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No estudo das figuras geométricas, acertadamente, tem sido priorizada a classificação em duas famí-
lias distintas: as planas e as não planas (ou espaciais). Como sabemos, as primeiras são aquelas nas
quais existe um plano contendo todos os pontos dessa figura; as figuras não planas são
todas as de-
mais. A classificação das figuras geométricas segundo sua dimensão, estudada nos livros aprovados,
também é importante, mas as relações entre essas duas classificações ainda não têm sido abordadas
de modo apropriado. Por exemplo, nem sempre fica claro que, em um cubo – figura geométrica não
plana – podemos identificar: uma figura
tridimensional
, considerando os pontos interiores e os do
contorno do cubo; uma figura
bidimensional
, tomando apenas o contorno do cubo; uma figura
unidi-
mensional
, que reúne
as arestas do cubo; e, finalmente, uma figura geométrica de
dimensão zero
, a
união dos vértices do cubo. É fácil encontrarmos modelos para essas figuras geométricas no mundo
físico, podendo-se indicar, respectivamente, um dado maciço, uma caixa cúbica oca, um esqueleto
cúbico feito de canudos, ou uma disposição cúbica de partículas.
Trata-se, aqui, de um bom momen-
to, nem sempre aproveitado nos livros, para ressaltar um aspecto importante da linguagem matemá-
tica, porque não só os quatro conceitos matemáticos em foco como seus correspondentes modelos
físicos podem ser denominados por uma única palavra: cubo.
Nos livros didáticos para o Ensino Médio, tem-se recorrido ao princípio de Cavalieri para calcular
volumes, o que é bem apropriado, pois, de outro modo, seriam exigidos métodos infinitesimais. No
entanto, é necessário cuidado ao empregar esse princípio. Nos livros,
nem sempre se justifica de
modo satisfatório a igualdade das áreas das seções dos sólidos em jogo, necessária para aplicação
do referido princípio. Sabemos que, para tanto, precisamos recorrer de modo adequado aos concei-
tos geométricos de congruência e de semelhança entre superfícies, o que por vezes não se faz.
Ainda com respeito à geometria espacial, nota-se tendência análoga à encontrada na apresentação
da geometria plana, que é a ênfase nas classificações e a carência de problemas instigantes. Em espe-
cial, recai-se em monótonas aplicações da álgebra nos exercícios sobre áreas e volumes. Somente em
algumas obras, mas ainda de modo incipiente e não de todo livre de imprecisões, observa-se maior
exploração da capacidade de visualização do estudante, tão necessária
em estudos posteriores e em
muitas profissões, como as ligadas à mecânica, à arquitetura e às artes. A apresentação de vistas de
sólidos mais complexos é uma ótima oportunidade para exercitar a capacidade de visualização es-
pacial dos estudantes. Porém, no Ensino Médio, geralmente não se tem contribuído suficientemente
para o aperfeiçoamento das habilidades de desenho e de visualização de objetos geométricos espa-
ciais. É necessário, assim, que se dê importância ao trabalho com diferentes perspectivas, projeções,
cortes, planificações, entre outros recursos de representação dos objetos.
Em todas as obras aprovadas, estudam-se os poliedros que são, geralmente, definidos como figuras
geométricas tridimensionais e, por isso, espaciais. Sabemos que as superfícies que compõem o con-
torno dessas figuras são também espaciais, mas não são tridimensionais e, sim, bidimensionais. A
esse respeito, ao serem propostas atividades de planificação, é preciso deixar claro que elas visam à
planificação da superfície do poliedro e não a do poliedro como um objeto tridimensional.
Nas coleções
resenhadas neste Guia, aborda-se a Relação de Euler. Em todas elas, há cuidado na for-
mulação da hipótese de convexidade do poliedro - e na indicação de que tal hipótese não é necessá-
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ria para a validade da relação - bem como na apresentação de contraexemplos no caso de poliedros
não convexos. No entanto, a Relação de Euler torna-se um tema mais relevante quando se estudam
suas aplicações na Matemática. Uma das mais instigantes é a que conduz ao fato surpreendente de
que só existem 5 poliedros regulares, os chamados Poliedros de Platão.
Observa-se que muitas das
coleções aprovadas tratam desse fato, mas outras o omitem e se restringem ao emprego direto da
relação em exercícios corriqueiros e pouco estimulantes.
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