53 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
pois a pesquisa experimental procura testar hipóteses (em geral determinadas a priori) e não ex-
plorar dados. A probabilidade de encontrar um resultado estatisticamente significante por acaso
(um falso positivo) aumenta com o número de variáveis de resultado que forem estudadas. Mesmo
que esse problema seja corrigido para a análise, os pesquisadores também podem ter dificuldade
para explicar, em retrospectiva, a descoberta (possivelmente não premeditada) associada a uma
variável que não fazia parte do teste da hipótese original.
5. Aprenda com seus resultados
Depois de analisar os dados, você talvez conclua que são necessários testes adicionais para esclarecer
seus resultados, ou talvez decida refazer o experimento com intervenções totalmente diferentes. Testar
uma intervenção sempre inclui o “risco” de não encontrar diferenças entre o grupo de teste e o grupo
de controle, mas isso, em si, já pode ser uma descoberta importante. Para saber o que funciona, você
pode decidir incluir mais de um grupo de teste ou intervenções menos conservadoras no futuro.
Se estiver confiante de que sua intervenção funcionou, você está pronto para implementá-la
na prática, seja ela uma política governamental, seja um programa de marketing. Se estiver in-
teressado em construir uma cultura de testar e aprender em sua organização, pense em montar
um banco de dados sobre seus experimentos e aprendizados. Nesse processo, você desenvol-
verá não só um conhecimento sólido produzido pelos resultados de seus testes, mas também
sua compreensão da prática experimental. Como parte desse último processo, uma boa ideia é
se perguntar constantemente como melhorar não só a solidez, mas também a eficiência de seus
métodos. Você pode ter acesso a dados secundários que lhe permitam examinar intervenções
retrospectivamente em um experimento natural.
54 Guia de Economia Comportamental e Experimental
III. AVANÇOS RECENTES
A Economia Comportamental (EC) continua a prosperar como um campo de estudo. As abrangen-
tes implicações da EC, assim como da ciência comportamental em geral, destacam-se em edições
especiais de publicações acadêmicas internacionais, o que indica um interesse crescente e pontos
de contato entre disciplinas. Em 2013, a revista Health Psychology publicou uma edição sobre a
intersecção entre Psicologia da Saúde e Economia Comportamental, enquanto a Review of Inco-
me and Wealth lançou em 2014 um número
especial sobre pobreza, desenvolvimento e Economia
Comportamental. Mais recentemente, em 2015, o Journal of Economic Behavior and Organization
fez uma chamada para artigos a serem publicados em uma edição especial sobre a Economia Com-
portamental da Educação. A ligação entre Economia Comportamental e políticas públicas culmi-
nou este ano com a publicação do extenso relatório
Mind, Society, and Behavior
pelo World Bank
Group, com uma campanha de recrutamento pela recém-criada Equipe de Ciências Sociais e Com-
portamentais da Casa Branca e com o lançamento de um novo periódico,
Behavioral Science and
Policy
, que preenche uma importante lacuna no cenário editorial. Em setembro de 2015 aconteceu
em Londres, Reino Unido, o maior encontro sobre Economia Comportamental com a participação
de cientistas, profissionais e formuladores de políticas na
BX 2015
, uma conferência internacional
sobre descobertas comportamentais.
55 Guia de Economia Comportamental e Experimental
EC e Economia do Desenvolvimento
A Economia Comportamental é voltada para o comportamento em nível micro e se empenha em
operar na macroeconomia, que trata das tendências da Economia como um todo (
The Economist
,
2015, 9 de maio, resenha sobre Thaler, 2015). Um artigo interessante sobre implicações de políticas
internacionais, escrito por Lucy Martin (2014) e já analisado em
The Economist, formula uma conexão
entre comportamento no nível micro e questões relacionadas ao desenvolvimento no nível macro.
O estudo de Martin indica um caminho por onde os países pobres poderiam promover governos
melhores. Segundo a autora, muitos países pobres são financiados por meio de impostos baixos e
altos níveis de ajuda do exterior, o que gera um problema de prestação de contas. Esse argumento
baseia-se no conceito de aversão à perda, isto é, a conclusão de que a ojeriza dos seres humanos a
perder pesa mais do que seu gosto por um ganho equivalente. Evidências experimentais de Uganda
sugerem que elevar impostos deve aumentar a disposição dos cidadãos para punir governantes. Uma
das implicações, diz a autora, é que “adicionar contribuições da comunidade a programas de ajuda
externa poderia tornar os beneficiários mais donos dos projetos e [...] aumentar a probabilidade de
que eles cobrem mais dos governantes locais pelo modo como os recursos são gastos” (pp. 30-31).
Outra ligação entre a EC e a pobreza aparece em ideias ligadas à escassez cognitiva (Mullai-
nathan e Sharif, 2013). Estudos sugerem que a condição de privação econômica pode monopolizar
preciosos recursos mentais, e isso tem um efeito indireto danoso sobre os julgamentos e as escolhas
econômicas que, de outro modo, poderiam ajudar os pobres a melhorar sua condição.
Um experimento de laboratório feito por Mani e colaboradores (2013) mostrou que, em contraste
com pessoas em boa situação econômica, os pobres têm funções cognitivas prejudicadas em conse-
quência de serem forçados a pensar sobre dificuldades financeiras. Plantadores de cana-de-açúcar
foram estudados em um experimento que mediu suas funções cognitivas (Matrizes de Raven e con-
trole cognitivo em uma tarefa de Stroop - ver gráficos) nos períodos pré-colheita (alta pressão finan-
ceira) e pós-colheita (baixa pressão financeira). Foram encontradas pontuações significativamente
melhores no segundo período.
40
50
60
70
80
90
100
110
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014
Interesse Relativo
(100 = Frequência de interesse mais alta)
Ano
Evolução Temporal do Interesse em
"Satisfação do Consumidor"
e em
"Experiência do Consumidor"
(Google Trends)
3
4
5
6
Pré
-colheita
Pós
-colheita
Exatidão
Matrizes de Raven
(Alto = Melhor)
4,35
5,45
Experiência
do Consumidor
Satisfação do
Consumidor
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado do original*
120
125
130
135
140
145
150
Tempo de Resposta
Controle Cognitivo: Tempo de Resposta
(Baixo = Melhor)
146
131
Pré
-colheita
Pós
-colheita
4
5
6
7
E
rr
o
s
Controle Cognitivo: Erros
(Baixo = Melhor)
5,93
5,16
Adaptado do original*
Pré
-colheita
Pós
-colheita
Adaptado do original*
120
125
130
135
140
145
150
Tempo de Resposta
Controle Cognitivo: Tempo de Resposta
(Baixo = Melhor)
146
131
Pré
-colheita
Pós
-colheita
4
5
6
7
E
rr
o
s
Controle Cognitivo: Erros
(Baixo = Melhor)
5,93
5,16
Adaptado do original*
Pré
-colheita
Pós
-colheita
Adaptado do original*
Adaptado de Samson (2015, p. 16).
O primeiro período, inclusive, foi associado a uma perda de função cognitiva equivalente à que de-
correria de privação de aproximadamente um dia de sono. Esses resultados permaneceram significan-
tes depois que outros fatores, como o estresse, foram controlados no modelo estatístico. Os autores
argumentam que a pobreza “absorve a atenção, desencadeia pensamentos intrusivos e reduz recursos
cognitivos” (p. 980), e concluem que os formuladores de políticas não devem apenas concentrar-se na