58 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
• A dor de pagar é uma experiência psicologicamente penosa. Isso foi pesquisado em expe-
rimentos que compararam pagar em dinheiro com a dor física, além de manipulações com
priming e placebo. Nessa última, os participantes que pensavam ter tomado um comprimi-
do para aumentar a dor se dispuseram a pagar mais por um objeto do que os que recebe-
ram um analgésico (Mazar et al., 2014).
• Operadores do mercado de capitais que recebem uma dose de testosterona (em contraste
com placebo) empenham-se em negociações mais longas e competitivas, levam menos em
consideração os valores fundamentais dos ativos em suas sessões de transação e se con-
sideram mais talentosos (em vez de “sortudos”). No grupo com testosterona alta, bolhas
financeiras formaram-se rapidamente e por fim estouraram (Nadler et al., 2014).
• É possível prever escolhas de consumidores entre dois produtos por meio de um modelo
baseado no tempo em que as pessoas passam olhando (medido por tecnologia de rastrea-
mento do olhar) para um produto, em comparação com as informações da marca. Esses
dados determinam a importância relativa (peso) de preferências subjetivas e de informa-
ções de marcas na escolha do consumidor. Em escolhas binárias, a atenção leva à prefe-
rência mais do que a preferência afeta a atenção (Krajbich et al., 2014).
Transcrito de Levallois et al. (2012). Translating upwards: Linking the neural and social sciences via neuroeconomics. Nature
Reviews Neuroscience, 13, 789-797.
59 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
Experiência do consumidor e adaptação hedônica
Os estudos da Psicologia e comportamento do consumidor são um dos campos mais abrangentes
de aplicação das ideias da EC. Uma área de convergência fundamental relaciona-se à experiência do
consumidor. Examinemos o gráfico abaixo, que mostra a popularidade relativa dos termos de busca
“satisfação do consumidor” e “experiência do consumidor” ao longo do tempo no mecanismo de
busca do Google. O crescimento médio ano a ano desses termos no Google Scholar para o mesmo
período foi respectivamente de 15% e 26%.
40
50
60
70
80
90
100
110
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Interesse Relativo
(100 = Frequência de interesse mais alta)
Ano
Evolução Temporal do Interesse em
"Satisfação do Consumidor"
e em
"Experiência do Consumidor"
(Google Trends)
3
4
5
6
Pré
-colheita
Pós
-colheita
Exatidão
Matrizes de Raven
(Alto = Melhor)
4,35
5,45
Experiência
do Consumidor
Satisfação do
Consumidor
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado de Samson (2015, p. 19).
Embora essas diferenças possam ser devidas, em parte, a termos que entram e saem de moda,
a ascensão do termo “experiência do consumidor” também deveria refletir um marketing com in-
teresse crescente na criação de experiências, assim como práticas voltadas para a criação conjun-
ta de valor, pesquisas de consumo no momento da compra e neuromarketing, para citar apenas
alguns aspectos. A satisfação é uma avaliação frequentemente medida em âmbito global ou do-
mínio-específico. Ela também pode evocar avaliações relacionadas a circunstâncias objetivas e
pontos de referência, e é afetada por estados de humor correntes, enquanto o relato retrospectivo
é influenciado por vieses de recordação (Kahneman et al., 2004). Pesquisas sobre felicidade cons-
tataram que a renda é um correlato melhor da avaliação da vida (satisfação) do que o bem-estar
emocional (Kahneman e Deaton, 2010). Analogamente, como George Loewenstein menciona na
Parte IV (Diferentes perspectivas e aplicações), um estudo concluiu que o valor econômico de um
carro (de luxo em comparação ao econômico) é associado às avaliações de como as pessoas se
sentiriam dirigindo ou com sua avaliação retrospectiva global de como é geralmente a sensação de
60 Guia de Economia Comportamental e Experimental
dirigir. É menos correlacionado com o modo como elas dizem que se sentiram durante um episódio
recente em que estavam dirigindo (Xu e Schwarz, 2006).
Um conceito recorrente ligado ao bem-estar é a adaptação hedônica, que se refere à consta-
tação de que os níveis de felicidade das pessoas retornam a um nível básico estável depois de uma
mudança na vida (Frederick e Loewenstein, 1999). A Conferência de 2014 da Association for Consu-
mer Research (ACR) dedicou um simpósito especial a esse campo teórico.
Entre os diversos temas
figuraram os efeitos do valor sentimental e a incerteza sobre a adaptação hedônica.
Um dos trabalhos, apresentado por Lee et al. (2014), investigou a adaptação hedônica a pro-
dutos utilitários e hedônicos. Como os produtos hedônicos são comprados por razões afetivas mais
do que os utilitários, os pesquisadores exploraram a hipótese de que sua adaptação seguiria uma
trajetória mais pronunciada. Os resultados do estudo mostraram que as crenças dos consumidores
leigos sobre a adaptação não correspondem à realidade. Embora eles não tenham predito taxas de
adaptação diferentes para produtos utilitários (impressora) e hedônicos (MP3 player), sua adap-
tação real foi mais acentuada no caso dos produtos hedônicos — como indicou um declínio mais
acentuado das atitudes no decorrer do tempo. Experimentos subsequentes mostraram também
que a maior adaptação a um produto hedônico (um item da moda caro) foi mediada pela empol-
gação dos consumidores com o produto, ao passo que a adaptação a um produto utilitário (um
item da moda barato) foi mediado tanto pela empolgação como pela funcionalidade. Além disso,
a maior adaptação foi associada a mais arrependimento pós-compra. Por exemplo, “Em que grau
você diria que essa compra valeu o que custou?”.
O estudo dos aspectos experienciais e hedônicos do consumo tem diversas aplicações. Um
dos principais insights buscados pelos pesquisadores de marketing pode estar ligado a descobrir
quando e como a experiência no momento (em comparação com a satisfação e variáveis relacio-
nadas) é mais importante para predizer importantes comportamentos do consumidor, como ex-
perimentar o produto, comprar novamente uma marca, fazer propaganda boca a boca ou trocar
provedores de serviço.