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Com esse fragmento, o qual um Fuentes, aqui, nada confiável carrega de ironia,
contemplo, por ora, os vieses pelos quais se estreita a narratividade coiote a respeito da qual
me propus falar como caminhos, ou descaminhos, que o narrador procura criar e deles se
utiliza rumo a dar vez à apresentação de imaginários. Foram estes vieses abordados: uma
escrita que se encaminha para o entendimento de que seja o uso de uma prosa mais poética;
uma linha narrativa mais dura, de escrita mais forte, às vezes beirando o abjeto, crua e
também até mesmo aparentemente de tom mais pessimista, desalentadora; e a comicidade
narradora, por enquanto, mais pelas vias da ironia.
Não me detenho tanto aqui no espaço do cômico porque muito das passagens de
humor questionador do livro está presente justo no capítulo “El despojo”, de onde obtive e
utilizei a última citação desse tópico. A razão do momentâneo não aprofundamento maior
desse viés cômico se deve ao fato de que o capítulo mencionado é, ademais, importante na
análise que virá à tona logo a seguir, em tópico dedicado a levantar o que chamo de metáfora
ampla. Estando dessa maneira de volta ao conto de Dionisio “Baco” Rangel, decerto
retornarão, embora não venham mais a ser o foco da abordagem seguinte, questões que
envolvam a comicidade que imprime a seu narrar esse narrador coiote de Carlos Fuentes no
romance
La frontera de cristal.
3.2
Metáfora ampla, o recurso de imagem na obra
No Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa (2004, versão eletrônica) a palavra
metáfora surge como sétima opção de sinônimo para o verbete imagem. Não é muito comum,
entretanto, que, em outros dicionários, fuja dessa espécie de “ranqueamento” dirigido a dar
conta de todo o amálgama que envolve o termo. Está, assim dessa forma, vinculada à
categoria de imagem verbal, embora, como defendo, nasça primeiro no pensamento para,
depois, ser verbalizada no campo do linguístico. E do literário.
Em
La frontera de cristal,
a metáfora, também um tropo linguístico, aparece como um
recurso de imagem literária, um efeito de estranhamento, de literariedade na obra, que pode,
pela mão de sua narratividade coiote já evidenciada, conduzir o leitor a tomar contato com
imaginários prévios, ou pelo romance levantados, a respeito das relações de alteridade ali
trabalhadas. Desvendar de que modo esse processo ocorre importa, sobremaneira, na
compreensão de como este romance em contos de Carlos Fuentes contribui para o imaginário
supracitado.