Esquizofonia



Yüklə 4,54 Kb.
Pdf görüntüsü
səhifə76/79
tarix14.12.2017
ölçüsü4,54 Kb.
#15678
1   ...   71   72   73   74   75   76   77   78   79

190 
 
SOUNDESIGN 
Lucília Borges 
 
 
  
A música e o design, ou antes sons e imagens, já não se distinguem como 
duas potências isoladas ocupando campos distintos. O som, matéria-
prima da música, transita entre imagens que se transmutam em sons num 
espaço que dá a entrever o vazio. Sons e imagens, como ondas sonoras e 
luminosas que se entrelaçam, passam a ocupar ou antes a se entrecruzar 
num espaço vibrátil, constituído da mesma matéria de que são feitos: 
vibração, frequência ativa, movimento. 
 
O vazio não é o contrário de cheio, está cheio de partículas vibráteis onde 
tudo é matéria e produz vibração. Surge como um corpo com infinitas 
possibilidades e se esvanece logo em seguida até perder todas as suas 
propriedades, mas é todavia existente. É uma possibilidade não ocupada 
pelo corpo mas passível de ser ocupada(1). “(...) Um vazio que não é um 
nada, mas um virtual”(2) . 
 
 
A “não-presença” do virtual não implica a sua inexistência pois “o virtual 
tende a atualizar-se sem ter passado no entanto à concretização efetiva 
ou formal”(3). O pensamento, a imaginação, a memória, um texto ou 
imagem na rede, a música, uma conversa telefônica não possuem um 
espaço fixo, demarcável mas reconhecemos a sua existência. “Quando 
uma pessoa, uma coletividade, um ato, uma informação se virtualizam, 
eles se tornam ‘não-presentes’, se desterritorializam”(4). Nesse sentido o 
design mudou de natureza e escapou ao seu lugar comum para se 
desterritorializar em espaços virtuais como o espaço da música.  
 
O conceito de virtual no design ou de um design virtual surgiu com a 
tecnologia mas pode ser observado em outros momentos na história do 
design à medida em que seus “objetos” atualizam forças que os 
atravessam. O ciberespaço, espaço de relações em tempo real, e a 
tecnologia, suporte ou ferramenta para simulações em duas, três e quatro 
dimensões, ou seja, nova ferramenta de “projeto”, propiciam 
virtualizações no design mas não são suas determinantes, uma vez que o 
conceito de “realidade virtual” está ligado tanto ao ciberespaço (e 
consequentemente às novas relações de vizinhança, distâncias e 
fronteiras geográficas, relações pessoais, etc.) e às mídias de comunicação 
virtuais (os computadores, por exemplo) quanto às virtualizações e 
atualizações que ocorrem, tanto no design quanto na música, 
independentemente da presença da tecnologia.  
 


191 
 
Não se trata, portanto, de um design subordinado ao ciberespaço ou às 
mídias digitais, mas um design que responde a eles de forma inventiva, 
criativa e inovadora e que se vale deles para estabelecer novas relações 
para além do “projeto”. A tecnologia colocou o designer em contato com 
novas ferramentas de “projeto” que mudaram a sua própria natureza, ou 
seja, projeto, processo e produto incorporaram novos conceitos. “Face a 
uma tal mistura de natureza dinâmica, tudo é plena potencialidade, tudo 
passa a ser virtualidade”(5). 
 
O signo do design passou a ser da ordem do virtual, da diversidade e da 
multiplicidade de relações entre todos os sentidos. E sendo “virtual” o 
design não possui uma “forma”, nem um lugar fixo, o espaço das relações 
é da ordem do vazio e não de lugar, “pois mesmo o vazio é uma sensação, 
toda sensação se compõe com o vazio”(6) o que torna possível uma 
aproximação entre a música e o design. 
 
A música e o design hoje não apenas se “tocam” mas se fundem numa 
“figura andrógina” sem que se possam distinguir as vizinhanças, lugares 
ou bordas onde um começa e o outro termina (7).  
 
“Não se trata, como se sabe, diante de semelhante mistura, de passagem 
de um corpo dentro dos interstícios vazios de um outro, caso em que 
haveria sempre continente e conteúdo. Mas sim da fusão íntima e em 
todos os pontos dos dois corpos. A ação dos corpos.”(8)  
 
Algumas palavras já nascem carregadas de sentido mesmo que não 
tenham ainda desvelado-se ao “grande público”. Sentido latente. A esse 
corpo mesclado, “compósito e misturado”(9), demos o nome de 
soundesign como uma potência entre a música e o design. Uma potência 
que não é uma coisa nem outra mas um entre os dois. Está na fronteira 
ou é a própria fronteira entre a música e o design, entre som e imagem, 
uma fronteira onde o contorno é imperceptível porque até o próprio 
contorno é antes borrado ou rasgado para que um “sopro” lhe conceda a 
vida. “(...) Onde e como distinguir o lugar da solda ou do corte, o sulco 
onde a ligação se ata e se aperta, a cicatriz onde se juntam (...) o inerte e 
o vivo (...)” (10)? 
 
Não se trata, entretanto, de um “entre” como “meio” ou traço que separa 
uma coisa e outra como se se passasse de um lugar a outro simplesmente 
(“Isto seria assim se o meio se reduzisse a um ponto sem dimensão”[11]), 
mas de um e(ntre) como potência “que os arrasta um e outro numa 
evolução não paralela, numa fuga ou num fluxo em que já não se sabe 
quem corre atrás de quem, nem para qual destino”(12). Ir de um domínio 
a outro implica mudança de natureza, não apenas mudar de margem mas 
abandonar qualquer domínio, sem no entanto, apagar por completo o 
que se foi (“Esqueceu, obrigatoriamente, mas mesmo assim se 
recorda”[13]). 
 
soundesign, múltiplo e universal (“aquilo que embora sendo único verte 
em todos o sentidos”[14]), não está somente na fronteira entre a música 
e o design mas na fronteira mesma da música e na fronteira do design, 
em tudo o que escapa ao formalizado, ao programa, ao repetitivo. Está no 
limite da forma, do processual, no que se transforma, nos espaços de 
articulação dentro da própria música e nos espaços de relações do design, 
“habitando as duas margens e vagando no meio”(15). 


Yüklə 4,54 Kb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   71   72   73   74   75   76   77   78   79




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©genderi.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

    Ana səhifə