Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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umas nas outras, sob certas condições.
A posição relativa na estrutura do campo é determinada pelo volume (quantidade)
e pela
qualidade do capital que o agente detém (Bourdieu 1971). O poder simbólico está
associado quer à conjugação dos três capitais quer à preponderância de um deles em
determinado indivíduo. Se um campo social reconhece determinado capital simbólico,
quanto mais capital desse tipo um indivíduo detiver, mais reconhecimento terá nesse
campo social. Neste sentido, os capitais tornam-se tipos específicos de poder que são
acumulados de formas não uniformes pelos indivíduos, em campos sociais bem
determinados (Bourdieu 1989; 1993). E, nesses campos sociais, os atores e instituições
enfrentam-se de acordo com a posição que ocupam, a qual está diretamente relacionada
com a quantidade acumulada de capitais simbólicos (Bourdieu 1989, 135). Muitas vezes
desconhecem-se as teias de relações que marcam a hierarquia de poder, os poderes não
formais e a estrutura social na família empresária. Logo, o capital simbólico refere-se às
diferenças de poder existentes na sociedade, com as quais algumas pessoas ou
instituições podem persuadir os demais das suas ideias.
3.3 Propriedades complementares do
campo
Para complemento das caraterísticas principais apresentadas, segue-se a descrição das
propriedades complementares do campo social –
Doxa,
nomos,
hexis e
illusio.
3.3.1
Doxa
O conceito de
doxa está associado à visão dos agentes ou grupos com afinidades que
dominam o campo social – pressupostos cognitivos e de avaliação aceites e
reconhecidos pelos agentes do campo, fortemente localizado, algo que representa o
senso comum, a opinião consensual, as leis que o regem e que regulam a luta pela
dominação do campo. É um juízo subjetivo que tem valor apenas momentâneo,
por isso,
é um juízo que não poderá ser referência ética. A
doxa substitui o que a teoria marxista
chama de ideologia ou falsa consciência, sendo um conceito relativamente mais claro e
preciso (Thiry-Cherques 2006, 37). A
doxa é tudo aquilo que constitui o próprio campo,
o jogo, os objetos de disputas, em que todos os agentes estão de acordo e que contempla
tudo o que é admitido como
sendo assim mesmo: os sistemas de classificação, o que é
interessante ou não, o que é procurado ou não (Bourdieu 1993).
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3.3.2
Nomos
O conceito
nomos congrega as leis gerais, invariantes, de funcionamento do campo – ou
seja, são as leis fundamentais de cada campo, pelo que todo o campo social, como
produto histórico, tem um
nomos distinto (Bourdieu 1998, 82). Esta lei fundamental é
irredutível e incomensurável perante qualquer outra, o que é particularmente visível no
caso do campo artístico, instituído no século XIX, o
qual tinha como nomos: “a arte pela
arte
” que é a inversão do campo económico “os negócios são os negócios”
(Bourdieu
1998, 82). Ou seja, uma vez que se aceitou um certo ponto de vista constitutivo de um
campo social, já não se pode assumir sobre ele um ponto de vista que lhe seja exterior;
isto é, o
nomos não tem antítese! Portanto, cada campo fixa os agentes nas suas próprias
crenças do jogo, tornando-os insignificantes para qualquer outro jogo. Quer a
doxa quer
o
nomos são aceites e legitimados pelo campo social (Thiry-Cherques 2006, 37).
3.3.3
Hexis
As disposições duráveis que caraterizam o
habitus são também as disposições corporais
que constituem o
hexis corporal (a palavra latina
habitus é a tradução do grego
hexis –
Cuche 2016, 96), as quais constituem de tal modo uma relação única com o corpo que
confere a este um estilo particular para cada grupo específico (Cuche 2016, 96). Ou
seja, o mundo social está no corpo sob a forma de
hexis (Bourdieu 1998, 134). Então, o
conceito de
hexis está relacionado com o corpo em si, significando posturas e gestos
físicos e corpóreos dos agentes que participam num campo ou espaço social específico.
Assim, é possível dizer que a noção de
hexis indica o corpo socializado (Bourdieu,
1989), uma espécie de dimensão que possibilita internalizar consequências de práticas
sociais e da sua exteriorização, por meio do jeito de falar, de andar, de gesticular e de
olhar das pessoas; portanto, é o
habitus feito corpo (Bourdieu 1998, 125-127). O
hexis
corporal é muito mais que um estilo próprio; é uma conceção do mundo social
incorporado, uma moral incorporada. Cada um, através dos seus gestos e posturas,
revela, sem dar conta disso, e sem que os outros tenham, necessariamente, também
consciência disso, o
habitus profundo que neles está incorporado (Cuche 2016, 96).
Para o
hexis corporal as caraterísticas sociais são, então, completamente naturais; o que
se observa e aparece veiculado como
natural mostra, na realidade, o
habitus.
É esta naturalidade do social que mais eficazmente preserva a perenidade do
habitus.