Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 17 
 
1.4 Família empresária 
 
O  processo  de  transformação  de  uma  família  comum  para  uma  família  empresária  é 
determinante para o sucesso e continuidade da própria família e o património herdado, 
sendo  difícil  perceber  como  esta  temática,  até  agora,  não  mereceu  muita  atenção  de 
historiadores, profissionais ou académicos ligados ao mundo empresarial (Bernhoeft  et 
Gallo  2003,  xviii,  6;  Casillas  et  al.  2005,  1),  apesar  de  a  família  empresária  surgir  na 
História  praticamente  com  as  primeiras  estruturas  sociais,  embora  ainda  toscas, 
situando-se, portanto, no primeiro capítulo da vida do homem civilizado (Floriani 2012, 
57).  Este  autor  argumenta  que  a  família  empresária  nasceu  de  uma  necessidade  de 
subsistência  e  não  por  qualquer  necessidade  económica  ou  financeira.  No  início  da 
humanidade  os  artesãos  –  o  artesanato  era  a  forma  de  trabalho  mais  habitual  entre  os 
povos  primitivos  –  desenvolviam  as  suas  aptidões  e  tornavam-se  especialistas  em 
desenvolver algumas tarefas que lhes possibilitavam a troca dos bens por si produzidos 
por outros de que tivessem necessidade, como alimento, vestuário ou calçado  (Floriani 
2012, 57-58). Por isso, raramente é adequado falar sobre família empresária sem levar 
em conta o seu estágio de desenvolvimento (Gersick et al. 1997, 287).         
O  construto  empresa  familiar,  como  vimos  antes,  poderá  dar  origem  a  dois  conceitos 
diferentes: a empresa familiar e a família empresária. Assim:  
a)
 
O  conceito  empresa  familiar  é  utilizado  quando  se  pretende  destacar  a  empresa 
em si mesmo, enquanto organização, cuja propriedade do capital é detida por uma 
ou  mais  famílias,  que  determinam  a  orientação  estratégica  da  mesma  e  podem, 
inclusive, liderar os seus órgãos de governo e de direção (Casillas et al. 2005, 71).  
b)
 
O  conceito  de  família  empresária  utiliza-se  quando  se  pretendem  destacar  os 
aspetos que estão ligados à instituição familiar enquanto conjunto de pessoas que, 
além de partilharem um parentesco familiar, formal ou informal,
 
detêm, controlam 
e  ou  dirigem  um  determinado  negócio,  património  ou  organização  empresarial 
(Casillas  et  al.  2005,  71).  Este  conceito  realça  o  nível  organizacional  do 
empreendedorismo e considera-o numa dimensão mais coletiva do que individual 
(Fayolle et Bégin 2009, 19).  
 
O  mesmo  é  dizer  que  usamos  o  conceito  de  família  empresária  para  nos  referirmos  à 
família como uma instituição ou estrutura social (Nordqvist et Melin 2010, 214), a qual 
resulta  da  sobreposição  dos  construtos  de  família  alargada,  de  empresa  familiar  e  da 


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Jorge Rodrigues  
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capacidade  empreendedora  (Randerson  et  al.  2015,  144).  Os  dois  primeiros
 
conceitos 
são,  por  vezes,  utilizados  indistintamente,  ainda  que  possuam  conteúdo  bem  definido. 
Contudo,  se  utilizados  no  seu  contexto,  poderão  ajudar  a  esclarecer  o  seu  âmbito. 
Assim,  por  exemplo,  se  estivermos  a  tratar  de  um  assunto  sobre  a  incorporação  de 
administradores externos à família no conselho de administração da empresa, tratar-se-
á,  muito  provavelmente,  de  um  assunto  típico  da  empresa  familiar.  Por  outro  lado,  se 
estivermos  a  discutir  qual  deverá  ser  a  orientação  a  dar  à  educação  dos  filhos  do 
empresário  para  que  possam  assumir  futuras  responsabilidades  na  empresa  da  família, 
muito provavelmente, estamos a tratar de uma questão do âmbito da família empresária.  
 
1.4.1 O campo família empresária  
 
A  sociologia  preocupa-se  em compreender  factos  e  relações  nem  sempre  explícitas  na 
sociedade,  através  do  questionamento  de  assuntos  que  aparentam  normalidade.  Em 
resultado  disso  descobre  o  arbitrário,  a  contingência,  a  necessidade,  a  coação  social 
(Bourdieu 1990, 27), enfim, lutas por posições nos diferentes campos sociais ou outros 
aspetos ocultos ou pouco revelados do espaço social que não eram esperados. 
Este  raciocínio  parece  inserir-se  na  ideia  de  que  toda  a  teoria  contém,  pelo  menos  de 
forma  implícita,  uma  perceção  do  mundo  social,  a  qual  se  organiza  segundo  as 
oposições  muito  análogas  às  existentes  no  mundo  natural  (Bourdieu  2008a,  86).  O 
mesmo é dizer que as diferentes teorias que procuram explicar o mundo social refletem 
formas de perceção desta realidade conforme as estruturas mentais dos investigadores; 
logo, não são neutras. Contudo, devemos pensar sempre as diferentes contribuições dos 
autores, os seus métodos e as suas ideias, como pontos de referência. Assim, perante a 
dimensão  infinita  da  realidade  social,  aceita-se  que  um  autor,  só  por  si,  não  consiga 
estabelecer  um  quadro  de  raciocínio  exaustivo  e  definitivo  sobre  a  mesma.  Logo,  as 
contribuições científicas são parciais e os conceitos provisórios, pois a existência social 
não consegue ser explicada na sua plenitude por modelos, por mais sofisticados que eles 
sejam. Neste contexto, o campo social pode considerar-se quer um “campo de forças”, 
por  introduzir  constrangimentos  aos  agentes  que  nele  actuam,  quer  um  “campo  de 
lutas”,  no  qual  os  agentes  agem  de  acordo  com  o  seu  posicionamento,  mantendo  ou 
modificando a sua estrutura (Bourdieu 2008b).  
Aceite o desafio de “por em jogo as coisas teóricas” (Bourdieu 1989, 20), o que leva a 
operar  com  os  conceitos,  usando-os  como  ferramentas  na  construção  dos  fenómenos 


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