Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária



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Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
Página 63 
 
3.3.4 Illusio 
 
Quanto mais um agente investe, mais joga e mais se prende ao jogo, com o intuito de o 
transformar numa fonte de proveitos diversos (Accardo 2006, 193). Por isso, é possível 
relacionar a aceção de illusio ou interesse pelo jogo (Bourdieu 1998, 82, 185-187) com 
as  motivações  dos  agentes  num  espaço  social  determinado,  com  o  objetivo  de 
acumularem  mais  capital  simbólico  e,  assim,  obterem mais  poder  dentro  do campo.  A 
teoria  de  campo  de  Bourdieu  (1989),  com  todos  os  conceitos  relacionados,  coloca  a 
ênfase  no  caráter  simbólico  do  poder,  que  reúne  tanto  um  caráter  de  invisibilidade 
quanto  uma  conivência  por  parte  dos  agentes  que  são  dominados.  A  conivência  por 
parte dos agentes dominados é uma conivência implícita, ou seja, trata-se de uma forma 
de  poder  cujos  agentes  dominados  não  querem  sequer  reconhecer-se  na  condição  de 
dominados.  Porém,  ao  mesmo  tempo  reconhecem  tal  poder  como  legítimo,  o  que  não 
necessariamente  ocorre  de  forma  consciente,  pois  há  um  jogo  simbólico  envolvido. 
Portanto, o illusio reproduz as ilusões necessárias ao funcionamento e à manutenção do 
sistema:  as  crenças  partilhadas  por  um  campo  social  (Thiry-Cherques  2006,  38).  O 
poder precisa de ser reconhecido pelos agentes dominados, mas isso acontece de forma 
implícita,  com  base  no  reconhecimento  do  valor  simbólico  dos  capitais  detidos  por 
aqueles que o exercem (Bourdieu 1993, 74).  
 
3.4 Habitus e interação      
 
A  combinação  de  diferentes  caraterísticas  gera  interações  que,  por  sua  vez,  irão  gerar 
caraterísticas específicas de um campo determinado.  
 
3.4.1 Habitus e orientação empreendedora 
 
É  na  ideia  de  influência  das  trajetórias  de  vida  e  da  sua  associação  a  campos  sociais 
determinados  que  surge  a  orientação  empreendedora  do  agente,  a  qual  se  refere  aos 
processos, práticas e atividades de tomada de decisão que conduzem a novos negócios; 
ela surge de uma escolha estratégica, a qual crê que as oportunidades de novos negócios 
podem  ser  realizadas  com  sucesso  de  forma  intencional.  Assim,  a  orientação  empre-
endedora envolve as intenções e ações  deliberadas  de agentes chave funcionando num 
processo dinâmico e gerador de criação de novos negócios (Lumpkin et Dess 1996).  


Mestrado em Sociologia                         Relações de poder no campo família empresária
 
 
Jorge Rodrigues  
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É  por  isso  que  Stevenson  et  Gumpert  (1985)  consideram  que  os  empreendedores  são 
indivíduos  orientados  para  a  ação,  enérgicos,  tolerantes  a  ambiguidades  e  auto-
confiantes,  com  um  forte  controlo  pessoal  e  forte  necessidade  por  auto-realização.  A 
motivação parece, assim, surgir como crucial nesta definição. Logo, parece consensual 
que  a  orientação  empreendedora  se  possa  operacionalizar  através  de  cinco  dimensões 
(Miller  1983,  Lumpkin  et  Dess  1996):  inovação,  pró-atividade,  assunção  do  risco, 
autonomia e agressividade competitiva. A inovação refere-se à predisposição em apoiar 
a  criatividade  e a  experimentação  no  desenvolvimento  de  novos  produtos,  serviços  ou 
ideias,  pela  adoção  de  novas  tecnologias,  processos  ou  procedimentos  internos 
(Lumpkin et Dess 1996). A pró-atividade é a capacidade das organizações anteciparem 
e  desenvolverem  por  si  próprias  novas  oportunidades  de  mercado  e  participarem  em 
mercados emergentes. A assunção do risco está implícita na decisão de atribuir grande 
parte dos recursos a novos projetos para o desenvolvimento de oportunidades (Lumpkin 
et  Dess  1996).  Esta  dimensão  da  orientação  empreendedora  captura  o  grau  de  risco 
refletido  em  várias  decisões  da  organização  na  afetação  de  recursos,  bem  como  na 
escolha  de  produtos,  serviços  e  mercados  (Venkatraman  1989).  A  autonomia  é  a 
liberdade para agir, independentemente de se levar ou não por diante uma ideia ou uma 
visão. No contexto das organizações, ela refere-se às ações tomadas sem qualquer tipo 
de  pressão.  A  agressividade  competitiva  refere-se  à  tendência  ou  propensão  de  uma 
organização  em  responder,  direta  e  intensamente,  às  ações  da  concorrência,  para 
alcançar  melhores  posições  no  mercado,  visando  superar  essa  concorrência  (Chen  et 
Hambrick 1995). Portanto, o conceito de habitus é importante para compreender a pré-
disposição  dos  membros  da  família  empresária  para  participarem  nas  lutas  por  uma 
posição pelo exercício do poder entre detentores de poderes diferentes (competição por 
uma posição no seio da família empresária), a partir do capital simbólico de cada um. 
Este  manifesta-se,  por  exemplo,  através  da  pertença  a  redes  relacionais  externas,  pela 
formação académica obtida na mesma escola, pela pertença ao mesmo grupo social ou 
pela confiança transmitida por uma família dominante.  
Assim, um membro da família empresária – independentemente de pertencer ou não ao 
clã  familiar  –  que  detenha  alguma  orientação  empreendedora  intrínseca,  deterá  uma 
posição  específica  no  seio  da  família  empresária,  que  lhe  mudará  o  seu  conjunto  de 
opções  em  relação  aos  outros  membros  dessa  família;  ao  mesmo  tempo,  aquela 
orientação  empreendedora  intrínseca  e  individual,  proporciona  à  família  empresária 
como um todo, certos comportamentos para com a empresa ou empresas familiares.  


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