Abel Pérez González — Revisão de Stygnommatidae
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exposta precisa de um movimento de canivete do follis rígido ao respeito da pars
distalis. Este follis rígido é denominado de stragulum (Figs. 11, 12, 15, 16, 17).
O stragulum apresenta uma grande variedade de formas, algumas muito
complexas e de difícil interpretação. Estas formas devem ser testadas em uma
análise filogenética para determinar sua utilidade em definir grupos monofiléticos
dentro de Samooidea (TOURINHO & PÉREZ, 2006; KURY & PÉREZ, no prelo) O
stragulum encontra-se geralmente dividido medialmente em duas valvas com
projeções, lâminas, lóbulos e dobramentos apicais. As duas valvas do stragulum
podem alcançar um desenvolvimento notável em representantes de Zalmoxidae
( lato sensu, incluindo Minuidinae e Lacurbsinae). Nos Fissiphalliidae o stragulum
é fino e comprido, as valvas são simples e estão fusionadas (Fig. 15). Em
Caribbiantes e Flaccus o stragulum não é fendido e é muito largo (Fig. 11c, d); em
Flaccus o stragulum apresenta duas projeções laterais rígidas (Fig. 11d).
5.1.3.- Morfologia genital e grandes grupos de Laniatores
Ainda que tenha-se avançado substancialmente no conhecimento da
morfologia da genitália masculina dos Laniatores, resta muito para fazer e falta
muito para se poder avaliar toda sua potencialidade como caráter para reconstruir
a historia filogenética dos Opiliones e definir grupos monofiléticos. São muitas as
espécies e os grupos dos quais não se conhece a morfologia genital e com
freqüência apresentam-se morfologias genitais inéditas, as quais obrigam a rever
completamente o esquema construído na base das morfologias já conhecidas. Às
vezes são tão diferentes que torna-se impossível estabelecer uma relação destas
morfologias inéditas com os grupos conhecidos. Isto é devido ao tardio
desenvolvimento do estudo comparativo da genitália masculina de opiliões e seu
uso na sistemática. Por isto varias morfologias penianas apresentam-se
enigmáticas, pois correspondem a peças soltas e distantes de um enorme quebra-
cabeça. Mas, a cada dia aportam-se evidencias de que o estudo da genitália oferece
importantes caracteres, tanto para o reconhecimento de categorias taxonômicas
superiores como de gêneros e espécies.
No estudo da genitália masculina é importante ter três aproximações
diferentes:
Abel Pérez González — Revisão de Stygnommatidae
47
−
Morfológica: o estudo das diferentes morfologias e partes e o
estabelecimento da homologia entre essas partes nos diferentes grupos.
−
Funcional: o estudo de como funciona o pênis para garantir a transferência
do esperma. Se muscular, se hidráulico, como se movem os escleritos, etc.
−
As tendências de transformação da morfologia peniana dentro de cada
grupo.
Este ultima aproximação merece uma explicação mais detalhada. Dentro de
cada grupo monofilético a morfologia peniana sofre uma modificação desde as
formas mais plesiomórficas, até as formas mais derivadas. Esta tendência dos
caracteres pode ser um caráter muito útil e não levá-la em consideração pode
acarretar sérios problemas produzidos pela definição de grupos a partir de
caracteres homoplásticos. Por exemplo, Oncopodidae é um grupo que apresenta
uma morfologia singular marcadamente homogênea e considerada por todos os
autores como monofilético. Graças aos trabalhos de MARTENS &
SCHWENDINGER (1998) e SCHWENDINGER & MARTENS (1999, 2002a-b,
2004) esta família possui um amplo conhecimento da morfologia genital
masculina de suas espécies e gêneros. SCHWENDINGER & MARTENS (2002b)
documentaram uma enorme variabilidade de formas do pênis dentro da família,
que vão desde formas primitivas onde a capsula interna encontra-se invaginada
até formas mais derivadas onde a capsula interna está completamente evertida,
com os acessórios fusionados e com um movimento de ereção ante a pressão de
hemolinfa (Fig. 7d). Dentro dessa variabilidade morfológica eles encontraram
formas que se assemelhavam aos pênis de outras famílias, por exemplo: as
espécies de Gnomulus e Oncopus são relacionadas a falangódidos do gênero
Scotolemon; as espécies de Biantoncopus aos Biantidae, uma nova espécie de
Biantoncopus das Filipinas é relacionada a Fissiphalliidae, e o alargamento da
capsula interna (chamada de hipertrofia da glande) é comparada ao pênis de
algumas espécies de Triaenonychidae da Austrália e América do Sul. De igual
forma cometeria-se um erro considerar o calyx da pars distalis como uma
sinapomorfia que defina um grupo de Grassatores, nesse caso, juntariam-se
algumas espécies de Epedanidae, Samoidae, Kimulidae e Stygnommatidae em um
grupo artificial deixando de fora espécies filogeneticamente mais aparentadas.
Abel Pérez González — Revisão de Stygnommatidae
48
Porém outra interpretação poderia ser útil, a tendência da pars distalis a formar
um calyx poderia ser uma sinapomorfia para várias famílias de Grassatores, da
mesma forma que a tendência do alargamento da capsula interna até se converter
em uma estrutura erétil, poderia ser um caráter interessante desde o ponto de vista
filogenético.
De forma geral pode ser relacionado um tipo de genitália masculina a cada
uma das atuais superfamílias de Grassatores:
−
Oncopodoidea: genitália masculina com tendência a apresentar uma
capsula interna erétil. Follis com projeções laterais e posteriores e
ventralmente com uma projeção dorsal da glande (PDo). Famílias:
Oncopodidae Thorell, 1876 e Phalangodidae Simon, 1879.
−
Assamioidea: genitália masculina com capsula interna simples, eversível,
inserida distal ou subdistalmente no follis. Follis com tendência a
apresentar uma modificação frontal em forma de uma ou duas placas
rígidas. É possível que seja o grupo-irmão de Gonyleptoidea. Famílias:
Epedanidae Sørensen, 1886; Assamiidae Sørensen, 1884, Stygnopsidae
Sørensen, 1932 e “Pyramidopidae” Kury in litt.
−
Gonyleptoidea: genitália masculina com capsula interna completamente
evertida, simples ou com processos ventrais e dorsais, glande rígida de
pouco movimento. Follis sem projeções. Famílias: Agoristenidae Šilhavý,
1973; Cosmetidae Koch, 1839; Cranaidae Roewer, 1913; Gonyleptidae
Sundevall, 1833; Manaosbiidae Roewer, 1943; Stygnidae Simon, 1879 e
Stygnopsidae Sørensen, 1932.
−
Samooidea: capsula interna eversível e com dois condutores que podem
estar ou não fusionados ao estilo. O follis pode estar reduzido, porém não
modificado em stragulum. Famílias: Biantidae Thorell, 1889; Escadabiidae
Kury & Pérez, 2003; Kimulidae nome novo; Podoctidae Roewer, 1912;
Samoidae Sørensen, 1886 e Stygnommatidae Roewer, 1923.
−
Zalmoxoidea: follis modificado em forma de stragulum, capsula interna
não eversível e exposta por movimento de canivete da capsula externa.
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