1.1.2
Conceito de capacidades
O conceito de capacidades de uma empresa corresponde ao complexo conjunto de
aptidões e de conhecimento acumulado (aprendizagem coletiva) que a empresa detém
no seu seio, os quais asseguram uma melhor coordenação das atividades funcionais da