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lejano y más allá las cúpulas de oro, las torres de vidrio, los cruces de las carreteras
como grandes alamares de piedra… Pero eso era del otro lado de la frontera de
cristal. Acá abajo, la guía de turismo tenía razón: no había nada. (FUENTES, [1995]
2007, p. 10)
O trecho nos aproxima de constatações que vão se concretizando durante o seguimento
do texto. Aqui a noção primeira é a do espelhismo, que aproxima ao mesmo tempo do real e
da imaginação, trazendo uma terceira equivalência, a da relativização da distância entre
ambos, real e imagético, tal como pode ser visto também na introdução do próprio El espejo
enterrado (Cf. FUENTES, [1992] 2010, p. 7-13), desde o qual o autor parece coletar parte das
ideias e informações que desenvolve na ficção de La frontera. Tal espelhismo
(simbolicamente também representado pelo “río lejano” que une e separa dois mundos) segue,
ainda, nas “torres de vidrio” do outro lado (o lado estadunidense), expressão denotativa, ela e
a sequência descritiva da qual faz parte, da predileção pela imagem através da linguagem
literária metafórica a ser adotada para narrar a obra, razão por que as descrições altamente
metaforizadas se repetirão.
A aproximação do cristal ao vidro, a representação que o aproxima de sua variedade
de quartzo vítreo, aqui, ainda no fragmento citado, apenas uma pista, será também outra
constante da metaforização posta em prática, eclodindo na representação máxima do sétimo
conto do romance, aquele que empresta seu título à obra
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. Além disso, a primeira inclusão da
expressão fronteira de cristal traz consigo o artifício, o uso de claras oposições binárias (“allá”
x “acá”, tudo x nada, acima/desenvolvido x “abajo”/subdesenvolvido) as quais, ainda sem o
importante auxílio de outra figura de imagem, a metonímia, dão conta das primeiras
aproximações da obra à totalidade, à visão de um todo, mesmo que seja de uma determinada
situação, que sugerem os imaginários.
Pouco adiante, ainda no primeiro capítulo, e a alusão à fronteira por metáforas,
especialmente ao lado estadunidense, “o outro lado”, segue. Quando, ao fugirem de uma festa
só para mulheres dada por doña Lucila, esposa de don Leonardo, em sua mansão, Michelina e
seu poderoso padrinho tomam a estrada, ele, interessado em garantir que a afilhada se casasse
com seu filho, promete que “para ella sería todo el dinero, todo el poder, ahora sólo veía el
desierto encuerado, pero su vida podía ser como esa ciudad encantada del otro lado de la
frontera, torres de oro, palacios de cristal...” (FUENTES, [1995] 2007, p. 24).
Uma vez mais a oposição metafórica do lado mexicano – “el desierto encuerado” –
para com o lado estadunidense da fronteira, “esa ciudad encantada”, e suas “torres de oro,
75
Ainda que não traga em si uma síntese, um resumo do enredo, o conto “La frontera de cristal” reunirá a
resultante da fixação reptícia da fronteira de cristal enquanto ideia alusiva de fragilidade e espelhismo.
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palacios de cristal”. A repetição de valores de gradação determinada para cada lado da
fronteira começa, assim, a implantar imaginários opositivos, tanto pelas vias da metaforização
na linguagem literária adotada quanto a partir da metáfora ampla que pouco a pouco começa a
se desenvolver, com o reforço, inclusive, da repetição do verbete “cristal”. É claro que há aqui
a possibilidade de leitura da imagem, ou das imagens passadas, sob outro contexto, o que
configuraria a ação e criação de uma alegoria. Nesse caso, a interpretação nos levaria a um
interessante jogo de remissão cronotópica, de troca cronotópica
76
, onde a história toca por
remissão e contraposição alegórica o ouro e o epíteto de eldorado que um dia esteve do lado
mexicano da fronteira, sonho dourado que povoou tanto a mente do invasor espanhol quanto a
do wetback estadunidense que ilegalmente atravessou a fronteira para um Texas ainda
mexicano antes da independência que deflagraria a guerra de 1846 a 1848 com a União
Americana. Tal alegoria pode, inclusive, ser encontrada no texto-rio que atravessa todo o
conto final de La frontera, em novo encontro com a história da hispanidade norte-americana
sobre a qual também se debruça Fuentes em El espejo enterrado (Cf.: p. 444-5-6).
No entanto, há que se reparar a elaboração do pensamento, de argumentos, de
raciocínio para que se chegue à alegoria, há que se notar a necessidade de transposição a
novos contextos para que seja compreendida, apreendida, afora as perdas, a ruína e o luto que
de fato sugere toda essa interpretação dada ao pequeno trecho que deu vazão a todo este
aparte. A metáfora, entretanto, é mais direta e, mesmo no avanço inicial do enredo, começa a
se configurar e ganhar vez sobre a alegoria, pela insistência na repetição das imagens que
sugere. Não nego que ambas possam coexistir na leitura de um dado recorte literário, na
interpretação de um mesmo fragmento, o que pode até ser o caso desse trecho ora em
destaque. Porém, o imaginário se calca justo na repetição contínua das imagens e no imediato,
na transferência imediata de sentidos que é dada pelo uso da metáfora. Para que imaginário
seja não resistiria à elaboração da alegoria, razão pela qual necessita do simplismo imediato
da transferência de sentidos proposto pela metáfora como até aqui se apresenta nessa mostra
literária. É desse modo que ele, imaginário, pela imagem quase imediata da metáfora,
especialmente no tangente às especifidades literárias destacadas no romance em tela, forma-se
e se torna apreensível e passível de captável como imaginário ser pela mente imaginante.
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Remeto o leitor à obra Questões de tempo e estética – a teoria do romance (BAKHTIN, 1998), que publica
um esquadrinhamento do autor russo a respeito de sua teorização sobre a categoria de cronotopo no romance.
Apesar do valor inestimável da obra de Bakhtin, suas observações não se veem aqui desenvolvidas em função do
recorte através do qual propus atenção voltada mais para a identificação da noção de literariedade tal como
empregada nos romances em epígrafe e em sua consequente relação para com o tratamento literário de imagem e
imaginários nas referidas obras.
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