Guia de economia comportamental e experimental


   Guia de Economia Comportamental e Experimental Parte II



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61   Guia de Economia Comportamental e Experimental

Parte II

 

Economia Comportamental  

e experimental: teoria e prática

ENTENDENDO PREFERÊNCIAS: O QUE PODEMOS APRENDER

COM A ECONOMIA COMPORTAMENTAL?

Chris Starmer 

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O objetivo deste capítulo é fornecer uma visão geral de alguns aspectos da literatura em Economia 

Comportamental na tomada de decisão individual, com algum foco em decisões que envolvam risco. 

Tenho dois objetivos principais em mente. O primeiro é discutir algumas descobertas mais amplas 

que surgiram nessa área de pesquisa ao longo de várias décadas. O segundo, e talvez o mais impor-

tante, é refletir sobre o que é a “pesquisa comportamental” e como ela contribui para a disciplina da 

economia. Tais reflexões conduzirão à proposição de cinco “lições” baseadas nessa discussão.

É bem provável que uma das primeiras coisas que a pessoa que se envolve em pesquisas na área 

comportamental virá a fazer é conduzir experimentos para analisar como pessoas reais tomam decisões 

de verdade. Ao iniciar pesquisas na área, ela rapidamente descobrirá que as pessoas fazem coisas sur-

preendentes; isto é, ela rapidamente identificará o que veio a ser rotulado ou denominado de “anomalias”.

No contexto da escolha individual, por “anomalias” me refiro a preferências declaradas (ou com-

portamentos) que parecem ser afetados por coisas que não teriam importância se pensarmos em 

termos da teoria econômica padrão (ou teoria padrão sobre preferências). Por “teoria padrão de 

preferência” tenho em mente, por exemplo, a teoria da utilidade esperada de preferência sob risco ou 

a teoria da curva de indiferença hicksiana. Anomalias são, portanto, comportamentos que simples-

mente não se encaixam na teoria padrão. 

Três exemplos de anomalias clássicas relacionadas à escolha individual são: reversão de preferên-

cia, efeitos de framing (ou enquadramento) e efeito posse (ou dotação). Essa lista poderia se estender 

ainda mais e a escolha por essas anomalias é de certa forma arbitrária. Para cada um desses casos, pri-

meiro apresentarei uma versão estilizada delas para, em seguida, oferecer um exemplo mais específico.

Sendo assim, comecemos pelo fenômeno de reversão de preferência. Considere dois itens, se-

jam eles bens de consumo, políticas públicas, o que quiser, e imagine que tanto um indivíduo quanto 

o governo tem uma ordem particular de preferência entre os dois itens. Em termos gerais, a reversão 

de preferência é a observação de que a ordenação das preferências reveladas de um indivíduo acaba 

por depender do procedimento usado para evocá-las. Este é um fato surpreendente, se considerar-

mos um contexto onde você assume que existam rankings de preferências estáveis entre itens como 

bens de consumo, políticas públicas etc. A teoria padrão supõe que as preferências são dadas e não 

devem depender da forma como são evocadas, mensuradas ou observadas. Mas, na realidade, em 

alguns momentos elas dependem, como exemplificarei daqui a pouco.



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 Professor do Departamento de Economia da Universidade de Nottingham, Diretor do CeDEx (Center for Decision Research and 

Experimental Economics) e da ESRC NIBS (Network of Integrated Behavioral Sciences)



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Meu segundo exemplo de anomalia é a categoria dos chamados efeitos de framing (enquadra-



mento). Tais efeitos são observados quando pequenas mudanças na apresentação de opções de 

escolha conduzem a mudanças expressivas naquilo que as pessoas escolhem. O que eles têm de inte-

ressante é que são mudanças nos detalhes da apresentação que, novamente, não deveriam importar 

do ponto de vista da teoria padrão. 

Meu terceiro exemplo de anomalia é o chamado efeito posse. Uma forma de descrever o efeito 

posse é a seguinte: observa-se que, em algumas circunstâncias, as pessoas aparentam conferir um 

valor relativamente mais alto a um produto a partir do momento em que o possuem, comparativa-

mente a quando elas não o possuem. Portanto, o fato de algo estar ou não em posse da pessoa afeta 

o valor que dá a esse objeto, o que, novamente, não aconteceria segundo a teoria padrão (ou, alguns 

ousariam dizer, não aconteceria segundo teorias ultrapassadas). 

Gostaria agora de oferecer ilustrações mais concretas desses três fenômenos, descritos acima 

de forma genérica.

As reversões de preferência têm sido observadas desde os experimentos feitos por psicólogos 

como Paul Slovic e Sarah Lichtenstein [1] no início da década de 1970. Os economistas também 

notaram esse fenômeno, e a primeira contribuição à literatura econômica é a de Grether e Plott [2]. 

A literatura continuou a crescer e, para os interessados em trabalhos posteriores, um artigo de des-

taque é o de Tversky, Slovic e Kahneman [3], publicado no American Economic Review em 1990. 

Como muitos experimentos de reversão de preferência, eles pediram para as pessoas tomarem 

decisões em relação a algumas apostas bem simples. Uma dessas apostas, denominada aposta-$, 

oferecia uma pequena chance (nesse exemplo, de 30%) de ganhar algum prêmio (18 dólares ou eu-

ros). Uma segunda aposta, denominada aposta-P, oferecia uma chance relativamente maior (60% 

no lugar de 30%) de ganhar um prêmio relativamente mais modesto (digamos, 8 dólares ou eu-

ros). Então, como é comum nesses experimentos, os indivíduos foram colocados em uma situação 

onde deveriam fazer julgamentos e tomar decisões em relação às apostas. Uma delas seria fazer 

uma escolha direta, em resposta à pergunta: “se você pudesse escolher jogar uma dessas apostas, 

podendo ganhar ou não, qual delas escolheria?” Os indivíduos nesses experimentos também deve-

riam dar um valor para cada um desses objetos; frequentemente um valor monetário, normalmente 

induzido pelo uso de algum procedimento para estimular as pessoas a revelarem suas verdadeiras 

preferências (se é que eles tinham algo assim).

O resultado padrão nesses tipos de experimentos é uma forte tendência das pessoas escolherem 

a opção com maior probabilidade de ganho, mas darem um valor maior à opção que oferece o maior 

prêmio. Ou seja, observam-se classificações [rankings] inconsistentes entre as duas opções, dependen-

do do fato de se olhar para a escolha da pessoa ou para o valor que ela dá para cada opção. Agora, se 

temos uma teoria que atribui aos indivíduos rankings de preferência estáveis a fatores como simples 

riscos, então deve-se esperar que o mesmo ordenamento seja revelado por qualquer um dos procedi-

mentos. No entanto, observa-se que não apenas há diferenças, como também que as inconsistências 

nos rankings apresentam um padrão previsível. Esse é um exemplo de reversão de preferência.

Já em relação ao efeito framing, posso dar o exemplo de um estudo que eu e outros autores condu-

zimos. Nele utilizamos membros de uma conferência como participantes de um experimento sem que 

estes soubessem. Como tal, é um exemplo do que algumas pessoas chamam de experimento de campo 




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