366 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
tatação de que a avaliação global de uma pessoa às vezes
influencia a percepção que outros têm de outros atributos
dessa pessoa. Por exemplo, um indivíduo simpático pode ser
considerado fisicamente bonito, enquanto um sujeito anti-
pático pode ser avaliado como menos atraente (Nisbett e
Wilson, 1977). Efeitos halo também foram encontrados em
outras áreas da psicologia. Um estudo sobre o “halo de
saúde” constatou que consumidores tendem a escolher be-
bidas, entradas e sobremesas com maior teor calórico em
restaurantes de fast
-food que se anunciam como saudáveis
(por exemplo, Subway) do que em outros, como McDonald’s
(Chandon e Wansink, 2007).
Efeito IKEA
Enquanto o efeito dotação sugere que a mera posse de um
produto aumenta seu valor para o indivíduo, o efeito IKEA se
evidencia quando a pessoa investe seu próprio trabalho no
produto e por isso mesmo o valoriza mais (Norton, Mochon e
Ariely, 2012). Experimentos mostram que o valor monetário
que uma pessoa atribui a um bem que ela própria tenha pro-
duzido amadoristicamente está no mesmo nível que o valor
atribuído por ela a criações de especialistas. Os adeptos do
faça você mesmo”, sejam eles experientes ou novatos, são
suscetíveis ao efeito IKEA. Estudos demonstram, também,
que o efeito não se deve simplesmente ao tempo gasto nas
criações, pois se um produto já construído for desmontado,
o efeito desaparecerá. O efeito IKEA é particularmente im-
portante hoje em dia, em razão da mudança da produção em
massa para a crescente customização e coprodução de va-
lor. Esse efeito tem várias explicações possíveis, como sen-
timentos positivos (inclusive o de competência) que surgem
quando se completa uma tarefa, um enfoque nos atributos
positivos do produto e a relação entre esforço e apreciação.
A heurística do esforço é outro conceito que propõe uma li-
gação entre esforço percebido e valorização (Kruger, Wirtz,
Van Boven e Altermatt, 2004).
Efeito licença
Também conhecido como “autolicença”, esse efeito se evi-
dencia quando as pessoas se permitem fazer algo ruim (por
exemplo, algo imoral) depois de fazer algo bom (por exem-
plo, algo moral) (Merritt, Effron e Monin, 2010). Estudos cé-
lebres realizados no Canadá pediram aos participantes que
fizessem compras em uma loja online “ecológica” ou conven-
cional. Em um experimento, as pessoas que compraram em
uma loja ecológica partilharam menos dinheiro no jogo do
ditador (ver teoria dos jogos). Outro experimento permitiu
aos participantes mentir sobre seu desempenho em uma ta-
refa e trapacear (pegar mais dinheiro em um envelope do
que realmente ganhou), e o resultado foi mais mentiras e
trapaças entre os que compraram na loja ecológica (Mazar
e Zhong, 2010).
Efeito menos é melhor
Quando objetos são avaliados separadamente e não em con-
junto, os tomadores de decisão se concentram menos nos
atributos importantes e são mais influenciados por atributos
fáceis de avaliar. O efeito menos é melhor sugere uma inver-
são de preferência quando objetos são considerados juntos
em vez de separadamente. Um estudo apresentou aos parti-
cipantes duas opções de aparelho de jantar. A opção A con-
tinha 40 peças, nove delas quebradas. A opção B continha
24 peças, todas intactas. A opção A era superior, pois conti-
nha 31 peças intactas, mas, quando avaliada separadamente,
os indivíduos se dispunham a pagar um preço mais alto por
B. Em uma avaliação conjunta das duas opções, A resultou
em disposição para pagar mais (Hsee, 1998).
Eliminação por aspectos
Os tomadores de decisão têm à disposição uma série de heu-
rísticas quando fazem escolhas. Uma das heurísticas para re-
duzir esforço é conhecida como “eliminação por aspectos”.
Ao aplicá-la, o tomador de decisão reduz gradualmente o
número de alternativas em um conjunto de opções, come-
çando pelo aspecto que considera mais importante. Ele ava-
lia uma deixa por vez, e vão restando cada vez menos alter-
nativas no conjunto de opções disponíveis (Tversky, 1972).
Um consumidor pode comparar primeiro uma série de tele-
visores com base na marca, no tamanho da tela e finalmente
no preço etc., até restar apenas uma opção.
Escassez
Quando um objeto ou recurso não é prontamente disponível
(por exemplo, por limitação de quantidade ou tempo), ten-
demos a percebê-lo como mais valioso (Cialdini, 2008). Mui-
tas vezes em marketing se apregoa a escassez para induzir
as pessoas a comprar. Um experimento (Lee e Seidle, 2012)
que usou propaganda de relógios de pulso como estímulos
expôs os participantes a uma de duas descrições de produ-
to: “Edição limitada exclusiva. Corra, estoque reduzido” ou
“Nova edição. Muitos exemplares em estoque”. Em seguida
os participantes indicaram quanto estariam dispostos a pa-
gar pelo produto. O consumidor médio dispôs-se a pagar
50% a mais quando o relógio era anunciado como escasso.
A escassez pode ser usada como uma estratégia eficaz pelos
arquitetos da escolha quando desejam impelir pessoas que
postergam decisões (procrastinadores míopes) a agir (John-
son et al., 2012).
Escolha assimetricamente dominada
Ver Efeito chamariz
Escolha intertemporal
Escolha intertemporal é um campo de pesquisa voltado para
o valor relativo que as pessoas atribuem a recompensas em
diferentes pontos do tempo. Os estudos geralmente con-
cluem que as pessoas são predispostas a preferir recompen-
sas no presente (ver viés do presente) e tendem a descontar
o futuro (ver desconto intertemporal).
Estados quente e frio