Quarta-feira, 7 de novembro de 2012



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A era das neurociências
A influência das neurociências sobre a psiquiatria mineira tardou mas aconteceu. Suas primeiras manifestações em Minas Gerais datam do fim da década de 1970. Alguns profissionais já utilizavam em suas práticas clínicas conhecimentos advindos da neurofisiologia que se desenvolvera muito nas décadas de 1960/70. No início da década de 1980, surgiu e começou a ser divulgada no Brasil a psiquiatria biológica, decorrente dos avanços da neurofisiologia, da neuroquímica e da neuroanatomia das décadas anteriores. Delcir Antônio da Costa, associado a psiquiatras mineiros, como João Eduardo Vilela, Vicente Santos Dias, Ronan Rego, Lúcio Rezende Alves, também em associação a psiquiatras de outros estados, fundou a Associação Brasileira de Psiquiatria Biológica, em 1983, no modelo da Federação Internacional de Psiquiatria Biológica, que havia sido criada durante congresso internacional, em Buenos Aires, em 1974. Desde então, passaram a promover encontros e congressos nos quais a temática biológica era a tônica. Pouco depois, iniciaram a publicação da Revista Brasileira de Psiquiatria Biológica, que contribuiu sobremaneira para a divulgação desta orientação psiquiátrica no Brasil.

Com o avanço progressivo das neurociências no mundo desenvolvido, uma área científica ainda pouco conhecida e divulgada em Minas Gerais, uma nova geração de psiquiatras, surgida nas décadas de 1970 e 1980, se destacou ao injetar sangue novo no ambiente psiquiátrico. Alguns dos mais significativos são: Maurício Viotti Daker, Dirceu Campos Valadares, Almir Tavares, Fábio Lopes Rocha, Juarez de Oliveira Castro, Gustavo Julião de Souza, Humberto Campolina, Sérvulo Duarte, Salvio Penna, Mercedes Jurema Alves, Fábio Munhoz, Ronan Rego, Samir Melki, Maria Goretti Lamounier, Maria Cristina Palhares, Claudio e Lucas Moretzsohn, Gislene Valadares, Maurício Leão de Resende, Carlice Moreira, Alan Passos, Adilson Cabral, Maria Arlete Andrade, Domingos Savio Guerra e muitos outros. Todos mantiveram acesa a chama do conhecimento científico na psiquiatria. Fábio Lopes Rocha teve uma esmerada formação em psiquiatria e psicopatologia, além de desenvolver pesquisas em psicofarmacologia com Jorge Paprocki e logo se tornaria uma das estrelas mais fulgurantes de nosso universo mineiro. Tornou-se também figura importante na psiquiatria brasileira.

No início da década de 1990, o DNP-FMUFMG, sob a coordenação de Maurício Viotti Daker, criou uma das mais importantes e duradouras promoções científicas em Minas, os Sábados de Formação Continuada. Os palestrantes convidados eram luminares da psiquiatria nacional. Começou, então, a ser introduzido entre nós o conceito de "medicina baseada em evidências", hoje um dos pilares da medicina contemporânea e, como consequência, da psiquiatria.

    Nas décadas de 1990/2000 também integraram o corpo docente do Departamento: José Lorenzato de Mendonça, Juarez de Oliveira Castro, Mario Villefort de Bessa, Maurício Viotti Daker, Almir Tavares Júnior, José Carlos Cavalheiro da Silveira, Eduardo Antônio de Queiroz e Betty Liseta de Castro Pires.



A partir da primeira década do século XXI, este Departamento foi sendo renovado. Atualmente, é denominado de Departamento de Saúde Mental da FMUFMG. Seu corpo docente é composto pelos seguintes professores: Marco Aurélio Romano-Silva (titular), Maurício Viotti Daker, José Carlos Cavalheiro da Silveira, Almir Ribeiro Tavares Júnior, Humberto Corrêa da Silva Filho, Tatiana Tcherbakovsky Lourenço, Rodrigo Nicolato, Cíntia Satiko Fuzikawa, Breno Satler de Oliveira Diniz, Arthur Melo e Kummer, Fernando Silva Neves, Frederico Duarte Garcia, Maila de Castro Lourenço das Neves e Leandro Fernandes Malloy-Diniz. A orientação predominante no Departamento é da medicina baseada em evidências e nas neurociências cognitivas.
Por volta de 1989, os psiquiatras de orientação clínico-científica, quando as neurociências estavam já em pleno voo de desenvolvimento, sem espaço para se aglutinar e se manifestar em torno de uma associação que os representasse, já que a Associação Mineira de Psiquiatria, estava impregnada de manifestações ideológicas e partidárias, decidiram criar uma nova entidade. Depois de inúmeros encontros e debates, foi criada a Sociedade de Psiquiatria do Estado de Minas Gerais (SPEMGE), cujo primeiro presidente foi Sylvio Magalhães Velloso. Esta entidade teve uma vida curta, porém intensa e produtiva. Dentre alguns de seus eventos mais marcantes destacou-se a promoção da vinda a Belo Horizonte do prof. Francisco Alonso-Fernandez para dar um curso sobre depressão. Aceito o convite, o prof. Alonso-Fernandez, um mito na história da psiquiatria mundial, nos brindou com três dias de brilho e ciência humanística, com seu saber universalista e enciclopédico. Foi uma convivência riquíssima para todos que, tiveram o privilégio de compartilhar de algumas horas com esse luminar, situado no panteão da glória da psiquiatria universal.  Deixou-nos o original de uma de suas obras: La Depresión y su Diagnóstico – Nuevo modelo clínico, da Editorial Labor S.A., de Barcelona, publicado em 1988.
Outro evento marcante, promovido pela SPEMGE, foi o I Simpósio Brasileiro sobre Personalidade, ocorrido no Instituto Hilton Rocha, em 1989. Organizado por Dirceu de Campos Valadares Neto, com a participação ativa de Maurício Viotti Daker, este foi também um evento de cunho internacional, quando compareceu o mundialmente renomado cientista norte-americano, especializado no estudo sobre a personalidade, Robert Cloninger. Sua estada foi muito rica e o simpósio um retumbante sucesso. Tanto que, pouco depois, Dirceu Valadares organizou um livro, com a participação de diversos colaboradores ilustres, intitulado As Várias Faces da Personalidade, pela Libru Editora, em 1991. A obra fez tanto sucesso que teve sua edição rapidamente esgotada.
Nas décadas de 1980 e 1990 e na primeira do século XXI, diversos psiquiatras mineiros tiveram trabalhos seus publicados em revistas científicas nacionais e internacionais, enriquecendo nossa psiquiatria com resultados de pesquisas de grande importância clínica. A bibliografia é extensa e os interessados podem consultar o site sobre este tema do psiquiatra Walmor J. Piccinini, que participou da equipe do HGV, no fim dos anos 60. Destacam-se os trabalhos de Jorge Paprocki, Fábio Lopes Rocha, José Raimundo da Silva Lippi, Joaquim Affonso Moretzsohn, Sylvio Magalhães Velloso, Almir Tavares, Uriel Heckert, Antônio Carlos de Oliveira Corrêa, Luiz Carlos Calil, Marco Aurélio Baggio, Hilbene Galizzi, Delcir Antônio da Costa, Marcio Pinheiro, André Stroppa, Fernando Madalena Volpe, Antônio Lúcio Teixeira Jr., Humberto Corrêa, Maurício Viotti Daker, Rodrigo Nicolato e tantos outros que citá-los tornaria este texto extremamente enfadonho. É uma prova evidente de que, apesar de tudo, a psiquiatria mineira nunca faltou com seu dever, mantendo-se em plena atividade e dentro da tradição de ser uma das mais importantes do País.

Dirceu Valadares, após estudos na Califórnia, no início da década de 1990, foi um dos pioneiros da medicina do sono em Belo Horizonte, um acontecimento marcante numa época em que a polissonografia somente era utilizada em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre. As neuroimagens foram introduzidas em Minas no mesmo período, por diferentes grupos de médicos, como a Ressonância Nuclear Magnética, a Tomografia por Emissão de Fóton Único, também conhecido como Cintilografia Cerebral ou SPECT, o Eletroencefalograma Computadorizado, conhecido como Mapeamento Cerebral. Em 2011, foi introduzida a Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET-CT) em Belo Horizonte. Inicialmente, no Instituto Nacional em Ciência e Tecnologia (INCT) de Medicina Molecular da UFMG, com benefício direto de pacientes em tratamento e nas pesquisas efetuadas no HC-UFMG. Destacam-se em pesquisas nessa área Marco Aurélio Romano-Silva, Fernando Madalena Volpe, Humberto Corrêa e Rodrigo Nicolato. Posteriormente, esta extraordinária técnica foi introduzida em serviços particulares da Capital. A neuropsicologia começou a ser estudada, ensinada e aplicada à prática clínica a partir do ano de 2000. As pesquisas adotaram o método das entrevistas estruturadas e semiestruturadas, os estudos passaram a adotar o método duplo-cego e tratamento dos dados por métodos estatísticos sofisticados, utilizando recursos da informática, começaram estudos longitudinais e de metanálises, estudos de campo mais apurados. Todas essas técnicas trouxeram enormes subsídios para uma melhor prática psiquiátrica e para investigações.



Desde o início da década de 1990, tem sido publicado regularmente o Jornal Mineiro de Psiquiatria, organizado e dirigido por Humberto Campolina. Inicialmente suas tiragens eram impressas, aproximadamente duas vezes por ano. Posteriormente, passou a ser divulgado na Web. Sua temática preponderante é a apresentação de entrevistas com psiquiatras representativos da especialidade em Minas Gerais. Todos seguem uma linha clínica dentro da fenomenologia clássica e da psicopatologia alemãs. Também têm sido apresentados textos relevantes sobre a psiquiatria baseada em evidências e a importância das neurociências no seu avanço. Surgiu como um contraponto ao jornal O Risco, da Associação Mineira de Psiquiatria, cuja temática é totalmente dominada por textos psicanalíticos lacanianos e numa linha antimanicomial e antipsiquiátrica. Humberto Campolina, um grande polemista e exímio debatedor, tem representado, no último quarto de século, uma voz altissonante e combativa em prol da psiquiatria como uma especialidade médica. Seu papel na defesa dos princípios científicos na psiquiatria tem tido um papel extremamente relevante.
A era das residências
Um capítulo especial deve ser dedicado à história das residências de psiquiatria em Minas Gerais, particularmente em Belo Horizonte. Só o farei en passant. A primeira residência, como visto, foi a da FEAP-FCMMG, no HGV, que funcionou de 1968 a 1971. Em seguida, foi transferida para o IRS, onde se mantém até os dias atuais. No IRS, até 1977/78, constituiu-se ela no principal centro de formação de psiquiatras de Minas Gerais. Sua orientação médica era excelente e contava com a presença de preceptores das mais variadas tendências e correntes do pensamento psiquiátrico da época. Foi, durante alguns anos, coordenada por Sylvio Magalhães Velloso, que imprimiu em sua gestão acadêmica impulso dinâmico e eclético, dada sua formação no IP-UFRJ, dirigida pelo prof. José Leme Lopes. Sylvio Velloso contava com uma equipe dedicada de preceptores que incluíam nomes consagrados da psiquiatria mineira, tais como Ivan Ribeiro, José James de Castro Barros, Newton Figueiredo, Geraldo Megre de Resende, Mário Catão Guimarães e Ataulpho da Costa Ribeiro, que deixaram a marca de sua sabedoria, ciência, seriedade e ética. A residência também contou com jovens psiquiatras, oriundos do HGV, tais como Rodrigo Teixeira de Salles, Vicente Santos Dias, José Ronaldo Procópio, Francisco Paes Barreto, César Rodrigues Campos, Maria Muniz Passos, Antônio Carlos Corrêa e muitos outros. À medida em que novos residentes foram se graduando no IRS, muitos deles tornaram-se também preceptores, como Gustavo Julião de Sousa, Maria Goretti Lamounier, Antônio Áureo Benetti, Zuleide Abijaodi, Gislene Valadares e outros.
Com o passar do tempo, a ideologia predominante na residência foi se assentando na temática psicanalítica lacaniana e nos princípios da antipsiquiatria. Os antigos preceptores foram deixando suas funções, permanecendo Francisco Paes Barreto e César Rodrigues Campos. A residência passou a contar com a colaboração de Ronaldo Simões Coelho. Por volta de 1978, a orientação lacaniana, antipsiquiatria e antimanicomial predominou amplamente, mantendo-se por quase duas décadas. Posteriormente, esta residência foi coordenada pelo prof. Hélio Alkmin cuja profícua gestão levou a moderada abertura dando aos residentes a chance de melhor contato com a medicina moderna e a psiquiatria clínica. Em seguida, Hélio Lauar de Barros, oriundo desta residência, assumiu sua coordenação, mantendo essa orientação.

Após o encerramento do convênio entre a FCMMG e a FEAP, a Residência, já no IRS, foi transferida integralmente para a FHEMIG. Entretanto, a disciplina de psiquiatria na FCMMG, no curso de graduação, se mantém até os dias atuais, abrigando nesses últimos 50 anos um elenco de psiquiatras de renome e reconhecido saber. A disciplina era coordenada pelo prof. Austregésilo Ribeiro de Mendonça, até sua aposentadoria, no final da década de 1980. Seu corpo docente era composto pelos seguintes psiquiatras: Clóvis de Faria Alvim, Paulo Saraiva, José de Assis Corrêa, Antônio Carlos Corrêa, Solange de Mendonça Campos, Austregésilo Ribeiro de Mendonça Filho, Domingos Sávio Guerra Lages e outros. Na disciplina de Psicologia Médica estavam: Eunice Rangel, Antônio Leite Rangel e Roberto Rangel.


Em 1975, foi criada a residência de psiquiatria no Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora. Destacaram-se como seus preceptores os psiquiatras Uriel Heckert, Alonso Augusto Moreira Filho, Adelgício José Melo de Paula, André Stroppa e outros, com um significativo número de trabalhos publicados em revistas científicas nacionais e internacionais.
Em 1977, quando começava a ebulição dos movimentos antimanicomiais, foi criada a residência de psiquiatria CHPB. Logo se tornou um influente polo de difusão de conhecimentos psiquiátricos de Barbacena para todo o Estado. Entre seus preceptores destacaram-se Carlos Eduardo Leal Vidal e Dirceu de Campos Valadares. Durante anos, destacou-se em Barbacena e Juiz de Fora o psiquiatra Rubens Metello de Campos, já falecido, grande intelectual e teórico, que influenciou considerável número de profissionais, e foi possuidor da maior biblioteca particular da região.
Ainda na década de 1970, foi criada no Hospital Escola da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, em Uberaba, a disciplina de psiquiatria e, posteriormente, a residência. Destacam-se entre seus professores Carlos Alberto Nico e Luiz Carlos Calil. Este com uma longa lista de trabalhos publicados em revistas de psiquiatria no Brasil e no exterior, o que o fez objeto da estima e respeito de seus pares.
Para contornar as dificuldades na formação de psiquiatras em Belo Horizonte, constituíram-se grupos de estudos em hospitais como a Casa de Saúde Santa Clara, Casa de Saúde Santa Maria e Clínica Pinel, depois transformados em residências médicas em psiquiatria. Inúmeros médicos tiveram sua formação nesses grupos, onde se recebia uma instrução psiquiátrica esmerada.
Outras residências surgiram em instituições oficiais como a do HC-UFMG, graças aos esforços de Juarez de Oliveira Castro, José Lorenzato de Mendonça e Maurício Viotti Daker. Rapidamente ela se desenvolveu e passou a contar com um corpo de preceptores que acumulava grande e rica experiência no ensino e na clínica. Entre os anos de 1986 e 2006, esta residência contou com a participação de preceptores do gabarito de: Adauto Silva Clemente, Adelaide Duarte Ubaldino, Almir Ribeiro Tavares Jr., Antônio Carlos de Oliveira Correa, Fábio Lopes Rocha, Gislene Cristina Valadares, Guilherme Silva Bastos, Gustavo Fernando Julião de Souza, Hélio Lauar de Barros, Hugo Alejandro Cano Prais, José Soares Mól Filho, Jussara Alvarenga de Mendonça, Karla Maria Barbosa Miranda, Lécio Marques Dias, Lúcio de Guimarães Mourão, Maria Goretti Pena Lamounier, Maria Tereza Lanna de Oliveira, Magda Maria Campos Pires, Marluce Maria de Godoy e Silva, Rodrigo Nicolato, Ronan Rego, Samir Melki, Sandra Maria Carvalhais, Sérgio Kehdy, Sérgio Martins, Tatiana Tscherbakowski de Guimarães Mourão. A supervisão clínica em enfermaria ocorria no HGV e também no IRS. 

       Um serviço que assumiu importância primordial no ensino da psiquiatria em nosso estado é a residência de psiquiatria do Instituto de Previdência (IPSEMG). Foi coordenado por Fábio Lopes Rocha, atualmente por Paulo José Ribeiro Teixeira, tem formado também uma geração de jovens e competentes psiquiatras. A residência promove, há vários anos, as reuniões clínicas da residência, às quartas-feiras pela manhã, aberta a todos os profissionais da área interessados nos mais diversos temas. Com isso, tem dado uma contribuição substancial para o desenvolvimento da psiquiatria mineira.


A chegada das neurociências cognitivas
A partir de meados da década de 1980, já se observava nitidamente o envelhecimento de nossa população. Cada vez mais, nos consultórios, ambulatórios e hospitais, eram atendidas pessoas com mais de 60 anos. Até então, estávamos inteiramente despreparados para o atendimento psiquiátrico desse público. No final da década de 1980, Almir Tavares Jr., do DNP-FMUFMG, acompanhou, por longo período, os serviços de psiquiatria geriátrica da Universidade Johns Hopkins e do National Institute on Aging, em Bethesda, Maryland, Estados Unidos da América. Ao voltar, introduziu na FMUFMG os primeiros estudos sobre gerontologia e psicogeriatria. Ao mesmo tempo, divulgava com palestras e trabalhos científicos seus conhecimentos. Tem atuado em eventos, congressos, pesquisas e publicações nesta área. Em 1996, foi um dos fundadores da Associação Brasileira de Neuropsiquiatria Geriátrica. 
O primeiro serviço de atendimento público em psiquiatria geriátrica (psicogeriatria) no Estado, e um dos primeiros do País, se deu entre 1990 a 1994, no antigo posto de atendimento médico (PAM) Padre Eustáquio, do Instituto Nacional de Previdência Social (INAMPS), por mim coordenado. A ideia surgiu após um curso que fiz na Universidade de Limoges, França, em 1988, onde tive contato profundo com a psicogeriatria europeia. O envelhecimento europeu levou ao necessário desenvolvimento da psicogeriatria que atingiu níveis de excelência. Ao voltar, ministrei um curso de psicogeriatria, em 1989, no PAM Padre Eustáquio, para mais de oitenta profissionais da área de saúde, incluindo muitos psiquiatras. Em 1990, constituímos uma equipe multiprofissional composta por 17 pessoas da área de saúde. Os psiquiatras que participaram da equipe eram: Adelaide Duarte Ubaldino, Carlos Moretzsohn e este autor. O trabalho se desenvolveu bem e logo a demanda aumentou rapidamente. Havia uma média de duzentos atendimentos pela equipe a pacientes idosos, por mês, neste ambulatório. Infelizmente, com a mudança da política municipal, o atendimento pioneiro foi desativado, assim como o próprio PAM. Os psiquiatras foram impositivamente transferidos para postos de saúde da prefeitura na periferia, ocasião em que alguns se aposentaram ou se demitiram do Serviço Público. Muitos psiquiatras, funcionários públicos federais, obtiveram transferência para outras instituições, igualmente federais, incluindo as de ensino, onde puderam continuar a desenvolver o seu trabalho. Com isso, desapareceu o atendimento psiquiátrico público, em postos de saúde, para a população idosa. Este é um exemplo maléfico do que é possível fazer para destruir um trabalho frutífero a troco de nada. É a política da "terra arrasada" que se tornou tão em voga no nosso País. 
A partir de 1997, coordenado por Maurício Viotti Daker, foi constituído o setor de psiquiatria geriátrica, ou psicogeriatria, no terceiro ano da residência de psiquiatria do HC-UFMG, do qual fiz parte. Era a primeira vez no estado de Minas Gerais que se tomava tal iniciativa. Em 1997, fundou-se o Núcleo de Estudos em Geriatria e Gerontologia, coordenado por Anielo Greco, do Departamento de Clínica Médica. Pouco depois, foi fundado o Centro de Referência do Idoso prof. Caio Benjamin Dias, associado depois ao Instituto Jenny de Andrade Faria de Atenção à Saúde do Idoso, que funciona em moderna sede, ao lado do Hospital Bias Fortes. Tornou-se um centro de referência de renome nacional e internacional. É dirigido por Edgar Nunes de Moraes, em um trabalho próximo ao serviço de Neurologia Cognitiva, fundado pelo pesquisador Paulo Caramelli, em parceria com a residência de psiquiatria do HC-UFMG, coordenada por Maurício e Rodrigo Nicolato. A participação dos membros desse grupo na publicação de livros e trabalhos científicos tem sido de relevância.
A residência de psiquiatria do HC-UFMG, desde o seu início, tem formado novas gerações de psiquiatras de elevado nível, dentro da formação em neurociências cognitivas e da medicina baseada em evidências. Os residentes também recebem algum treinamento em psicoterapia analítica freudiana e na terapia cognitivo-comportamental. Os novos psiquiatras nela formados têm impulsionado a psiquiatria mineira com suas publicações e pesquisas colocando-a no nível nacional e internacional. Destaca-se entre os inúmeros psiquiatras daí oriundos, Antônio Lúcio Teixeira Júnior, também neurologista, onde é professor adjunto no Departamento de Neurologia. Autor de mais de 500 trabalhos relacionados a essas especialidades, atualmente desenvolve pesquisas clínicas e experimentais na área de imunofarmacologia, investigando, em particular, a associação entre processos inflamatórios e alterações do comportamento e da cognição.

      Aqui estão relacionados todos os residentes do HC-UFMG no período 1986-2006: 1986 - Adão Edson Dayrell, Angélica Braga Stheling Portela, Antônio Márcio Morelli, Fátima Sueli Cioffi de Oliveira. 1987 - Márcia Teixeira de Freitas, Oswaldo França Neto, Roseane Barros Petrucci Falcão, Saulo Cançado Magalhães Ribeiro, Watson Helvécio Freitas de Queiroz, Sérvulo Santos de Oliveira. 1988 - Cláudia Regina Faria Felicíssimo, Emerson Ribeiro dos Santos, Glauco Correa de Araújo, Sotírios Theophane Pegos, Simone Cláudia Facuri Lopes, Paulo José Teixeira. 1989 - Juliana Rodrigues Cunha Teixeira, Humberto Figueiredo do Nascimento, Karla Vanessa Souza Soares, Luisa de Marillac Nilo Terroni, Luzmarina Morelo. 1990 - Frederico Martins Machado, Denilson Cavalcante Pinto, Marcelo Quintão e Silva, Patrícia Costa de Amorim. 1991 - Ana Paula Souto Melo, Carlos Reif Miranda, Fernando Casula Ribeiro Pereira. 1992 -  Adriana Braga de Andrade, Eva Missine. 1993 - Humberto Correa da Silva, Maria Flávia de Mourão, Sérgio Caffaro Almeida. 1994 - Adriane Rooke Ribeiro, Fernando Madalena Volpe, Heloisa Andrade Maestrini, Junea Luiza Rodrigues de Paula Chiari. 1995 - Ana Cristina Bittencourt Fonseca, Frederico Porto Fonseca Theodoro, Jussara Mendonça Alvarenga. 1996 - Anna Karla Rocha Santanna, Carmelita Magalhães Nunes, Cíntia Satiko Fuzikawa, Flávia Fernandes Dias, João Luiz Pinto Coelho, Rodrigo Nicolato. 1997 - Érico de Castro e Costa, Fernando José Loureiro, Luis José de Lima, Sérgio de Figueiredo Rocha. 1998 - Antônio Lúcio Teixeira Jr., Fabiano Gonçalves Nery, Henrique Alvarenga da Silva, Rodrigo Barreto Huguet. 1999 - Adriana Camello Teixeira, Fátima Darlene Martins Rocha Guilherme Assumpção Dias, Luciana Vale Cipriano, Silas Prado Souza, Marco Aurélio Romano Silva, Ramon Cosenza. 2000 - Cléber Naief Moreira, Cristina Peixoto Jardim, Ester Assumpção Dias, Leandro Augusto Paula da Silva, Mariany Souza Gomes. 2001 -  Adauto Silva Clemente, Alessandro da Silveira, João Vinícius Salgado, Luis Augusto dias Malta, Hugo Alejandro Cano Prais. 2002 - Jovana Sério Veiga Lima, Oscar José Grossi Santiago Lima, Robson Kazunori Tokuda, Rosana Fortes Zschaber Marinho. 2003 - André Luiz Nunes, Bruno Copio Fábregas, George Augusto Guimarães Lodi, José Mauro Barbosa Reis, Helbert Antoniazi Salem Campos. 2004 - Carla Fonseca Zambaldi, Fabrício Meyer Godoy, Janaína Matos Moreira, Eduardo Guimarães Ferreira, Júlio Santa Rosa da Silveira. 2005 - Fernando Machado Vilhena Dias, Frederico Duarte Garcia, Leonardo Freitas e Silva, Priscila de Siqueira Ramos, Vinicius Expedito Martins Gomes. 2006 -  Felipe Filardi da Rocha, Flávia Mello Soares, Karla Cristhina Alves Souza, Pedro Braccini Pereira, Renata Cristiane Marciano. 


Ao término da década de 1990, em plena vigência da Década do Cérebro, instituído pela OMS, surgiu em Minas Gerais a Associação Acadêmica Psiquiátrica de Minas Gerais (AAP-MG), que, apesar do nome, foi aberta para todos aqueles profissionais que não exercem a carreira universitária. Tornou-se uma filiada da ABP e congrega hoje um expressivo número de psiquiatras de elevado calibre científico, cultural, humanístico e filosófico, incluindo vários pesquisadores e escritores. Desde então, essa entidade tem promovido eventos de grande interesse para a categoria.
Novas técnicas psicoterápicas têm se incorporado ao arsenal do psiquiatra mineiro, particularmente a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC). Esta tem tido grande aceitação entre nossos profissionais tendo em vista sua grande eficácia frente aos quadros psiquiátricos agudos, seu tempo breve de tratamento e seus custos bem mais reduzidos, aliviando sobremaneira os sofrimentos de nossos pacientes.
Os atuais congressos mineiros de psiquiatria retornaram aos trilhos da psiquiatria como especialidade médica, ao divulgar os espetaculares avanços da genética, da biologia molecular, das neuroimagens, da neuropatologia, da clínica, da psicofarmacologia, da medicina do sono, do progresso e desenvolvimento de novas técnicas psicoterápicas, como a TCC, e das neurociências cognitivas. Prova disto foi a realização do XVI Congresso Mineiro de Psiquiatria, em setembro de 2014, evento de sucesso ímpar na história de nossa psiquiatria, coordenado por Humberto Corrêa e patrocinado pela AMP, sob a direção de Maurício Leão de Resende. Ao receber especialistas nacionais e estrangeiros de elevada categoria, a entidade tem dado mostras de seu amadurecimento e avanço científico. O aprimoramento e a qualificação dos profissionais da psiquiatria em Minas Gerais nos últimos anos é notável. Quase não se fala mais no hospital, pois cada vez menos se internam pacientes graças ao arsenal terapêutico à disposição do psiquiatra do século XXI. As discussões hoje ocorrem em elevado nível científico e não são mais ideológicas. Há um nítido retorno à psiquiatria de bases médicas e à psicopatologia fenomenológica. Indo além do DSM-V, ocorre um retorno a Kraepelin e aos clássicos. Cada vez mais, publicam-se trabalhos, livros e teses baseados nas neurociências cognitivas e na sua interface com as disciplinas de áreas humanistas.
As discussões hoje ocorrem em elevado nível científico e se baseiam nos avanços tecnológicos que impulsionam a medicina e, em particular, a psiquiatria, e já não são mais ideológicas ou antipsiquiátricas. O movimento antimanicomial envelheceu rápido, mais parecendo um morto vivo. Vemos mais movimentos de rua, bem ao estilo do populismo de massa, em que um número elevado de pessoas pouco cientes do tema mobilizado e que servem mais como massa de manobra de líderes sectários movidos por interesses político-partidários, fazem passeatas com seus cartazes agressivos, com seus apitos, com suas camisas vermelhas e suas velhas palavras de ordem, num chavão já desmoralizado, a perturbar o trânsito de nossas metrópoles.  Espasmos de um moribundo, ainda alimentado artificialmente pelo soro da ideologia sectária, radical e (por que não?) fanática.
Com este clima benfazejo e estimulante, diversos de nossos colegas publicaram livros de grande repercussão nos meios psiquiátricos e das ciências afins de Minas Gerais. Posso citar: Marco Aurélio Baggio, recentemente falecido, autor de mais de duas dezenas de obras cujo espectro abrange temas que vão da história, à crônica e à clínica psiquiátrica; Sebastião Abrão Salim, com importante obra que abordada a interface entre a psicanálise e a clínica médica; Almir Tavares Junior, que organizou e escreveu diversos capítulos de um tratado sobre Psiquiatria Geriátrica, que logo se tornou referência no tema; Antônio Lúcio Teixeira Júnior, clínico, neurologista e neuropsiquiatria, um dos mais brilhantes psiquiatras da nova geração, autor de mais de quatro centenas de trabalhos científicos e coautor de um livro de neurologia (Exame neurológico: bases anatomofuncionais) e organizador de dois livros (Neurologia Cognitiva e do Comportamento e Neuropsiquiatria Clínica), têm expressado o real valor de nossa psiquiatria mineira contemporânea. A modesta contribuição que tenho dado à literatura médica foi a publicação de outros três livros: Depressão, Envelhecimento e Doença de Alzheimer, Auto avaliação em Psicogeriatria, ambos pela Editora Health, de Belo Horizonte, em 1996, e Memória, Aprendizagem e Esquecimento – A memória através das neurociências cognitivas, pela Editora Atheneu, do Rio de Janeiro, em 2010. Tenho a certeza de que muitos outros livros importantes e trabalhos científicos de grande impacto estão sendo gestados em nosso meio, principalmente produzidos por esta gama de grandes psiquiatras e pesquisadores desta nova geração da qual tenho grande orgulho.
Como testemunha ocular da história da psiquiatria mineira há quase meio século eu a observo com os olhos da esperança e da confiança de que alçaremos voos maiores e melhores. Observo a Fênix ressurgida das cinzas. E tenho a certeza de que nossos pacientes terão à sua disposição cada vez mais tratamentos humanos e mais avançados para o alívio de seus sofrimentos. 
Eis como vejo a História da Psiquiatria Mineira neste último meio século.
Postado por Antônio Carlos de Oliveira Corrêa às 01:14 
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