Mestrado em Sociologia Relações de poder no campo família empresária
Jorge
Rodrigues
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0.2 Objetivo geral da investigação
A falta de conhecimento, das caraterísticas e particularidades do sistema de relações que
se criam nas interações entre a família empresária e a empresa familiar, origina um
processo involuntário de confusões. Aquelas debilidades
desencadeiam a paulatina
perda de competitividade dos negócios, podendo chegar um momento, em que sob a
propriedade da família, a empresa já não seja viável no mercado, com a consequente
perda de património familiar e, às vezes, uma deterioração das relações entre familiares.
Os empresários que desejam manter a propriedade e/ou a gestão em poder da geração
seguinte devem promover o processo de mudança da família empresária. Este processo
de mudança é paulatino e estruturado, e inclui a análise, avaliação, definição e
implementação de um conjunto de atividades que procuram:
a)
Manter a competitividade da empresa, com a finalidade de a perpetuar como fonte
de bem-estar económico do clã familiar. Este pressuposto consegue-se, com a
implementação de boas práticas de gestão e governo nas empresas que são
propriedade da família, o mesmo é dizer, com a profissionalização da sua gestão.
As empresas atuam em mercados competitivos, sujeitos a riscos – económicos,
financeiros, de reputação –, surgimento de novos produtos e novas formas de
concorrência, que têm impacto no desempenho das mesmas.
b)
Constituir e/ou manter a família, ou parte dela, como uma equipa de trabalho. Ou
seja, um conjunto de pessoas que têm a mesma visão, metas e regras na relação
com a empresa da qual são e/ou serão proprietários. Para que um negócio familiar
tenha êxito, parece importante manter uma família:
i.
Unida, em relação ao projeto de família que será a empresa;
ii.
Preparada, para os papéis que lhe competem desempenhar;
iii.
Comprometida, para evitar e prevenir a confusão entre família e empresa.
Como consequência destas atividades, havendo harmonia na família empresária (Gallo
et al. 2009), esta pode disponibilizar um conjunto único de recursos à empresa familiar,
vantagem competitiva que não está ao alcance das empresas não familiares. Assim, uma
empresa familiar parece correr menos riscos que uma empresa não familiar; daí
que as
primeiras logrem gerar maior valor para os seus constituintes organizacionais, apesar de
a maioria delas tenderem a desaparecer ou perder uma parte importante do seu
património durante a segunda geração ou na passagem para a terceira geração (Gallo
et
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Jorge Rodrigues
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al. 2009). Uma família empresária não é uma família comum, pois possui também laços
societários e/ou profissionais. A sobrevivência da família empresária no longo prazo
requer não só uma política apropriada de consumo e investimento dos seus recursos,
mas também o reforço constante dos valores morais responsáveis pela criação de
riqueza da família nas gerações anteriores. Com a finalidade de gerir a complexidade
que o passar do tempo introduz na família empresária e na empresa familiar, têm sido
implementados sistemas de governo da família, sejam formais ou informais.
Na família empresária – detentora de empresas familiares –, a separação entre os
espaços público e privado aparece de forma clara no discurso, mas na prática é algo
muito difícil de ser atingido. A família empresária, à semelhança das grandes estruturas
organizacionais, também adota princípios para organizar o seu funcionamento
e lograr o
seu desenvolvimento – a governabilidade familiar – ou seja, a forma como a família
empresária se organiza, de modo a exercer o poder sobre a gestão dos negócios dentro
do quadro jurídico-legal vigente.
Por isso, a estrutura de governo na empresa familiar deve ter em consideração os
interesses dos sócios ou acionistas familiares a médio e longo prazo, através do
crescimento e continuidade da empresa e promover a harmonia e bem-estar entre os
membros da família empresária. Existe já uma panóplia de instrumentos (valores, cartas
de ética, conselhos de família) para facilitar tal desiderato (Carlock
et Ward 2010). Para
além da preservação do património e da manutenção da harmonia familiar, trata-se de
estabelecer e facilitar o diálogo entre as gerações. Para tal recorre a variados
mecanismos de controlo flexíveis para os diferentes modos de resolução de conflitos,
partindo da ideia de que um dos desafios do empresário é tornar a sua família numa
família empresária. Reverter o ditado “Pai rico, filho nobre e neto pobre”, exige
transferir para as gerações seguintes não apenas o património económico e financeiro,
mas também o legado que o acompanha e deu sentido ao que foi criado com esforço e
dedicação. Cada geração tende a pulverizar o acervo de património de uma sociedade
onde não haverá mais a figura do proprietário fundador e muito menos de um patriarca
que tudo comandava, com as estatísticas a mostrar que a maioria das empresas que
desaparecem tem como causa principal os conflitos familiares não resolvidos.
Como consequência do que atrás ficou dito, e para finalizar, a tentativa de estudo dos
comportamentos da família empresária é indispensável, como condição necessária a um
bom desempenho da Sociedade como um todo. Para tal, procurando colmatar a escassez
de literatura específica sobre esta temática, recorre-se a uma diversidade de abordagens