365 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
leva as pessoas a se refrearem menos na hora de tomar de-
cisões. Consumidores podem mostrar maior probabilidade
de escolher doces em vez de barras de cereais “saudáveis”
(Baumeister et al., 2008).
Desconto intertemporal e Desconto hiperbólico
Recompensas recebidas no presente pesam mais do que re-
compensas futuras, segundo estudos sobre desconto inter-
temporal que examinaram diferenças na valoração relativa
de recompensas, geralmente dinheiro ou bens, em diferen-
tes momentos, comparando a valoração em uma data ante-
rior com outra em data posterior (Frederick, Loewenstein e
O’Donoghue, 2002). Quando as recompensas se encontram
muito distantes no tempo, deixam de ser valiosas. O des-
conto intertemporal pode ser explicado pela impulsividade
e pela inclinação pela gratificação imediata, e é particular-
mente evidente em vícios como o tabagismo (Bickel, Odum
e Madden, 1999). A teoria do desconto hiperbólico sugere
que o desconto não é consistente com o tempo. Ele não é
linear nem ocorre a uma taxa constante. Em geral, é estu-
dado fazendo perguntas como: “Você prefere receber $100
hoje ou $120 daqui a um mês? ou “Você prefere receber $100
daqui a um ano ou $120 daqui a um ano e um mês?” Os re-
sultados mostram que as pessoas ficam mais satisfeitas em
aguardar um mês adicional para receber uma recompensa
maior se o futuro for distante. No desconto hiperbólico, os
valores atribuídos a recompensas decrescem rapidamente
para pequenos períodos de adiamento e passam a diminuir
mais lentamente para adiamentos maiores (Laibson, 1997).
Dor do pagamento
As pessoas não gostam de gastar dinheiro. Sentimos a dor
de pagar porque temos aversão ao risco. Supõe-se que essa
dor é reduzida nas compras com cartão de crédito, pois o
plástico é menos tangível que o dinheiro vivo, a redução dos
recursos (dinheiro) é menos visível e o pagamento é poster-
gado. Como para diferentes tipos de personalidade os níveis
da dor de pagar são diferentes, isso pode afetar as decisões
de gastar. Os sovinas, por exemplo, sentem mais essa dor
do que os esbanjadores, o que acarreta resultados diferen-
tes para esses grupos quando os pagamentos são feitos em
dinheiro vivo em comparação com cartão de crédito (Rick,
Cryder e Loewenstein, 2008; Thomas, Desai e Seenivasan,
2011). Ver também contabilidade mental.
E
Efeito chamariz
Muitas escolhas são feitas com base no que está sendo ofer-
tado e não em preferências absolutas. O efeito chamariz é
conhecido tecnicamente como “escolha assimetricamente
dominada”, e ocorre quando a preferência das pessoas muda
de uma opção para outra como resultado de se adicionar
uma terceira opção que é semelhante, porém menos atrati-
va. Por exemplo, é mais provável que as pessoas escolham
uma caneta elegante que custa mais de $60 se houver uma
terceira opção na forma de uma caneta menos elegante (Ba-
teman, Munro e Poe, 2008).
Efeitos de certeza/possibilidade
Mudanças na probabilidade de ganhos ou perdas não afe-
tam linearmente as avaliações subjetivas das pessoas (ver
também teoria da perspectiva e efeito do preço zero) (Tver-
sky e Kahneman, 1981). Por exemplo, uma mudança de 50%
para 60% na chance de ganhar um prêmio tem um impacto
emocional menor do que se a chance passar de 95% para
100% (certeza). Inversamente, a mudança de 0% para 5% na
possibilidade de ganhar um prêmio é mais atrativa do que
a de 5% para 10%, por exemplo. As pessoas atribuem peso
desproporcional a pequenas probabilidades, o que explica
por que jogam na loteria: é um gasto pequeno com a possi-
bilidade de um ganho grande.
Efeito dotação
Esse viés ocorre quando sobrevalorizamos um bem que pos-
suímos, independentemente de seu valor objetivo no mer-
cado (Kahneman, Knetsch e Thaler, 1991). Ele se evidencia
quando uma pessoa se mostra relativamente relutante em
se desfazer de um bem que ela possui em troca de um equi-
valente em dinheiro, ou se a quantia que ela está disposta a
pagar por esse bem é menor do que a que aceitaria ao ven-
der o mesmo bem. Simplificando: as pessoas atribuem maior
valor às coisas assim que se tornam proprietárias delas. Isso
vale sobretudo para bens que normalmente não são com-
prados ou vendidos no mercado, em geral aqueles que têm
importância simbólica, experiencial ou emocional. O efeito
dotação é uma ilustração do viés do status quo e pode ser
explicado pela aversão à perda.
Efeito do preço zero
O efeito do preço zero sugere que os modelos tradicionais
de custo-benefício não conseguem explicar o efeito psico-
lógico de um bem gratuito. Um modelo linear supõe que as
mudanças no custo são iguais em todos os níveis de preço e
que os benefícios permanecem iguais. Como resultado, uma
queda no preço tornaria um bem igualmente mais ou menos
atrativo para todos os preços do modelo. O modelo do preço
zero, por sua vez, sugere que haverá um aumento no valor in-
trínseco de um bem se o preço for reduzido a zero. A mudan-
ça na demanda em consequência de mudanças de preço não
é linear, e haverá algumas mudanças de bens de alto valor
para bens de baixo valor. Além disso, bens gratuitos têm um
poder de atração, pois uma redução no preço de $0,14 para
zero é mais poderosa do que uma de $0,15 para $0,01. Uma
explicação psicológica fundamental para o efeito do preço
zero é a heurística do afeto, pela qual as opções que não têm
desvantagens (sem custo) desencadeiam uma resposta afe-
tiva mais positiva (Shampanier, Mazar e Ariely, 2007).
Efeito halo
Esse conceito surgiu da psicologia social, e provém da cons-