Universidade Federal do Rio de Janeiro a relaçÃo literariedade, imagem e imaginários em



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e  da  linguística,  os  formalistas,  análogos  historicamente  ao  futurismo  (Cf.  EIKHENBAUM, 
[1925]  1973,  p.6),  apresentam-se  como  opositores  abertos  da  escola  que,  pouco  a  pouco 
passava a perder muito do espaço e predomínio conquistados até então: o simbolismo russo e 
a teoria que se desenvolveu ao redor desse estilo poético. A esse respeito, um dos nomes mais 
confrontados,  mais  questionados  é  o  do  teórico  literário  Potebnia
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,  defensor  da  associação 
imediata e inequívoca entre arte, entre a poética, a literatura e o pensamento por imagens.  
Em  “A  arte  como  procedimento” 
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  (1917),  o  formalista  Viktor  Chklovski  parte  do 
axioma simbolista “A arte é pensar por imagens” e da frase “Não existe arte e particularmente 
poesia  sem  imagem”  (POTEBNIA,  1905,  p.83)  para  criticar  tal  associação.  Segundo 
Chklovski,  tais  “argumentos”  poderiam  ser  reduzidos  a  uma  espécie  de  equação  das  mais 
simplórias,  contida  em  termos  onde  teríamos  “a  poesia  =  a  imagem”.  Ainda  para  V. 
Chklovski, esta “equação”  
 
[s]erviu  de  fundamento  a  toda  teoria  que  afirma  que  a  imagem  =  o  símbolo,  =  a 
faculdade  de  a  imagem  tornar-se  um  predicado  constante  para  sujeitos  diferentes. 
Esta  conclusão  seduziu  os  simbolistas  (...)  pela  afinidade  com  as  suas  ideias,  e  se 
acha na base da teoria simbolista (CHKLOVSKI, [1917] 1973, p. 41). 
 
O que por vezes  se confunde é o  fato de que a crítica  formalista  não foi direcionada 
propriamente  à  questão  da  imagem  na  literatura,  mas,  sim,  ao  modo  como  tal  questão  era 
colocada pelo  movimento e pela teoria simbolistas. A crítica está no resumir arte, literatura, 
poesia  em  imagem;  está,  até  mesmo,  na  simplificação  simbolista  da  relação 
imagem/arte/literatura. Tal simplificação exagerada depõe contra o papel da imagem em sua 
correlação com a literatura, simplismo que se deixa evidenciar nos apontamentos de Potebnia, 
já seja quando  este escreve que “a  imagem é  muito mais simples e  muito  mais clara do que 
aquilo  que  ela  explica”  (POTEBNIA,  1905,  p.  314),  ou  mesmo  quando  expõe  opinião 
segundo  a  qual  a  imagem  “deve  ser  para  nós  mais  familiar  do  que  aquilo  que  ela  explica” 
(POTEBNIA, 1905, p. 291).  
Eis,  assim,  uma  das  bases  da  cisão  entre  o  pensamento  formalista  e  o  pensamento 
simbolista  a  partir  das  considerações  de  Potebnia.  Para  V.  Chklovski,  e  como  uma 
representação do pensamento formalista, a imagem a partir das observações de Potebnia tem 
status  totalizador  no  estudo  e  no  desenvolvimento  artístico  da  poética  levados  a  cabo  pelo 
                                                             
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  Aleksandr  Potebnia  (1835-1891).  As  proposições  apresentadas  pelo  ucraniano  Potebnia  viriam  a influenciar 
não  somente  a  poesia  simbolista  russa,  mas,  também,  toda  a  crítica  e  busca  de  teorização  literária  que  se 
desenvolveu ao redor do simbolismo russo. 
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 Também traduzido como “A arte como processo”, derivando das possibilidades de tradução para o termo russo 
priom


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simbolismo  russo,  reduzindo  ao  extremo  a  amplidão  de  possibilidades  advindas  do  estudo 
mais atento do poema. Deste modo, partindo do poema para um todo literário, à relevância da 
imagem  levantada por Potebnia o formalismo opõe e apresenta o estudo do som  nos versos, 
na rima, na métrica, na poética. No entanto, ainda assim, resulta de interesse para a presente 
pesquisa a inversão proposta pelo formalismo, evidenciada desde Chklovski.  
Para  o  formalismo,  a  definição  de  Potebnia  quanto  à  imagem  na  literatura,  esse 
simplismo,  dá-se  porque  se  a  vincula  à  linguagem  poética,  quando,  em  verdade,  tal 
familiarização  deveria  ater-se  tão  somente  à  linguagem  quotidiana.  E  é  justo  na  oposição 
linguagem quotidiana x linguagem poética que entra em cena a inversão de papéis na relação 
imagem/literatura  defendida  pelos  formalistas.  Por  conseguinte,  é  aqui  que  entra  em  jogo  a 
questão do estranhamento de que falará Viktor Chklovski, vinculada ao novo entendimento do 
papel da imagem como um correlato da linguagem poética e, não, da cotidiana. 
O termo  ostranenie  (
остранение)
 utilizado por V. Chklovski para designar o que hoje 
se tornou comum traduzir-se  na teoria  literária em  língua portuguesa por “estranhamento” é 
um  neologismo  introduzido  à  língua  russa  por  esse  formalista.  Ao  longo  dos  anos,  sua 
abrangência  derivou  desde  certo  desfamiliarizar,  singularizar  como  característica  própria  e 
atinente  ao  processo  de  compreensão,  apreensão  da  arte  como  um  todo  e,  mais 
especificamente, da linguagem poética, da arte literária, até a identificação do que causam no 
receptor  desse  processo  artístico  tais  efeitos  de  estranheza,  de  estranhamento  (para  o  caso 
literário,  por  exemplo,  sua  estética  própria,  o  estilo  de  um  autor,  o  uso  da  metáfora,  da 
metonímia ou de outras figuras de linguagem).  
Em suma, a complementação, derivação e evolução das proposições iniciadas por e em 
Chklovski  passa  da  busca  de  tradução  de  seu  neologismo  a  todo  um  processo  de 
desdobramento da noção teórica proposta por esse formalista a partir de seu 
остранение
. Ainda 
assim,  em  todo  esse  processo  de  desenvolvimento  do  termo  (ou  da[s]  terminologia[s]  que 
surge[m] a partir dele), são em certa medida análogas a desautomatização, a desfamiliarização 
da língua quotidiana buscada desde o trabalho com a arte, a linguagem poética, a arte literária, 
singular. É nesse ponto-chave que se chocam a função da imagem para Potebnia e a função da 
imagem  para  os  formalistas.  Enquanto  para  aquele  a  imagem,  apesar  de  exercer  papel 
fundamental na arte poética (na literatura), é mais familiar do que aquilo que tem por função 
explicar, para estes (e em especial quando tocamos no texto de Viktor  Chklovski) a imagem 
tem por objetivo buscar criar uma percepção singular do objeto, oferecendo-nos uma visão, a 
visão desse objeto e, não, seu reconhecimento.  


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