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O fragmento acima, no entanto, não seria por si só, apesar de conter sentenças
hiperonímicas que supõem partes representadas como se um todo fossem, suficiente para se
aproximar de imaginários caso a verdadeira parte, a imagem à qual se destina a metonímia
nele contida não fosse, após variadas digressões, enfim revelada em teor representativo de
metáfora. Dessa maneira, o narrador conta que curiosidades próprias do tédio (embora todas
as atividades que o trabalho lhe proporcionava) vivido por ele como homem de meia-idade
[C]ondujeron a Dionisio “Baco” Rangel a su más reciente manera de
entretenimiento en California. Pasó semanas sentado frente a esos lugares que
ponían a prueba su paciencia y su buen gusto – los MacDonalds, Kentucky Fried
Chicken, Pizza Hut y, abominación de abominaciones, Taco Bell – con el propósito
de contar a los gordos (y a las gordas) que entraban y salían de esas catedrales del
mal comer. Llegó armado de estadísticas. Hay cuarenta millones de personas obesas
en los EEUU, más que en cualquier otro país del mundo. Gordos, pero en serio:
masas de color de rosa, almas perdidas detrás de rollos y más rollos de carne, hasta
hacer perdedizas, también, características como los ojos, la nariz, la boca, el sexo
mismo. Dionisio veía pasar a una gorda de trescientos cincuenta libras de peso y se
preguntaba dónde quedaría la veta de su placer, cómo se llegaría, entre las múltiples
lonjas de sus muslos y sus nalgas, al santoyo de su libido. (FUENTES, [1995] 2007,
p. 74)
Se antes, a metonimização proposta por Fuentes necessitava de uma parte mais
específica, ela encontra na figura representativa dos gordos e gordas que entravam e saíam das
catedrais do mal comer a completude, da imagem proposta, em uma metáfora que, de igual
maneira, só se completa ligando sua parte destacada à generalização anterior contida em
“Sociedade da abundância”. Contudo, a mexicanidade suposta na aversão, no ranço e em um
rancor histórico e a hipotética chicanidade de haver-se integrado e assimilado em “solo
gringo” são problematizadas de maneira bastante peculiar e inteligente na continuidade de
desenvolvimento da metáfora ampla que atravessa e toma conta do capítulo, quando o
narrador conta que, após tanta observação:
[S]in embargo, perversa, inexplicablemente, Dionisio "Baco" Rangel, al ver el paso
multitudinario de las gordas, empezó a sentir una comezón sexual comparable a la
de la primera excitación, dulce, imprevisible, alarmante, inexplicable, de los trece
años. No, no la primera masturbación, hecho ya volitivo y racional, sino el florecer
primero del sexo, asombroso, impensable antes de que sucediera... El primer semen
derramado por el joven que en ese momento era siempre el primer hombre, Adán,
nada, nadando en semen.
Esta intuición perturbó profundamente al solitario e itinerante gourmet. (Ibid., p. 75)
Esse incômodo que lhe causa o súbito desejo, a súbita atração pelo que antes lhe era
alvo de escárnio e rechaço faz com que se revelem em Dionisio outras supostas
mexicanidades, outras supostas características distintivas da identidade do mexicano: o medo,
e a fuga. Para não se entregar e integrar à sociedade da abundância, Dionisio troca seu
inesperado desejo sexual pelo alheio pelo desejo de comer em um bom restaurante, e ali
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sucede a representação de situações imaginárias que eclodem na imaginação furtiva da figura
de um gênio que lhe concederia o desejo de uma mulher para cada prato pedido pelo chef
mexicano. Ocorre que as mulheres imaginárias que surgem servem para colocar uma série de
convicções, entre elas algumas identitárias, e pré-conceitos de “Baco” Rangel em xeque,
sendo a última delas, outra mulher descrita como imensamente gorda (a imagem repetida,
ainda que aparentemente contestada pela ironia da situação criada pela ficção), a qual provoca
nova fuga do chef, que decide ir embora do restaurante.
É essa fuga a qual outra sucederá, quando, desesperado, Dionisio vê seu México
estereotipado em supostas roupas típicas colocadas em um mexicano dentro da vitrine de uma
loja da American Express. A visão então desencadeia uma série de eventos que culminam
com a condução à força do “mexicano típico” até a fronteira de volta ao México, onde
Dionisio le dijo a su compañero, todo, despójate de todo, despójate de tu ropa, como
lo hago yo, ve regándole todo por el desierto, vamos de regreso a México, no nos
llevamos ni una sola cosa gringa, ni una sola, mi hermano, mi semejante, vamos
encuerados de vuelta a la patria, ya se divisa la frontera, abre bien los ojos, ¿ves,
sientes, hueles, saboreas?
Desde la frontera entraba un fuerte olor de comida mexicana, imparable.
(FUENTES, [1995] 2007, p. 95 – grifo meu)
Dessa forma, veem-se tratadas, ficcionalizadas e problematizadas no conto
comportamentos, atitudes que buscam recuperar pela ficção supostas mexicanidades e
hipotéticas ações denotativas, demonstrativas de, para além do prisma de identidade literária
representada no José Francisco de “Río grande, río Bravo”, chicanidades, potencializadas na
repetição da metáfora para a grandiosidade sedutora dos EUA na figura metonímica das
personagens descritas como gordas imensas e que seriam típicas personificações da sociedade
de abundância estadunidense. O típico retorna também na figura do mexicano que, junto com
Dionisio, precisa ser orientado de volta ao seu México pela fronteira, despojando-se ambos de
tudo o que lhes fora gringo, incluindo aí seus desejos.
Às “mex-(anglo)-chicanidades” assim as expressei porque em La frontera
mexicanidades e chicanidades são definidas na representação da obra, mas não se diluem
totalmente, nem por isso se completando, haja vista que no romance de Carlos Fuentes
orbitam em forma de imagens literárias ao redor de imagens literárias outras de anglo-
americanidades, num imaginário que supõe o elemento anglo generalizado, sobretudo em “El
despojo”, como alteridade inimiga gringa, ianque.
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