Esquizofonia



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drum’n’bass nasceu nas quebradas de Brixton com influências diretas do 
reggae e do rap. E mesmo o DJ-artista, incluindo aí a negação ao star 
system da indústria cultural, tem raízes fincadas nos bairros negros 
jamaicanos e norte-americanos, especialmente no caso dos primeiros 
bailes de rap do final dos anos 70.  
  
No Brasil, ao contrário, essa distorção da cultura eletrônica se estabeleceu 
em dois pontos distintos: no gueto-chic e na simplificação da e-music, 
exatamente o modelo de apropriação padrão da indústria do 
entretenimento. Nos dois casos, o que vemos são atitudes equivocadas. A 
primeira por transferir para eletrônica todos os vícios das elites brasileiras 
(através de preços altos, política de porta, preconceito e dress code). A 
segunda por diluir um estilo musical com propósitos exclusivamente 
comerciais (qualquer eletrônica passa a ser "techno", qualquer roupa 
extravagante passa a ser "moderna" ou "clubber", toda a festa se 
transforma em "rave").  
  
Por outro lado, a descoberta de que a eletrônica, antes de ser um estilo 
musical, é uma ferramenta que possibilita um fazer artístico diferente, 
permite a periferia recombinar suas referencias sonoras criando assim 
música barata e, sobretudo, moderna. Dos subúrbios cariocas sai o funk, o 
amálgama bastardo surgido da semente plantada por Afrikaa Bambaataa 
e outros mestres da black music e (dizem) de um sonho revelador no qual 
o DJ Marlboro aprendeu a programar uma drum machine (“O que 
acontecerá se a cena electro de NY descobrir o Marlboro?”, alguém já 
perguntou por aí). Na periferia de São Paulo, legiões de cybermanos 
adaptam o drum`n`bass à realidade brasileira num processo que gerou 
artistas como Marky e Patife. E em Belém do Pará, o reggae, o 
raggamufim` e o drum`n`bass misturam-se a ecos de Kraftwerk em nome 
do tecnobrega, a meta-música das aparelhagens de som e das turmas de 
dançarinos de rua.  
  
Obviamente, o maior desafio está em aceitar que a modernidade se faz 
presente também nos subúrbios, que bairros pobres podem produzir uma 
cultura de rua original e vibrante. Os rígidos códigos de postura e a 
vontade de se integrar a uma suposta vanguarda impedem que gêneros 
como o tecnobrega, o funk carioca e o drum`n`bass dos cybermanos 
recebam o mesmo grau de importância que a musica eletrônica feita na 
Europa e nos Estados Unidos. E enquanto periferia aprende que 
computadores podem fazer arte, o gueto chic deslumbra-se com a sua 
própria alienação, fingindo que ao seu redor nada acontece. Pelo menos 
até o próximo modismo.  
             
Fonte: Kung Fu Lounge (
http://kfl.blogspot.com/)

 
 
 
 
 


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PAISAGEM SONORA DA GUERRA 
Daniel Maggiolo 
 
   
O som dos alarmes que anunciam um ataque aéreo. 
O som do B-52 e os mísseis cortando o ar. 
O som das baterias anti-aéreas disparando contra o céu. 
O som das bombas. As explosões.  
 “As explosões aconteciam nos arredores da cidade, mas o estrondo podia 
ser escutado no centro de Bagdá”, informa uma jornalista da TVE. “Não 
consigo esquecer o som das bombas”, disse num campo de refugiados 
uma mulher que havia fugido do Iraque. 
Escutem! Escutem! Exclamava um repórter da CNN, antes de calar sua voz 
e nos permitir ouvir diretamente pela televisão essa paisagem sonora de 
Bagdá durante a noite – tarde no Uruguay – do 21 de março. 
Se para alguém em Montevidéo, presenciando imagens e sons pela 
televisão, essa paisagem sonora lhe resultava aterradora, posso imaginar 
– mesmo que só imaginar – o impacto dessa paisagem sonora sobre os 
habitantes de uma cidade que, como Bagdá, foi eleita para experimentar 
o armamento mais recente fabricado nos Estados Unidos da América. 
Posso imaginar – mesmo que só imaginar – uma paisagem sonora talvez 
tão aterradora como a descrita anteriormente. A paisagem sonora do 
silêncio posterior aos bombardeios, ou o imediatamente anterior. O 
silêncio é um componente desejado por muitos para a paisagem sonora 
na qual habitam cotidianamente. Mais uma prova de que os sons 
adquirem significado em relação a seu contexto. 
Posso imaginar – mesmo que só imaginar – outras paisagens sonoras de 
Bagdá nestes momentos. O som das ambulâncias levando feridos para 
hospitais. O choro dos familiares dos mortos (esses sons não aparecem na 
televisão). O som dos edifícios pegando fogo, desmoronando. 
Há sons na paisagem sonora cotidiana sobre os quais não se tem controle. 
No geral, isso se refere aos sons da natureza. Pensa-se que se pode ter 
maior ou menor grau de controle sobre os sons que são resultado da 
atividade humana. Num caso como este, a pergunta que surge é quem 
tem controle sobre esses sons. Num caso como este, não é a população 
de Bagdá quem tem controle sobre os sons que integram a paisagem 
sonora de Bagdá, ainda quando estes sejam o produto da atividade 
humana – talvez uma das atividades humanas mais desprezíveis, apesar 
de favorecidas ao longo da história, como é a guerra. È uma paisagem 


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sonora imposta. 
Afirma-se que a paisagem sonora é a voz de uma sociedade. A paisagem 
sonora que pude ouvir pela televisão é uma paisagem sonora autoritária, 
prepotente, totalitária, precisamente por que se impõe por cima da 
paisagem sonora “normal” de um lugar. È uma paisagem sonora do 
terror, terrorista, para usar uma palavra tão na moda nos últimos tempos. 
O curioso no caso talvez seja que, embora esta possa ser a paisagem 
sonora destes dias em Bagdá, tal paisagem sonora não é a voz da 
sociedade iraquiana. Esta paisagem sonora fala da sociedade que a 
produz, a exporta e a impõe nestes momentos em Bagdá. Pode parecer 
estranho, mas podemos conhecer uma sociedade através da paisagem 
sonora que é produzida a milhares de quilômetros de distância. 
Não conheço a paisagem sonora de Bagdá. Mas estou seguro de que não 
é aquela que escutei pela televisão. Posso imaginá-la, mesmo que só 
imaginá-la. 
Montevidéo, março de 2003. 
Tradução de Ricardo Rosas 
 
Fonte: Proyecto Paisage Sonoro Uruguay 
(
www.eumus.edu.uy/ps/index.html

 
 
 
PAULO NENFLÍDIO E ENGENHOCAS SONORAS 
A Gentil Carioca 
 
 
 
Criar um moinho de ventos sonoro com 15 cordas, captadores, tubos, 
cata-ventos etc tudo isso acionado pelo sopro de ar vindo de fora do local 
onde este se encontra para trazer música ao público é apenas um 
exemplo do que é capaz de produzir o artista Paulo Nenflidio. Não se trata 
de somente colocarmos o fone de ouvido que está à disposição do 
público, mas entender a extensão escultórica e a experiência sempre 
única de cada momento, fruto da união de um elemento da natureza, o 
vento e o imenso captador/ engenhoca/ instrumento construído pelo 
artista. Ali, o público encontra os fones de ouvido para ouvir a música 
produzida pelos ventos, em tempo real, através deste concatenado e 
preciso instrumento semelhante estruturalmente ao piano ou ao cravo.  
Antes mesmo de ser selecionado em 2003 para o 27° Salão Nacional de 
Artes Plásticas em Belo Horizonte (Bolsa Pampulha) com o projeto 
"Música dos Ventos", misto de poema sonoro e aventura numérica, seu 


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