Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
Página 59
posteriores (Cuche 2016, 95-96). O
habitus não é um sistema de mecanismos rígidos
que de modo mecânico determina as representações e ações dos indivíduos e que
assegure a reprodução social pura e simples. As condições sociais do momento não
explicam totalmente o
habitus, o qual é suscetível de modificações. A trajetória social
do grupo ou do indivíduo, ou seja, a experiência de mobilidade social (promoção,
despromoção ou estagnação) acumulada por várias gerações e interiorizada, deverá ser
tida em conta para analisar as modificações do
habitus (Cuche 2016, 96).
3.2.3 Capital simbólico
Devido à especificidade das caraterísticas próprias de cada campo há questões
singulares que se podem reagrupar nas seguintes categorias de recursos:
a)
Recursos de natureza económica, sendo de destacar o dinheiro, devido ao seu
papel de equivalente universal entre bens ou mercadorias;
b)
Recursos de natureza cultural, de entre os quais assume uma importância cada vez
mais crescente, os diplomas de educação escolar;
c)
Recursos de natureza relacional, com base em redes de relações com outros
agentes que detêm certos poderes e estão dispostos a disponibilizá-los ao agente
que lhos solicite. São exemplo, os diferentes grupos sociais de pertença do agente
(família, círculo de amigos, credo religioso, filosofia política, associação cultural
ou desportiva, entre outras), como as redes de troca e de circulação de bens das
quais cada agente extrai um benefício proporcional à sua contribuição (em
palavras, em ações, em dinheiro, em tempo, ou outros).
Cada agente sabe, por experiência própria, que o facto de deter pessoalmente bens
económicos, culturais ou relacionamentos, é uma fonte de poder, em relação àqueles
que detêm menos desses recursos ou que deles são desprovidos. Ou seja, quanto maior
for a quantidade daqueles recursos que o agente detiver, maior será a sua posição de
força num campo particular. A apropriação deste tipo de recursos, num campo
particular, por um agente, são as condições de entrada no jogo, na procura de realização
de rendimentos pelo agente. Toda a participação no jogo de um campo social pressupõe
um custo, um direito de entrada – dinheiro, formação, títulos, patrocínios – mais ou
menos oneroso. Ou seja, cada agente procura efetuar o investimento mais rentável num
campo específico, acrescentando-lhe recursos que irão contribuir para a realização de
Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge Rodrigues
Página 60
mais-valias nesse campo, globalmente. Este argumento permite classificar aquelas
diferentes categorias de recursos como capital – o mesmo que cabedal ou conjunto de
bens (Thiry-Cherques 2006, 38) – adquirindo outros significados que o conduzem às
conceções de capital económico, capital cultural e capital social ou redes de relações
mobilizáveis. Ainda que sejam distintos por natureza, os tipos de capital mantêm entre
si uma relação muito estreita, não cessando de se transformarem uns nos outros
(Accardo 2006, 77-78). O conceito de capital simbólico, intrínsecamente dependente do
campo, foi reintroduzido por Bourdieu (1984, 1989) a partir da noção económica de
capital, com base em termos como acumulação, investimentos e lucros. Então:
a)
O capital económico compreende a riqueza material – os recursos económicos e
os fatores de produção,
como rendimento, património, bens e trabalho;
b)
O capital cultural está ligado ao conhecimento, aptidões e informações detidas,
podendo assumir três formas (Bourdieu 1979):
i.
Em estado incorporado no indivíduo, como uma disposição durável, tais
como talentos, forma de falar em público e domínio de idiomas;
ii.
Em estado objetivo, quando se possuem bens culturais,
como obras de arte;
iii.
Em estado institucionalizado, quando o mesmo é sancionado por instituições,
como graus e títulos académicos;
c)
O capital social, por sua vez, é formado pela rede de relações de conhecimento
mútuo, como as redes de contatos e os acessos sociais que se possui, como
colegas e amigos pessoais (Bourdieu 1980a, 2).
O capital simbólico é a síntese dos outros capitais; é um bem pessoal e subjetivo,
valorizado em determinado campo social (Bourdieu 1989, 143), que só existe pelo
reconhecimento que os outros lhe atribuem, devido ao seu valor social (Bourdieu 1998,
217). Ou seja, socialmente falando, uma coisa existe desde que se acredite que ela
existe; de modo contrário, essa coisa não existirá se não for reconhecida a sua realidade
(Accardo 2006, 101). De acordo com esta permissa, o capital simbólico é um crédito
concedido ao agente, por outros agentes, que lhe reconhecem certas caraterísticas que
valorizam aqueles capitais. O agente que dispõe deste crédito consentido pelos outros
agentes, encontra-se ao mesmo nível destes, ou seja, na mesma posição de força, sejam
quais forem as caraterísticas intrínsecas que possuir. Por isso, ele está em posição de
exercer o poder sobre os seus pares, os quais, por antecipação, lhe reconhecem a
autoridade necessária (Accardo 2006, 102). Aquelas formas de capital são convertíveis