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alegoria através do afastamento, da oposição, da diferença; e com a metonímia pela
proximidade, “parceria” entre ambas, da qual se aproveita o autor. Convém agora, explicitar
tal relação, primeiro para explicar o que chamo de metáfora ampla/ampla metáfora e, depois,
para esclarecer as correspondências e distanciamentos que a levam a compor com
imaginários.
Como já expus anteriormente, o uso da metáfora em La frontera de cristal parte
primeiro da relativização de relações entre os extremos da ordem binária a que costumam ser
vinculados os termos de uma metaforização. Assim como a fronteira mexicana (e)levada a um
prisma de cristal atrai como ímã os personagens principais, Fuentes “convoca” os leitores por
meio de suas imagens, as imagens que tece, trabalha, embaralha, desorganiza, reorganiza.
Por meio da semelhança que propõem, as metáforas da fronteira em Fuentes são
metáforas das relações de alteridade sobre as quais se debruça o ficto da obra em epígrafe.
Para tanto, há a construção da metáfora ampla, que se caracteriza por basear-se em uma
metáfora principal preponderante dentro de certos contos-chave do romance, uma imagem
principal (particular para e em cada um desses contos) que é apresentada de forma
fragmentada, porém repetida, pouco a pouco em tais contos-capítulo. Seu poder de agregar-se
a, ou de implantar imaginários, é lógico, depende das instâncias de recepção de cada leitor.
Mas, também para que tal articulação resulte eficiente, receba seu grau de efetividade, de
eficacidade – relembrando o termo cunhado por Bouchard (2005, p. 3) em sua abordagem
sobre o mito –, há apoio dessa repetição da metáfora principal, há o apoio desse processo de
metaforização em outra figura de imagem importante para conduzir a metáfora ampla a um
imaginário determinado: a metonímia.
Sobre a metonímia, cabe o adendo de que alguns autores não enxergam razão para que
se a separe da metáfora, entendendo-a como uma extensão desta, tamanha a possibilidade de
tomar-se uma pela outra, de confundir-se uma com a outra, decorrência ainda da compreensão
de metáfora como “mãe” de todos os tropos, de todas as figuras, e de que ambas trabalham
com uma extensão associativa de significados. Linha diferencial tênue, porém bastante
pertinente, é a de que enquanto a metáfora trabalha sob uma transferência entre termos de
campos sêmicos, teoricamente, o mais das vezes bastante separados entre si, o que aumenta a
possibilidade de estranhamento, de surpresa no efeito produzido, a metonímia atua desde um
lugar em que os sentidos dos termos, dos nomes relacionados têm aproximação mais
imediata, dado o caráter de maior contiguidade semântica que conservam entre si.
Podemos dizer que há ainda na metonímia uma atenção maior à troca e uma
consequente associação de sentidos entre nomes. Nesse caso, podem ocorrer as seguintes
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relações de inclusão: hiponímica, a pars pro toto, em que há a substituição de nomes, da parte
pelo todo; e hiperonímica, a totum pro parte, da parte que através do nome se toma pelo todo.
Há autores que defendem hiponímia e hiperonímia como casos de outro tropo, a sinédoque.
Outros autores, entretanto, colocam a sinédoque como um tipo de metonímia. Meu
entendimento vai ao encontro da segunda opção, por entender que a origem grega de ambos
os termos, “além do nome, o que sucede o nome”, para metonímia, e “compreensão
simultânea” para sinédoque (Cf. FIORIN, 2013, p.2), acaba por ser respeitada nas abordagens
sobre e para a compreensão mais ampla do sentido de metonímia; ou seja, segue respeitada a
questão do nome, a qual se atém a etimologia do termo, tanto na transnominação simultânea
de ordem hiponímica quanto na hiperonímica
.
Desse modo, a expressividade das imagens-metáforas escolhidas para se repetirem
pelo narrado de cada conto se agrega ao poder sintetizador da operação metonímica todo pela
parte, parte pelo todo, alcançando, obtendo efeito de imaginário, efeito plausível de inclusão e
apreensão por parte do imaginário, de um imaginário, de imaginários, já que um imaginário
para assim ser considerado necessita, em seu efeito totalizador, condensar sua coleção de
imagens, as imagens que totaliza, sintetizando-as, produzindo, introduzindo, reproduzindo,
reapresentando intencionalmente no texto conceitos e pré-conceitos, ideias que formarão,
unir-se-ão a esse mesmo imaginário.
Sendo assim, é desse modo que se dá a apreensão do receptor pelos imaginários
sugeridos em La frontera de cristal: o leitor é submetido aos imaginários suscitados através
de uma ampla metaforização inserida em contos-capítulos de forte relação de
complementação entre a metonímia (condensadora de ideias) e a metáfora-base do conto,
repetida até que se chegue à imagem final, à metáfora final, nada mais que reflexo da
metáfora-base, mas que ganha caráter expressivo ainda maior, pelo uso dos recursos
anteriores que a anunciam, fazendo dela cena expressiva de grande força imagética, ampla
metáfora, metáfora aumentada, imagem maior, mas que sem o apoio na condensação e no
poder de generalização da metonímia e na repetição de sua metáfora-base pouco produziria de
efeito, pouco contribuiria para que se pensasse em imaginários na obra.
Ainda com relação à contribuição das imagens suscitadas pela e trabalhadas na obra
para a abordagem de imaginários, será interessante como a presença de outra figura de
imagem não exercerá tal papel. Falo da alegoria, também presente em La frontera. Assim
como a metáfora, a metáfora ampla que apresento e defendo como elemento constitutivo
essencial para a leitura da obra desde seu teor mais imagético, aproxima-se, a meu ver,
sobremaneira de imaginários, deles se afasta a alegoria pelas mesmas pequenas diferenças que
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