Guia de economia comportamental e experimental



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63   Guia de Economia Comportamental e Experimental

natural, visto que os participantes estão envolvidos no que, para eles, são atividades normais, e desco-

nhecem que estão participando de um experimento. Em Nottingham, em 2006, sediamos a Economic 

Science Association European Meeting. Como é comum em diversas conferências, oferecemos incentivos 

para as pessoas se inscreverem logo e pagarem a respectiva taxa até um prazo determinado. Os parti-

cipantes sabiam que a taxa aumentaria depois do prazo e, quando escrevemos às pessoas informando 

que “seu artigo foi aceito; agora, por gentileza, pague a sua taxa de inscrição”, separamos aleatoriamente 

as pessoas em dois grupos e enviamos duas mensagens levemente diferentes. A única diferença: um 

grupo foi avisado de que haveria um desconto caso a inscrição fosse paga antes do prazo e, o outro, de 

que haveria uma multa para pagamentos depois do prazo. Mas as taxas, na verdade, eram idênticas. O 

que constatamos foi que participantes juniors (pesquisadores relativamente jovens, possivelmente dou-

torandos ou professores assistentes) tinham a tendência a se inscrever com antecedência no contexto 

da multa. Os participantes mais experientes não reagiram dessa forma. Ficamos muito contentes com 

esse resultado porque sempre que apresentamos evidências de coisas como os efeitos de framing 

grupos de economistas e eles dizem que “as pessoas não estão entendendo de forma adequada; talvez 

seja algum tipo de decisão estranha para eles; talvez eles não tenham entendido essa escolha da forma 

correta”. Bem, esse experimento envolveu cerca de 200 economistas, e além disso, tratava-se principal-

mente de economistas experimentais que, imagina-se, estariam particularmente afinados com a moldura 

de problemas decisórios. Mas o resultado foi que pelo menos um subgrupo deles abriu espaço para uma 

anomalia bastante conhecida: enquadrar uma situação em termos de penalidades e perdas parece ter 

um efeito diferente de enquadrá-la em termos de ganhos e descontos.

Meu terceiro exemplo concreto se relaciona com o efeito posse. Um dos famosos experimentos 

iniciais a esse respeito foi o que Jack Knetsch publicou [5] no American Economic Review no fim 

dos anos 1980. Para cada um de três grupos de sujeitos ele propôs o que, do ponto de vista da teo-

ria padrão, era a mesma questão: “você gostaria de sair desse experimento com uma caneca com 

o logotipo da universidade ou com uma barra de chocolate?” Mas ele propôs a pergunta de três 

maneiras distintas. Para um grupo, presenteou a caneca e perguntou se gostariam de trocá-la pelo 

chocolate. Para outro, ofereceu o chocolate e perguntou se gostariam de trocá-lo pela caneca e, 

para o terceiro grupo, não ofereceu nada, apenas perguntou o que preferiam. Agora, supondo que 

haja uma distribuição subjacente das preferências por canecas e chocolate na população, e supon-

do ainda que as pessoas tenham sido alocadas aleatoriamente entre esses tres grupos, então em 

cada um deles seria possível observar de forma não viesada a proporção de pessoas que preferem 

canecas a chocolates ou vice-versa na população. Mas o que se observou foi uma forte tendência 

de pessoas que preferem exatamente aquilo que obtiveram. Então, por exemplo, no grupo das ca-

necas, quase 90% das pessoas revelaram a preferência pela caneca. Mas, no grupo do chocolate, 

apenas 10% pareceu preferir a caneca, e se tivessem de optar entre um e outro, o resultado foi in-

termediário: cerca da metade optou pela caneca e, a outra metade, pelo chocolate. Essa anomalia 

não raro é interpretada como evidência de que as pessoas têm uma espécie de tendência geral a 

dar mais valor ao que possuem do que ao que não possuem.

Os três exemplos apresentados ilustram que, quando se começa a conduzir experimentos, é pro-

vável que se encontrem anomalias ou resultados que parecem surpreendentes em relação à teoria 

padrão; e – como é necessário para figurar como uma verdadeira anomalia – esses resultados tam-

bém são replicáveis e bastante resistentes a pequenas mudanças no desenvolvimento experimental. 

Todo tipo de pessoa, inclusive os economistas, está sujeita a elas.



64   Guia de Economia Comportamental e Experimental

Teoria da escolha e risco

As anomalias têm um papel importante na pesquisa em Economia Comportamental porque geralmente 

representam apenas o começo de um programa de pesquisa mais abrangente. Isso porque a ocorrência 

de anomalias impele os pesquisadores a propor teorias, hipóteses ou conjecturas sobre o motivo de es-

sas coisas acontecerem. De fato, com frequência teorias bastante sofisticadas são criadas explicitamente 

para explicar anomalias particulares ou, em alguns casos, conjuntos de anomalias que parecem ter algum 

tipo de padrão em comum. Apresentarei, a seguir, um exemplo de como esse processo se desenvolveu.

Meu exemplo vem da teoria de risco – campo em que tenho atuado há algum tempo. A história co-

meça com a teoria econômica padrão da preferência sob risco. É a Teoria da Utilidade Esperada (TUE), 

que tem sido, em Economia, a teoria padrão de tomada de decisão sob risco desde a década de 1950.

Essa teoria pressupõe que as pessoas tenham preferências a respeito de alternativas que envol-

vem risco ou, como costumam ser chamadas, “prospectos”. Um prospecto é uma distribuição proba-

bilística em torno de um conjunto de consequências, tais como q = (p

1

, x



1

; p


2

, x


2

;………; p


n

, x


n

). Perceba 

que X são consequências (isto é, resultados que podem ocorrer se você escolher o prospecto q). E 

P são as probabilidades de esses diversos resultados acontecerem. A teoria da utilidade esperada 

supõe que as pessoas se comportam como se [as if] estivessem maximizando alguma função de va-

lor definida em torno de prospectos. A TUE supõe que as pessoas atribuem utilidades subjetivas às 

possíveis consequências de riscos u(x) e, dentro do construção de cada prospecto, as expectativas 

ponderadas pela probabilidade dessas utilidades ∑

i

p

i



U(x

i

) formam a avaliação da utilidade esperada 



de cada prospecto. A TUE supõe que as pessoas, então, fazem escolhas como se maximizassem o 

valor dessa função, como se essa já existisse em segundo plano. 

Quase ao mesmo tempo em que a Teoria da Utilidade Esperada foi axiomatizada por Von Neu-

mann e Morgernstern [6], as anomalias comportamentais começaram a surgir, desafiando sua posi-

ção de teoria descritiva. Maurice Allais, um economista francês dos anos 1950, apresentou algumas 

das primeiras evidências de anomalias que desafiaram a TUE [7]; eis uma ilustração do chamado 

“paradoxo de Allais”, que consiste em oferecer às pessoas algumas escolhas bem simples. Considere 

como uma escolha entre os dois riscos, denominados de Risco A e Risco B na Figura 1. 

V(q) = Σ

i

 w



i

.u(x


i

)

w



i

 são “pesos decisórios”

que dependem de pi

(Caso especial da UE: w

= p


i

)

Ponderação 



“S” invertido

Enquadra-se nas anomalias 

de 

Allais e em outros dados



experimentais ou de campo.

pesp


probabilidade

O paradoxo de



 Allais

Pesos decisórios na 

Teoria da Prospectos

0

0



£2500

D

0



£2400

£2400


C

£2400


0

2500


B

£2400


£2400

£2400


A

0.66


0.01

0.33


A  TUE implica: ou(A,C) ou(B,D)

Wi

p

Adaptado do original*

Adaptado do original*

(Teoria da Perspectiva)



Figura 1


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