367 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
Ver Lacuna de empatia
Excesso de confiança
O efeito do excesso de confiança é observado quando a
confiança subjetiva da pessoa em sua própria capacidade
é maior do que seu desempenho objetivo (real). Um modo
frequentemente usado de medir esse efeito é pedir a parti-
cipantes de um experimento que respondam a um questio-
nário de conhecimentos gerais. Em seguida se pede que eles
avaliem em uma escala o quanto estão confiantes em suas
respostas. O excesso de confiança é medido calculando-se
a pontuação média da avaliação de confiança da pessoa em
relação à verdadeira proporção de seus acertos nas respos-
tas. O excesso de confiança é semelhante ao viés do otimis-
mo quando julgamentos de confiança são feitos em relação a
outras pessoas. Muitos problemas são atribuídos ao excesso
de confiança, entre eles as altas taxas de empreendedores
que entram em um mercado apesar das baixas probabilida-
des de êxito (Moore e Healy, 2008). A falácia do planejamen-
to é outro exemplo de excesso de confiança. Por causa dela,
as pessoas subestimam o tempo que levarão para concluir
uma tarefa, muitas vezes desconiderando experiências pas-
sadas (Buehler, Griffin e Ross, 1994).
F
Fadiga de decisão
Tomar decisões também tem custos psicológicos. Já que es-
colher pode ser difícil e requer esforço, como qualquer outra
atividade, longas sessões de tomada de decisão podem levar
a escolhas ruins. Como acontece em outras atividades que
consomem recursos necessários à função executiva, a fadiga
de decisão se reflete na autorregulação, e causa, por exem-
plo, uma diminuição na capacidade de autocontrole (Vohs
et al., 2008). Ver também sobrecarga de informação e de-
pleção do ego.
Falácia do custo irrecuperável
A falácia do custo irrecuperável ocorre quando o indivíduo
prossegue em um comportamento ou empreendimento só
porque já investiu recursos nele, seja tempo, dinheiro ou es-
forço (Arkes e Blumer, 1985). Essa falácia, que se relaciona
com o viés do status quo, também pode ser vista como um
viés resultante de um compromisso assumido. Por exemplo,
às vezes uma pessoa pede comida demais no restaurante
e acaba comendo em excesso “só para não jogar dinhei-
ro fora”. Analogamente, a pessoa pode ter um ingresso de
$400 para um concerto e dirigir durante horas debaixo de
uma tempestade só porque acha que tem de comparecer já
que fez aquele investimento inicial no ingresso. Se os cus-
tos superam os benefícios, os custos extras em que a pessoa
incorre (inconveniência, tempo e até dinheiro) são compu-
tados em uma contabilidade mental diferente daquela asso-
ciada à aquisição do ingresso.
Falácia do jogador
O termo “falácia do jogador” refere-se à crença equivoca-
da de que eventos independentes são inter-relacionados;
por exemplo, um jogador de roleta ou loteria pode escolher
não apostar em um número se ele já tiver sido sorteado na
rodada anterior. Embora as pessoas geralmente saibam que
as rodadas sucessivas de números não são relacionadas, po-
dem ter um palpite em contrário.
Falácia do planejamento
Ver Excesso de confiança
Framing (enquadramento)
As escolhas podem ser apresentadas de um modo que sa-
liente aspectos positivos ou negativos da mesma decisão, le-
vando a mudanças em sua atratividade relativa. Essa técnica
integrou a elaboração da teoria da perspectiva por Tversky
e Kahneman, que empregaram a técnica do framing para
mostrar jogos em termos de perdas ou ganhos (Kahneman
e Tversky, 1979). Foram identificados diversos tipos de abor-
dagens de framing, entre elas framing de escolhas de risco
(por exemplo, o risco de perder 10 em 100 vidas em compa-
ração com a oportunidade de salvar 90 em 100), framing de
atributos (descrever uma carne como sendo 95% sem gor-
dura ou como possuindo 5% de gordura) e framing de ob-
jetivos (motivar pessoas oferecendo $5 de recompensa em
comparação com determinar uma penalidade de $5) (Levin,
Schneider e Gaeth, 1998).
H
Hábito
Hábito é um padrão automático e rígido de comportamento
em situações específicas, geralmente adquirido por repeti-
ção e desenvolvido por aprendizado associativo (ver tam-
bém Sistema 1 em teoria do sistema dual), quando ações
apresentam repetidamente uma correspondência com um
contexto ou evento (Dolan et al., 2010). “Loops do hábito”
envolvem uma deixa que desencadeia uma ação, o compor-
tamento e uma recompensa. Por exemplo, bebedores habi-
tuais podem chegar em casa depois do trabalho (a deixa),
tomar uma cerveja (o comportamento) e sentir que relaxam
(a recompensa) (Duhigg, 2012). Comportamentos podem
servir, de início, para se atingir determinado objetivo, mas
quando a ação se torna automática e habitual, o objetivo
perde sua importância. Por exemplo, uma pessoa pode co-
mer pipoca no cinema por hábito, mesmo se a pipoca estiver
velha (Wood e Neal, 2009). Hábitos também podem ser as-
sociados ao viés do status quo.
Heurísticas
Heurísticas, comumente definidas como atalhos cognitivos
ou regras práticas para simplificar decisões, representam
um processo de substituir uma questão difícil por outra mais