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maquilas, ni siquiera capital para pagar la deuda externa (la deuda eterna), sino
trabajo. Exportábamos trabajo más que cemento o jitomates. Él tenía un plan para
evitar que el trabajo se convirtiera en un conflicto. Muy sencillo: evitar el paso por
la frontera. Evitar la ilegalidad. (FUENTES, [1995] 2007, p. 180)
Tocada aqui a questão da fronteira, ela é discutida entre o influente empresário
mexicano e o personagem Robert Reich, na narrativa, Secretário de Trabalho dos Estados
Unidos, que adverte ser a fronteira de fato e também um problema político, chamando a
atenção para a exploração republicana de um crescente ânimo que se voltava contra os
imigrantes. Mantendo, então, uma linha narrativa que aborda ficcionalmente o problema
empírico da fronteira México-EUA, o narrador de Fuentes traz uma sentença de don Leonardo
Barroso, que trabalha uma interessante adjetivação entre o literal e o abstrato para essa mesma
fronteira: “No se puede militarizar la frontera (...). Es demasiado larga, desértica, porosa. No
pueden ustedes ser laxos cuando necesitan a los trabajadores y duros cuando no los necesitan”
(Ibid.).
É interessante notar como nas predicações dadas à fronteira há uma gradação onde, na
verdade, o literal perde força, emprestando-a para o aparentemente abstrato da insistência na
porosidade, inclusive de relações, da linha fronteiriça mexicano-estadunidense. Esse efeito,
lógico, serve à imagem ampliada, esticada por reforço, do cristal para significação associativa
também para a fronteira, dada pela amplificação da ideia de fragilidade proposta pela e
incutida na metáfora principal do enredo. Diante desse logro, mesmo um aparente
posicionamento de Fuentes, levado à fala de seu personagem, perde importância, sendo mais
relevante sua proposição da metáfora em destaque como praticamente um termo que por
analogia, e dependendo do grau de recepção e divulgação de sua obra poderia até mesmo vir a
tornar-se, tomado ser como um conceito, mais além da figura de imagem que é.
No romance, entretanto, a amplificação ainda maior da metáfora chave que segue seu
desenvolvimento na sua insistência de repetição passa, de volta ao conto “La frontera de
cristal”, pela resposta do secretário Reich a Leonardo Barroso. À posição do mexicano, o
secretário estadunidense responde com uma abertura ao final: “Yo estoy a favor de todo lo
que añada valor a la economía norteamericana (...). Sólo así vamos a añadir valor a la
economía del mundo – o viceversa – ¿Qué propone usted?” ((FUENTES, [1995] 2007, p.
180 – grifo meu).
A resposta do personagem Reich com uma sugestiva pergunta ao fim é, na verdade,
uma abertura que Fuentes concede não só ao seu don Leonardo Barroso, figura representativa
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de uma espécie de self-made man mexicano
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, mas, principalmente, a ele próprio, para que o
narrador coiote de seu romance possa seguir dando margem de desenvolvimento à metáfora
da separação na frágil fronteira de cristal, uma “simples” e translúcida membrana de vidro que
mesmo em toda a sua fragilidade separa México e Estados Unidos, mexicanos e
estadunidenses.
Será, pois, a partir da abertura concedida pelo secretário do Trabalho do Governo dos
Estados Unidos que o enredo de Fuentes em “La frontera de cristal” encontrará meios de
inserir os dois personagens responsáveis por encarnar a imagem principal do conto e da obra,
sua metáfora principal, sua metáfora ampla. O primeiro deles é Lisandro Chávez, filho de uma
classe média trabalhadora e falida em um México cujas sucessivas crises econômicas levaram
à bancarrota a pequena fábrica de refrigerantes de seu pai, indefesa ante os monopólios que
tomaram conta do setor em vinte anos de sufoco financeiro para os fabricantes independentes.
Pois é esse Lisandro que experimentara durante a adolescência as benesses de poder ir a
clubes, festas, frequentar escolas particulares, ler bons livros que, agora falido como seus pais,
busca aos vinte e seis anos “un trabajo honesto, un trabajo que me salve del desprecio hacia
mis padres, del rencor hacia mi país, de la vergüenza de mí mismo pero también de la burla de
mis amigos” (FUENTES, [1995] 2007, p. 185). É assim que, mesmo sentindo-se deslocado
entre outros noventa e três compatriotas mexicanos em um avião que os leva legalmente aos
Estados Unidos, Lisandro busca “ahora nueva oportunidade, ir a Nueva York como trabajador
de servicios” (Ibid.).
Lisandro Chávez é um dos trabalhadores mexicanos contratados legalmente como
servicios pelo self-made man mexicano Leonardo Barroso, a fim de que em um final de
semana custassem menos aos bolsos dos sócios gringos de don Barroso do que eventuais
trabalhadores estadunidenses, porque, como conta a narrativa, para estes mexicanos
[L]as cosas andaban tan mal en México, en sus casas, que no les quedaba más
remedio que rendirse ante tres mil pesos mensuales por dos días de trabajo en Nueva
York, una ciudad ajena, totalmente extraña, donde no era necesario intimar, correr el
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Parte do mito de americanidade sempre vitoriosa estadunidense, o mito do sonho americano passa também
pela constituição de outro mito próprio de sua cultura: o do self-made man, o homem que se faz a si próprio, que
vence, ou melhor, que enriquece por si mesmo, por seu próprio esforço. Com uma ambição que nem sempre
conhece limites, a própria marcha do homem anglo-americano rumo ao oeste, avanço que se solidificou na
história e na cultura do país como “a conquista do oeste” termina por servir como fator primordial para o falso
sentido de homogeneidade, de unidade e mesmo de univocidade historiográfica dados à formação de uma
identidade nacional estadunidense ancorada em mitos evocados como o do self-made man. Ao compor e fazer
assim de don Leonardo Barroso um homem vitorioso no México, desafeito a filantropias, especialmente no que
se refere à família, homem cuja ambição também não conhece limites, Fuentes encarna ironicamente na figura
do poderoso empresário que cria em sua ficção características próprias do mito estadunidense do self-made man,
com Barroso avançando, em uma espécie de revés revanchista, as fronteiras para o outro lado, o lado de lá
“anglo-americano”.
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