Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
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2.3 Empreendedorismo transgeracional
A orientação empreendedora, como fonte de influência do potencial transgeracional, é
percecionada como uma abordagem que procura captar a tendência de as famílias darem
continuidade às empresas familiares e tem diferentes modos de mensuração das suas
categorias específicas (
Cruz et Nordqvist 2012; Zellweger et Sieger 2012; Sciascia et al.
2013).
As famílias empresárias não são entidades homogéneas; antes consistem em
diferentes tipos (Sharma 2004, Chrisman et al. 2005) que interagem com os seus
próprios negócios, a família e os seus membros individuais (Habbershon et Williams
1999). Essas interações criam condições sistémicas únicas, as quais podem potenciar ou
diminuir o impacto das vantagens competitivas no desempenho do sistema social que é
a empresa familiar (Habbershon et al. 2003), o que levou Habbershon et al. (2010, 1) a
cunharem aquelas interações como empreendedorismo transgeracional – o processo
através do qual a família empresária utiliza e desenvolve o seu espírito empreendedor
para influenciar a utilização de recursos e a criação de capacidades para gerar criação de
valor económico, financeiro e social, através de sucessivas gerações. É por isso que o
desempenho da empresa familiar depende do fator família, o qual se refere ao conjunto
idiossincrático de recursos e capacidades que resultam daquele sistema particular de
interações (Marchisio 2010, 352).
Fonte: Adaptado de Ireland et al. (2003) et Zellwegewer et Sieger (2012).
Figura 2.2 – Potencial transgeracional e criação de valor
O potencial transgeracional é a probabilidade de sucesso através das gerações da família
empreendedora (Habbershon et al. 2010, 8) e conduz à criação de valor transgeracional
(Figura 2.2). Para captar a maior ou menor importância dos recursos, aquele modelo é
influenciado por dois subsistemas de fatores contextuais (Habbershon et al. 2010):
Setor económico
Estádio do ciclo de
vida da família
Orientação empreendedora
(atitudes)
Criação de valor
transgeracional
Familiness
(recursos)
Meio envolvente
Envolvimento
da família
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a)
Fatores de contexto externo, os quais incluem o setor económico, o meio
envolvente, o estádio do ciclo de vida da família empresária, o envolvimento
desta na gestão do património e sua governabilidade familiar;
b)
Fatores de contexto interno, que compreendem a orientação empreendedora
(atitudes) e o fator família ( familiness – recursos).
De referir que a noção de empreendedorismo transgeracional tem sofrido metamorfoses
ao longo do tempo, convergindo para a noção de criação de valor transgeracional
(Zellweger et Sieger 2012, 74).
2.3.1 Fatores de contexto externo
Os fatores de contexto externo exercem a sua influência de modo indireto sobre a
empresa familiar e referem-se ao setor económico, ao estádio do ciclo de vida da família
empresária, ao meio envolvente e ao envolvimento daquela família na gestão do
património e sua governabilidade familiar.
2.3.1.1 Setor económico
Um setor económico, por definição, é constituído pelo conjunto de empresas que
disponibilizam produtos, bens ou serviços que são susbstitutos próximos; essas
empresas influenciam-se umas às outras, devido às diferentes estratégias utilizadas, com
a finalidade de prosseguirem os seus objetivos próprios (Hitt et al. 2008, 47). Estas
estratégias são concebidas, em parte, devido às caraterísticas de cada setor económico,
podendo a intensidade competitiva e o potencial de rendibilidade destes ser analisados
através do modelo das cinco forças – ameaça de novos entrantes, poder de negociação
dos fornecedores, poder de negociação dos clientes, ameaça de produtos substitutos,
rivalidade interna do setor (Porter 1980). Cada setor é caraterizado pela sua estrutura,
pelo comportamento das empresas que o constituem e por uma série de indicadores que
medem o desempenho do mercado, pois, a estrutura da indústria influencia o
comportamento das empresas, e este, por sua vez, influencia o seu próprio desempenho
e o do setor (Jacquemin, 1979; Cabral, 1994).
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2.3.1.2 Estádio do ciclo de vida da família empresária
O empreendedorismo transgeracional é percebido como sendo a aptidão para criar valor
ao longo das gerações, através de um comportamento empreendedor (Habbershon et
Pistrui 2002), por isso, as famílias empresárias necessitam de ter uma orientação
empreendedora para o seu negócio (Cruz et Nordqvist 2012, 33). Então, o nível de
envolvimento dos membros da família empresária influencia o relacionamento entre as
dimensões da orientação empreendedora e o desempenho da empresa familiar (Casillas
et Moreno, 2010; Cruz et Nordqvist 2012).
O estádio de desenvolvimento da família empresária – apesar de não considerarmos
nesta dissertação o estádio do proprietário controlador como família empresária –, tem
sido reconhecido como uma variável que influencia a orientação empreendedora, com
autores a sugerirem que a mesma é maior na primeira geração e que diminui através das
sucessivas gerações (Cruz et Nordqvist 2012 36).
No primeiro estádio, o comportamento da empresa familiar é influenciado pelo
empreendedor (Gersick et al, 1997). Esta influência está associada à sua atitude
empreendedora (Miller 1983). Quando a empresa familiar é gerida pelo fundador, este
detém uma posição central na organização, o que lhe garante o poder suficiente para
conduzir as atividades do negócio de acordo com a sua própria visão. Logo, a empresa
familiar no primeiro estádio dispõe de uma maior liberdade de ação, devido ao poder e
legitimidade concentrados na figura do empreendedor e numa estrutura organizacional
centralizada, onde a tomada de decisão é rápida (Chrisman et al. 2003). Com o passar
do tempo a influência do fundador diminui e cresce o nível de formalização da
estrutura, com a consequente perda de capacidade de inovação, da assunção de risco, a
baixa de proatividade e do comportamento empreendedor (Zhara 2005).
Na segunda geração – sociedade de irmãos – a empresa familiar é guiada por uma
abordagem virada para o exterior, onde os sinais do meio envolvente são mais
importantes que no estádio anterior, onde predominava a liderança do fundador (Cruz et
Nordqvist 2012, 36). A dinâmica do meio envolvente cria mais oportunidades, as quais
constituem um desafio para a nova geração.
A empres familiar controlada pela terceira geração e seguintes é socialmente mais
complexa e mais influenciada por tensões políticas e de poder entre os diferentes ramos
da família empresária. Esta situação poderá levar a uma inércia que restrinja a
orientação empreendedora, caso em que a presença de gestores profissionais pode
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