Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 15 
 
Para  conseguir  vencer  aqueles  desafios  a  empresa  familiar  deve  ser  capaz  de  explorar 
adequadamente os seus fatores críticos de sucesso que podem sintetizar-se na sua visão 
e  planificação  estratégica  de  longo  prazo,  a  agilidade  e  a  flexibilidade  que  outorga  a 
concentração  da  propriedade,  a  estabilidade  dos  princípios  básicos  e  as  linhas 
estratégicas  fundamentais,  o  desenvolvimento  da  responsabilidade  social,  a  qualidade 
dos bens e serviços produzidos e políticas de recursos humanos mais personalizadas.  
O  núcleo  da  problemática  da  empresa  familiar  parece  situar-se,  portanto,  no  facto  de 
nesta,  as  arenas  –  empresa  e  família  –  se  confundirem,  entrelaçarem  e  interferirem 
diariamente entre si (Floriani 2012, 60). Os estudos empíricos conhecidos têm utilizado, 
principalmente,  a  teoria  da  agência  e  a  teoria  baseada  nos  recursos  (Chrisman  et  al., 
2005; D’Allura et Erez, 2009), as quais não consideram as razões subjetivas de como as 
famílias  empresárias  influenciam  o  desempenho  organizacional  da  empresa  familiar, 
pois, só consideram as motivações de índole económica (D’Allura et Erez 2009, 21).        
De referir que no início do Séc. XXI parece ter começado a ganhar forma um construto 
alternativo ao de empresa familiar: a empresa patrimonial. Este novo termo refere-se às 
empresas  cuja  gestão  efetiva  detém  o  controlo  da  propriedade,  compreendendo  a 
empresa  familiar  e  também  outros  tipos  de  sociedades.  Esta  forma  de  sociedade 
carateriza-se  por  uma  gestão  diferente,  orientada  mais  pela  vontade  de  perenizar  a 
empresa  do  que  a  de  remunerar  o  capital  financeiro.  A  noção  de  gestão  efetiva,  nesta 
aceção, é entendida como sendo constituída pelas pessoas que detêm o poder de decidir 
ou  controlar  as  decisões  estratégicas  a  curto,  médio  e  longo  prazos.  A  vantagem  da 
denominação  empresa  patrimonial  é  que  esta  está  mais  próxima  da  realidade,  pois, 
comporta três categorias (Gattaz 2001):  
a) A empresa familiar, na qual uma parte significativa do capital é detida por pessoas 
que detêm algum grau de parentesco;  
b) As empresas em nome individual ainda detidas pelo próprio fundador;  
c)  As  empresas  de  subscrição  pública,  cujo  capital  se  encontra  na  posse  de  pessoas 
que podem não ter qualquer ligação de parentesco entre si. 
 
 
1.3 Família(s) 
 
A família contemporânea evoluiu (Giddens 2013, 373). Saiu dos seus limites biológicos 
e assumiu outras formas de relacionamento, por exemplo, os oriundos do âmbito social, 
como  a  adoção  e  o  parentesco  fictício,  podendo  adotar-se  várias  classificações  das 


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Jorge Rodrigues  
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famílias  (Giddens  2013,  377),  tomando  como  critério,  por  exemplo,  a  linha  de 
transmissão  do  nome  e  da  herança  –  família  matrilinear  ou  família  patrilinear: 
organização  de  família  na  qual  o  papel  de  liderança  e  poder  é  exercido  pela  mulher  e 
especialmente pelas mães de uma comunidade. Nesse tipo de organização a família tem 
como base a mulher, mãe, filha, sendo o homem que deixa a sua casa, abandona os seus 
laços familiares e vai morar com a família da esposa e adequar-se ao seu estilo de vida. 
Neste âmbito, o antónimo de matrilinear é patrilinear. 
  
Hoje,  contrapõe-se  aos  tipos  tradicionais  a  família  nuclear,  composta  de  pai,  mãe  e 
descendência  comum,  que  contrasta  com  a  família  extensa.  Contudo,  essa  família 
nuclear,  apesar  de  liberta  de  algumas  das  funções  outrora  assumidas  pela  família 
tradicional  e  extensa  (Giddens  2013,  371)  é  ainda  a  grande  responsável  pela 
socialização  dos  filhos  e  pela  estabilidade  emocional  e  mental  das  personalidades 
adultas. A família parece ser, assim, um mero relacionamento de indivíduos que adota 
um sistema de papéis, onde os papéis idênticos podem ser desempenhados por diversos 
indíviduos ou distribuídos entre eles. Suge assim a família composta, cuja caraterística 
principal  é  abrigar  sobre  o  mesmo  tecto  várias  famílias  nucleares.  Ou  a  família 
complexa, que se identifica pelo facto de os membros mais jovens trazerem as esposas 
para debaixo do tecto paterno (Floriani 2012, 40). Neste último contexto, introduzem-se 
na  família  membros  que  biologicamente  dela  não  fazem  parte,  mas  que  detêm  igual 
poder  hereditário.  Assim,  a  tendência  principal  das  sociedades  modernas  parece  ser  a 
consolidação  da  família  nuclear,  cujos  traços  preponderantes  são  (Floriani  2012,  41; 
Giddens 2013, 376-377):  
a) A livre escolha dos companheiros no casamento;  
b) Maior número de divórcios;  
c) Maior mobilidade residencial;  
d) Enfraquecimento dos laços de parentesco;  
e) Emancipação da mulher, por via da sua entrada no mercado de trabalho;  
f) Perda do sentido de responsabilidade dos filhos em relação aos pais e avós.  
 
Este  conceito  de  família  opõe-se  ao  conceito  tradicional  assente  na  continuidade  da 
família através do nome, da profissão e da herança, com base numa forte resistência às 
mudanças,  alterando  profundamente  o  processo  sucessório  na  mesma  ou  na  condução 
do património legado (Floriani 2012, 41).     
 


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