Esquizofonia



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de informação e comunicação cujos lugares vagos são ocupados à medida 
que os migrantes passam, como uma imensa cidade-hotel móvel, 
dinâmica, em transformação contínua e com índices de ocupação 
variáveis, onde nada é igual e nenhum sedentarismo é possível, a rua 
invadindo as casas e os quartos. Friedmann lembra inclusive, em Utopies 
Realisables, que a mobilidade humana é o esqueleto do sistema social e 
que a migração é sempre uma garantia de liberdade. Neste contexto, isso 
ainda seria mais verdadeiro...(4) 
Pelo menos se pensarmos em termos de espaço físico. Porque não 
prolongar Elgaland-Vargaland para o espaço sideral? O que aconteceria, 
por exemplo, se um novo talento musical fosse implantado num ser 
humano, aumentando as presentes capacidades de processamento? Esse 
novo paradigma musical implicaria um novo domínio espacial? Estas 
perguntas foram feitas pela compositora eletroacústica Pauline Oliveros 
numa comunicação intitulada, sugestivamente, “Quantum Improvisation: 
The Cybernetic Presence”, apresentada na California University, em San 
Diego, há quatro anos. O nome da conferência em que a igualmente 
acordeonista e mentora do projeto Deep Listening participou era, já por 
si, esclarecedor quanto à ânsia de “extensibilidade” das preensões de que 
falava Jean Baun: Improvisation Across Borders. Repare-se que, aqui, a 
improvisação, enquanto técnica e estética de criação musical pensada 
para o tempo real da sua apresentação pública, ocupa o lugar que a 
música concreta, de suporte, tinha nos passos anteriormente focados. 
Oliveros imaginou uma melodia/tonalidade espacial que fizesse um 
percurso entre Saturno, Aldeberon, Sirius e a Terra. Uma melodia 
tridimensional, com cor, espaço e, claro, som, audível em vários pontos da 
galáxia, simultaneamente. A matriz cyberpunk é óbvia. 
“Nada nos obriga a ficarmos limitados às definições físicas do nosso 
alcance perceptivo. E a imaginação? Este é o desafio que a tecnologia 
enfrenta - a hibridação de formas homem-máquina através de implantes; 
um mundo de novos seres com formidáveis poderes de percepção, 
memória, raciocínio e interpretação”, defendeu a visionária protagonista 
da New Music norte-americana. Neste cenário futurista (ou nem tanto 
assim, dado que algumas destas próteses musicais já existem), a música 
livremente improvisada, mesmo que com recurso ao cálculo intensivo do 
silício, deverá continuar a ser um produto do caos carbônico, da 
imprevisibilidade e da permutação do acaso, do calor, da simplicidade e 
da profundidade espiritual que nos identificam como humanos. 
Pauline Oliveros chegou mesmo a fazer uma lista do que seriam 
(deveriam ser, pois não esqueçamos que se trata de wishfull thinking) as 
capacidades do novo músico espacial: 1) Habilidade para reconhecer e 
identificar instantaneamente qualquer frequência ou combinação de 
frequências em qualquer afinação, timbre, tempo ou ritmo, em qualquer 
tipologia musical ou som em qualquer espaço; 2) Habilidade para produzir 
qualquer frequência ou som em qualquer afinação, tempo, timbre, 
dinâmica e articulação dentro dos limites dos instrumentos e das vozes 
selecionados. A possibilidade, também, de qualquer instrumento ou voz 
se metamorfosear em outro; 3) Habilidade para reconhecer, identificar e 
recordar qualquer música, as suas partes bem como o todo, 
independentemente da sua complexidade; 4) Habilidade para perceber e 
compreender a espacialidade interdimensional; 5) Habilidade para 
compreender a natureza da energia musical - as suas forma, partes e 
espiritualidade inerente -, à medida em que a música se desenvolve numa 
execução; 6) Habilidade para compreender a conexão espiritual e a 
interdependência de todos os seres e de toda a criação como a base do 
fazer musical; 7) Habilidade para criar comunidades e para curar através 
da música; 8) Habilidade para perceber as profundezas do universo, bem 
como a vastidão dos oceanos. Segundo Oliveros, este pode ser, inclusive, 


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“o palco de improvisações galácticas interdimensionais com seres que 
ainda hoje desconhecemos”. 
A isto esta artista dos sons chama de “improvisação consciente”. Se a 
prática da improvisação começa por ser inconsciente (“o corpo sabe o que 
fazer, mesmo quando a mente não compreende”), acrescentar-lhe uma 
consciência é torná-la estratégica, mesmo quando o desenlace é 
totalmente imprevisível. Uma estratégia de improvisação é, deste modo, 
tocar como implicação da escuta. Pauline Oliveros lembrou à platéia que a 
mente humana ainda não foi devidamente explorada: “Dispomos de 
muito mais capacidade no neo-córtex do que a que atualmente usamos, à 
espera de expansão evolutiva. Os computadores podem instruir-nos 
nesse processo, à medida que continuamos e mesclar-nos com a 
inteligência maquínica que criamos e que continuamos a interagir por 
meio da improvisação. Temos, no entanto, de decidir o que uma estrutura 
de silício com 50 anos pode ensinar a uma estrutura de carbono com 
cinco milhares de milhões de anos de existência antes de procedermos a 
transformações físicas irreversíveis.” 
Neste sentido, se referiu às vantagens da computação quântica, que se 
baseia na física quântica, ciência que estuda partículas como os elétrons, 
existentes em mais do que um estado ao mesmo tempo. Esta nova forma 
de computação pode, na sua opinião, favorecer o que denomina de 
“improvisação quântica”, uma combinatória de incompatibilidades que se 
caracteriza, precisamente, pela ambiguidade. Uma ambiguidade 
consciente e definida pela simultaneidade de vários estados mentais, 
geradora de combinações sonoras atualmente impossíveis. Disse Oliveros, 
na ocasião, que a improvisação quântica “pode inclusive encontrar novas 
formas de expressar e entender as relações entre a mente e a matéria”, 
mais um novo território para o crescimento de Elgaland-Vargaland. O 
mapa-mundi está se transformando... 
Notas 
1. Momento em que a técnica se tornaria arte, no dizer de Marcuse.  
2. Os símbolos monárquicos que surgem no site e na documentação do 
Estado de Elgaland-Vargaland são utilizados como uma forma de 
despossessão da noção de poder. “Para mim, todos nós somos reis e 
rainhas no nosso próprio império”, diz Leif Elggren. 
3. Um caravançaral era uma pousada de grandes dimensões que fornecia 
água, comida e alojamento às caravanas de passagem. Na Idade Média, 
eram encontrados sobretudo na Anatólia, na Mesopotâmia, na Síria e na 
Pérsia.  
4. Tenha-se em conta, neste cenário, o que considera Fernández de La 
Mora em El Crepúsculo de las Ideologías: “A convivência e a nivelação de 
culturas diferentes traz para o plano do optativo e, de certo modo, do 
arbitrário um âmbito amplíssimo dos hábitos, das crenças e dos 
arquétipos. Dentro desse relativismo não há, em certo sentido, verdade. 
(...) O multiculturalismo relativiza quase todo o conteúdo da cultura na 
acepção clássica desta.” É evidente que isto pode ser considerado positivo 
e negativo ao mesmo tempo... Positivo porque “desnacionaliza” as 
culturas regionais e locais, negativo porque pode diluí-las. 
Link: Elgaland-Vargaland (
www.krev.org
). 
Fonte: Página de Rui Eduardo Paes (
http://rep.no.sapo.pt/
). 
 
 


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