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mecanismo de consumo.
O novo álbum também segue as regras do PCCOM?
Herbert: Sim, ele está em tudo o que eu faço. Não tenho interesse em
usar sintetizadores se eu posso recolher os sons mais apropriados no
ambiente. Se, por exemplo, eu compuser sobre o plebiscito na Venezuela,
por que usaria um sintetizador podendo usar a voz do Chávez? Por que
não contar essa história com som?
Você estava em Nova York durante os ataques de 11 de Setembro e
gravou as reações das pessoas. Por que você nunca usou esse material?
Herbert: Porque eu achei que eu iria morrer e as gravações na hora eram
realmente confusas. Havia o som das torres caindo e o som das pessoas
enlouquecendo. Não sei, acho que deve haver uma razão para você
ordenar esses sons e organizar isso em música. Tem de haver um motivo
e uma estrutura que levem a utilizar essas coisas. Eu cheguei a pensar em
usar esses sons no aniversário dos ataques.
Eles não são um pouco mórbidos?
Herbert: Eles são, é muito estranho. Para ser muito honesto, eu não
quero amplificar a tragédia ainda mais. Há mais civis mortos no Iraque nos
últimos seis meses do que os mortos no 11 de Setembro. Ao ver quantas
pessoas que morreram no Iraque ou no Afaganistão, não quero que
pensem que a morte deles é uma tragédia menor.
Acho que George Bush e os terroristas são ambos expressões do mal. E eu
não quero amplificar ou participar do processo de fazer dessas pessoas
santos ou mártires. Acho que uma vida no Iraque
vale o mesmo que uma vida em Nova York. Eu preciso achar um modo de
expressar que esse episódio foi apenas trágico.
Sua música também se relaciona com o cinema. PCCOM é uma resposta
ao Dogma dinamarquês?
Herbert: Em parte, é. Eles tornaram públicas as idéias deles. E isso me
inspirou a expor também as minhas idéias, que eu havia escrito há muito
tempo. Acho legal que eu tenha escrito porque me fez seguir essas regras
e não posso mais trapacear.
Entendo que as regras podem estimular a criação, mas elas podem ser
uma camisa-de-força também, não?
Herbert: Eu não acho. Acho que é oposto, é uma libertação. No fundo o
que o manifesto diz é que, quando você vai para um estúdio, você tem de
fazer tudo você mesmo. Se você é um pianista, você não fala que vai
pegar um riff do Jimi Hendrix e combinar com alguma outra coisa já
pronta. Não! Você vai tentar fazer algo original, algo que nunca tenha sido
ouvido antes. Na música acústica isso é um convenção, por que não deve
ser assim também na eletrônica, já que a ambição é criar algo original?
E você tem seguidores?
Herbert: Espero que não.
Guilherme Werneck é jornalista, editor-adjunto da "Ilustrada", da "Folha
de S. Paulo".
Fonte: Trópico (
http://www.uol.com.br/tropico
).
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OPERADORES PÓS-MÍDIA
Howard Slater/Flint Michingan/Eddie Miller
@ Break/Flow
1. A industria fonográfica está em vias de ser superada por meio dos
mesmos processos nos quais ela se apoiava. Desde os anos 70, seus
contínuos esforços de criar novas necessidades significaram que nutria
uma paisagem musical sempre em mutação que agora está se
transformando num passo tal que ela não consegue acompanhar por
tempo o bastante a fim de comandar estas evoluções musicais na direção
do lucro. O fato de que ela não consiga dar esse comando tem o
extraordinário efeito de fazer o “novo” durar mais tempo! Uma
longevidade que vem de sempre sermos capazes de nos colocar dentro de
uma contínua redefinição destes sons. Mesmo em termos de formato, a
mudança, visando o lucro, para o mercado de CD, que deveria ter
significado que antigos catálogos poderiam ser revendidos, também
serviu para proporcionar um abastecimento on-line de história musical ao
mesmo tempo em que a prensagem de vinil ficou mais barata. Estes e
outros fatores alimentam a mutação acelerada que por sua vez cria uma
insatisfação com o que a indústria pode oferecer.
2. Avanços na tecnologia significam que todo tipo de equipamento está
agora disponível para reapropriação por quem quer que tenha tempo de
aprender como usar, abusar, redefinir e remontar. Que já não haja mais
“o som” em torno do qual a música esteja organizada significa que tudo é
fonte material potencial para uma prática que não mais se chama a si de
música. Com certeza, as antigas categorias que foram designadas para
músicas diferentes agora só tem sentido como um modo de divisão, um
padrão para o consumidor que limita a estimulação. Da guitarra passamos
para a tecnologia do sampler, picapes, fitas, teclados analógicos e digitais,
do rock, disco, punk, para o techno, drum´n´bass e trip hop para uma
indiscernível mistura que cria novas possibilidades para interação tanto
quanto condições de recepção intensificadas e deslegitimadas. Ambas
escapam do controle institucional da indústria e da mídia e, na medida
em que “subvertem as formas do imaginário” ao desafiar o que é
aceitável pensar, elas forjam os meios de escapar dos “modelos
repressores dominantes” de uma subjetividade herdada: a música revela
a consciência individual como um fato sócio-ideológico, como algo
contextualizado.
3. Desde que a “música” se livrou da necessidade de letras, a
predominância de uma música eletrônica de textura, tonalidade irrestrita,
densidade de timbre e paroxismo rítmico significou que ela estava
liberando aqueles que a ouviam para escutar com mais atenção os ritmos
e sons que eles não reconheciam. Acontecer no contexto da música dance
significou que este processo de escuta intensificada era tão sensual
quanto cerebral, e como estes levavam as pessoas a direções nunca
ouvidas, eles ficaram situados como parte de um desejo coletivo que os
predispôs uns aos outros, inspirando movimentos na direção de novas
formas de coletividade: se Marx podia considerar o proletariado como
uma manifestação concreta da teoria, então talvez a música
contemporânea pode ser vista como uma portão de entrada para a nova
coletividade, já que ela situa os sujeitos dentro de uma estrutura
emergente de escuta que oferece a confirmação experiencial de uma
configuração social(1). A liberação do ouvinte, pela dança, levou não só a
esta crescente sociabilidade, à memória coletiva das canções, mas, com a
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