Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 24 
 
1.4.3 Propriedades universais e caraterísticas próprias da família empresária    
 
O campo social – aqui, a família empresária –, na perspetiva de Bourdieu (1989, 134), 
possui  propriedades  universais  e caraterísticas  próprias.  As  propriedades  universais  do 
campo são o habitus, a estrutura, a doxa – senso comum, e nomos – as leis que regem o 
campo e que regulam a luta de forças existentes.  
A  estrutura  [do  campo]  é  um  estado  da  relação  de  forças  entre  os  agentes  ou  as 
instituições envolvidas na luta, ou, se preferirmos, depende da distribuição de capitais (e 
de  cada  tipo  de  capital)  entre  cada  um  dos  agentes  envolvidos,  o  que  deixa  pressupor 
agentes não iguais. Portanto, as caraterísticas próprias do campo estão ligadas aos tipos 
de  capitais  específicos,  englobando  bens  económicos,  culturais,  sociais  e  simbólicos 
(Thiry-Cherques 2006, 37). Então, para ser um campo com autonomia relativa, a família 
empresária deverá revelar (Accardo 2006, 55-84, 191-215): 
a)
 
Ser um espaço estruturado de posições; 
b)
 
A existência de posições com propriedades independentemente de quem as ocupe; 
c)
 
Agentes dominantes – que tendem a manter o status quo
d)
 
Agentes dominados – tendem a subverter o status quo existente; 
e)
 
Possuir  objetos  de  disputa e  interesses  específicos  que  não  são  percebidos  senão 
por quem faz parte da família empresária; 
f)
 
Agentes  prontos  a  disputar  o  jogo,  dotados  de  habitus,  com  conhecimento  e 
reconhecimento das regras;  
g)
 
Refletir  o  estado  da  distribuição  de  capital  específico  acumulado  que  orientará 
posições futuras; 
h)
 
Deter objetos do campo “legítimos”, que apenas os constituintes do campo sejam 
os únicos capazes de explicitar a razão de ser do objeto e do valor que ele tem.     
 
O  campo  família  empresária,  enquanto  espaço  estruturado  e  hierarquizado,  será  uma 
arena  onde  são  travadas  lutas  pela  conquista  de  posições  e  de  capital.  A  sua  estrutura 
envolve  lutas  e  tensões.  O  capital  específico  do  campo  é  desigualmente  distribuído  e 
acumulado, o que motiva os agentes que procuram a sua posse a elaborar estratégias de 
luta pelo seu interesse próprio. Os agentes que detêm as posições específicas do campo 
tendem a desenvolver estratégias de conservação das mesmas, por oposição aos agentes 
detentores  de  menos  capital,  os  quais  procuram  subverter  a  dominação,  articulando 
estratégias  de  subversão.  Desta  dinâmica  surgem  momentos  de  questionamento  das 


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posições  dos  antigos  agentes  dominantes,  em  que  os  agentes  dominados  procuram 
alterar as posições de poder (Thiry-Cherques 2006, 31). Assim, será construído o campo 
família  empresária  a  partir  de  generalizações  que  vão  sendo  efetuadas  pouco  a  pouco 
(Bourdieu 2008a), através de caraterísticas que lhe são específicas, mas que podem, ao 
mesmo tempo, ser valiosas na análise do funcionamento de outros campos sociais.   
 
1.4.4 Estádios da família empresária 
 
A  classificação  da  empresa  familiar  em  relação  à  geração  que  está  no  seu  controlo  – 
primeira, segunda, terceira ou posteriores – é um critério simples e operacional, pois, a 
geração envolvida é uma variável que mantém estreita relação com outras dimensões da 
empresa,  logo,  com  problemáticas  específicas  (Casillas  et  al.  2005,  12;  Gersick  et  al. 
1997).  Ou  seja,  os  efeitos  da  longevidade  da  família  empresária  fazem-se  sentir  ao 
longo do tempo, com impactos diferentes sobre a mesma, dependendo da fase do ciclo 
de vida em que esta se encontra em relação às gerações a seguir à do fundador.  
O  nível  de envolvimento  de  uma  geração  está  vinculado,  necessariamente,  ao  ciclo  de 
vida  da  empresa,  à  estrutura  de  propriedade,  às  relações  intra  e  interfamiliares,  aos 
sistemas  de  governo  da  família  empresária  e  da  empresa  familiar,  e  ao  tipo  de 
arquitetura  organizacional  adotado.  Estas  variáveis  mudam  à  medida  que  a  família 
empresária e o negócio evoluem (Quadro 1.1).  
 
Quadro 1.1 – Evolução dos tipos de família empresária 
 
 Fonte: Adaptado de Casillas et al. 2005; Gersick et al. 1997. 
 
Em  cada  estádio  do  ciclo  de  vida  os  conflitos  que  surgem  e  as  estratégias  para  a 
resolução  dos  mesmos  são  diferentes.  Neste  trabalho  não  consideramos  como  família 
empresária o primeiro tipo de estádio, pelas razões atrás expostas.  


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O primeiro tipo de estádio – proprietário controlador –, carateriza-se pela confusão entre 
a  propriedade  unipessoal,  em  geral  na  posse  do  fundador  ou  partilhada  com  outros 
membros da família, e cuja gestão é centralizada. As principais preocupações são com a 
proteção  do  cônjuge,  em  caso  de  morte  do  fundador,  a  gerência,  e  tudo  o  que  se 
relaciona com a sucessão e a liderança do negócio. É suposto haver sobreposição entre 
os interesses familiares e empresariais, sem grande formalização organizacional, pois, a 
comunicação é fluida entre os membros da família (Gersick et al. 1997, 32).       
O  segundo  estádio  é  constituído  pela  sociedade  entre  irmãos,  onde  a  posse  da 
propriedade  resulta  da  herança  e  os  acionistas  partilham  os  mesmos  valores  deixados 
pelo  fundador.  A  maior  preocupação  é  manter  o  trabalho  em  equipa  e  a  harmonia 
familiar.  Nesta  etapa  começam  a  diferenciar-se  os  interesses  familiares  dos  interesses 
empresariais,  com  o  controlo  de  gestão  a  poder  estar  nas  mãos  da  família  empresária, 
assente em profissionais externos à mesma (empresa familiar profissionalizada) ou ser 
partilhado  entre  membros  da  família  empresária  e  profissionais  externos  a  esta.  Os 
processos  de  formalização  das  estruturas  organizacionais  e  de  governo  da  família 
empresária  e  da  empresa  familiar  começam  a  ganhar  forma  (Casillas  et  al.  2005,  13; 
Gersick et al. 1997, 42).  
O terceiro estádio ou posteriores é constituído pelo consórcio de primos, com a estrutura 
de  capital a  ganhar complexas configurações  e  surgem  diferentes  tipos  de  acionistas  – 
diferentes ramos da família com valores distintos  –, criando-se um potencial  ambiente 
repleto  de  tensões.  É  neste  estádio  que  se  torna  imprescindível  formalizar  órgãos  e 
instrumentos  de  governo  da  família  empresária  e  da  empresa  familiar  adequados  para 
evitar o fim desta (Casillas et al. 2005, 14; 
Gersick et al. 1997, 48
). 
Quando o controlo 
sobre  a  empresa  familiar  vem  sendo  exercido  por  mais  de  três  gerações  da  mesma 
família,  estamos  perante  uma  dinastia  (Landes  2008,  xiv).  Ou  perante  uma  empresa 
familiar complexa – uma empresa com várias gerações e de propriedade de primos, que 
atingiu um estágio maduro de desenvolvimento (Gersick et al. 1997, 183).
  
 
 
 
 
 
 
 


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