Esquizofonia



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Paraísos artificiais  
 
Meios químicos de atuar nos NTs nem sempre são experiências felizes, 
especialmente quando se tem a “alma” doente. Sem querer estereotipar, 
o ecstasy por exemplo, depois de 20 a 60 minutos passa para a corrente 
sanguínea e se espalha para todo o corpo. Quando a substância alcança o 
cérebro, têm início os efeitos. Ela atua sobre 3 neurotransmissores: a 
serotonina, a dopamina e a noradrenalina. O NT mais atingido pelo "E" é a 
serotonina - que controla as nossas emoções e também regula o domínio 
sensorial, o motor e a capacidade associativa do cérebro. O ecstasy 
estimula a superprodução de serotonina bem como dificulta sua 
recaptação pelos neuroreceptores (NR) do outro neurônio, aumentando 
assim a quantidade dessa substância na sinapse. Verdadeiro desespero de 
NTs procurando "buraquinhos" (NRs) no neurônio seguinte para se 
encaixarem numa busca frenética por equilíbrio, mas sem resultado. 
 
Como a serotonina também é reguladora da temperatura do corpo, o 
risco imediato de quem toma o ecstasy é o da hipertermia, ou 
superaquecimento do organismo. As mortes associadas à droga são 
decorrentes quase sempre da elevação da temperatura do corpo acima 
dos 41 graus. A partir dessa temperatura, os riscos são eminentes. O 
sangue pode coagular produzindo convulsões e parada cardíaca. 
Recomenda-se acima de tudo “informação” ao lidar com os meios 
químicos de estímulos cerebrais. Mesmo fármacos tidos como 
“inofensivos”, podem danificar esse instrumento de manifestação anímico 
que é o nosso corpo. 
 
A alteração na produção, captação ou retenção dos NTs são úteis se vistas 
como auxiliares, que podem aliviar os sintomas físicos de abalos anímicos, 
permitindo às pessoas atingidas tomarem um alento, a fim de que possam 
mudar a sua sintonização interior. Contudo, elas não trazem a cura de 
males anímicos, e muitas vezes essa sintonização é associada a um 
ambiente que nem sempre apontará para um “alívio”. Muitas vezes, os 
meios tornam-se fins, e a pessoa “fraca” ou mal informada, acaba 
canalizando sua energia vital para a auto-destruição da harmonia de sua 
nave corporal. 
 
A diversidade nos mecanismos de neurotransmissão permite ao cérebro 
atender a várias demandas. Algumas ações requerem rápidas respostas, 
como pisar com o pé no freio ou desviar de uma árvore, desviar a bola 
para o gol, entrar num vagão do metrô depois do sinal de fechamento das 
portas ou tirar a mão de uma chapa quente. Para processar e enviar a 
informação necessária existem grandes fibras nervosas que conduzem os 
impulsos a cerca de 100 metros por segundo. Outras atividades, como 
algumas ligadas ao aprendizado, carregam a informação mais lentamente, 
a 20 ou 30 metros por segundo. O constante uso químico de estímulos 
neuronais podem alterar drasticamente a velocidade dessa transmissão 
de dados, prejudicando memória, coordenação, humor, 
descontroladamente. Não dá para seu corpo funcionar em estado 
overclock quando você quiser. 
 
A transferência de informação entre as sinapses é um processo complexo 
e cheio de diversidades. Nem todos os sinais repassados de neurônio a 
neurônio têm como mensagem a estimulação. Em alguns casos, o 
neurotransmissor liberado tem justamente a missão de "tranquilizar" e 
inibir a célula vizinha. Sem esse efeito modulador e demodulador, o 


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cérebro entraria em colapso com o fluxo de dados. A estimulação 
simultânea e desordenada de células podem resultar em manifestações 
desastrosas, como por exemplo crises epiléticas. 
 
No caso do estímulo sonoro para a liberação desses NTs, alguns fatores 
estão diretamente associados como no caso do ritmo definido por uma 
freqüência sonora. Existe uma forte relação entre freqüência e estímulo. 
Uma marcha militar tem uma freqüência (bem como efeito 
biopsicoeletroacústico) completamente diferente de uma marcha 
fúnebre. 
 
Nas “ambientações” urbanas para a música eletrônica, um outro tipo de 
freqüência é unido à sonora: a cromática. As cores têm freqüências muito 
particulares também e estimulam diretamente a liberação/captação dos 
NTs e NRs pelos neurônios. 
 
 
A falta de sensibilidade e interesse pelo bem-estar, a atitude selvagem e 
capitalista pró-consumo, uso insano e sem propósito de estímulos 
sonoros e visuais, é o que geralmente encontramos na versão popular da 
música eletrônica de pista. A luz, as cores, os símbolos, a saúde das 
pessoas, são tão importantes como a música. 
 
Alguém nos enviaria uma lista de exceções para elencarmos aqui? 
Gostaria sinceramente de fazer uma lista de lugares realmente 
recomendáveis. Não porque tal Dj da moda vai se apresentar, ou porque 
mulheres entram "na faixa", ou porque o preço das bebidas alcoólicas é 
baixo, mas porque DJs, LJs, produtores etc, estejam realmente 
empenhados em outras coisas além de dinheiro às custas da saúde física, 
mental e espiritual das pessoas.  
 
Mais do que um ambiente de anestesia cerebral e descontrole de libido, 
fica no ar a nossa proposta de integrar estímulos em prol de 
entretenimento saudável associado à cultura e à consciência urbana e 
planetária. Se você, como nós, está “enfarado” das opções que encontra, 
terá mais chances de sobrevivência se estiver unido a semelhantes. 
 
Mais do que apologia a qualquer projeto, procuramos por “vida 
inteligente” em nosso planeta mesmo, porque o "ET" que todo mundo 
espera já veio, só que o mataram porque ele era a Verdade. 
 
Sugestão p/ leitura: 
A Música Moderna - Uma história concisa e ilustrada de Debussy a 
Boullez, Paul Griffiths. Tradução: Clóvis Marques; 208 páginas, +/- 
R$22,00. 
 
 
 
 


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