56 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
tributação monetária, mas também reduzir a “tributação cognitiva” sobre os pobres. Isso pode incluir
políticas que facilitem a tomada de decisão e a escolha ótima do momento dessas decisões.
Recursos mentais e confiança
A psicologia dos recursos mentais de modo mais geral também é uma parte importante das teo-
rias relacionadas à autorregulação, e representa outro ponto de encontro importante entre a EC e
a psicologia. Essa área estuda o autocontrole ou força de vontade, uma característica que permite
ao ser humano atingir objetivos refreando impulsos que poderiam levar a resultados negativos. Roy
Baumeister, por exemplo, comparou a força de vontade a um músculo (Baumeister et al., 2007). Es-
tudos concluíram que tarefas que exigem autocontrole, incluindo a tomada de decisão demorada ou
difícil, podem enfraquecer esse músculo e acarretar a depleção do ego, diminuindo a capacidade de
exercer o autocontrole (Vohs et al., 2008). Essa teoria também afetou noções sobre justiça criminal
(restaurativa) (p. ex., Braithwaite, 1999), dada a perceptível ligação entre exclusão social e deficiên-
cias de autorregulação (Baumeister et al, 2005).
Um estudo interessante investigou recentemente a relação entre essa depleção e a confiança
na tomada de decisão econômica (Ainsworth et al., 2014). Experimentos usaram jogos de confiança
nos quais o participante tinha de dividir dinheiro com outra pessoa. Nesse tipo de jogo, alocar menos
dinheiro para o outro é uma abordagem comportamental de baixo risco que indica baixa confiança.
Quando os participantes estavam sofrendo de depleção do ego (por exemplo, porque tinham sido
obrigados a escrever uma história sem usar as letras “A” e “N”), ofereceram menos dinheiro. No en-
tanto, grande parte da diferença entre as pessoas com e sem depleção do ego desapareceu quando
elas pensaram que encontrariam a outra pessoa mais tarde ou quando lhes fizeram pensar em si mes-
mos como sendo semelhantes àquela pessoa. Essas constatações têm numerosas implicações sobre
a confiança. O autocontrole pode ser particularmente importante para que a confiança se desenvolva
em contextos anônimos, como a internet.
O visível declínio na confiança em anos recentes, assim como a sobrecarga cognitiva que pode
ocorrer em decorrência da mudança tecnológica e da vida no século 21, inspirou estudos do efeito de
recursos cognitivos limitados sobre o comportamento de confiança (Samson e Kostyszyn, 2015). O
experimento usou jogos de confiança em duas condições: uma sem carga cognitiva e outra na qual
os participantes tinham de memorizar uma senha longa ou eram expostos a um ruído perturbador.
Os resultados do experimento mostraram níveis de confiança significativamente mais elevados nas
condições sem carga cognitiva. Além disso, o comportamento foi mais “impulsivo” quando havia li-
mitação aos recursos cognitivos. O comportamento de confiança no jogo foi predito mais acentuada-
mente com base na última jogada do parceiro do que na estratégia do próprio participante, indicada
pelo nível médio de confiança em todas as rodadas anteriores do jogo.
EC e Educação
Comparada a outras áreas, a Educação não tem recebido tanta atenção dos economistas comporta-
mentais, e no entanto, apresenta um vasto conjunto de problemas comportamentais que recentemente
despertaram o interesse de acadêmicos e formuladores de políticas (Koch et al., 2014; Lavecchia et al.,
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2014). Seja na escolha da escola, seja nas escolhas diárias relacionadas às tarefas de casa, a Educação
apresenta numerosas decisões importantes a serem tomadas pelos alunos, pais e estudantes do ensi-
no superior. Um problema fundamental sempre teve como eixo a motivação e o que os economistas
comportamentais chamam de “preferências viesadas para o presente”, isto é, o fato de que as pessoas
valorizam as recompensas imediatas mais do que as futuras. Como salientaram Lavecchia e colegas
(2014), esse viés muda ao longo da vida, mas é particularmente acentuado na juventude, sobretudo
na adolescência. Pesquisar sobre as universidades, preencher formulários de inscrição e estudar para
exames têm custos imediatos salientes, enquanto os benefícios dessas ações são incertos e ocorrem no
longo prazo ou incrementalmente. Por isso, políticas educacionais eficazes precisam lidar com o viés
do presente, em especial com as barreiras a ver a educação como um investimento.
Outros problemas comportamentais identificados por Lavecchia et al. incluem enfoque exces-
sivo na rotina, identidades negativas e erros cometidos por falta de informação ou abundância de
opções. Há indícios de que as pessoas tendem a superestimar os custos do ensino (duas vezes mais
para os indivíduos de baixa renda) e a subestimar o diferencial de renda entre quem tem diploma uni-
versitário e quem tem apenas o diploma do curso secundário, o que pode levar a escolhas subótimas.
Além disso, estudantes de baixa renda mostram menor probabilidade de se candidatar a instituições
seletivas, e o número e a complexidade de opções disponíveis, juntamente com a inércia, agravam
ainda mais o problema. Lavecchia et al. citam alguns programas interessantes para lidar com essa
questão. No Canadá, por exemplo, está em curso um experimento que fornece a estudantes do en-
sino médio a ajuda e o tempo necessário durante as aulas para que selecionem as instituições e se
candidatem, o que torna o processo mais fácil e mais saliente.
Em outro exemplo, desta vez nos EUA, uma mudança relativamente pequena nas escolhas
apresentadas pelo exame de admissão à universidade (ACT) parece ter feito uma grande diferença.
Até 1997, os estudantes que se candidatavam ao ensino superior enviavam suas notas de exames a
três universidades gratuitamente e tinham de pagar $6 a cada relatório escolar adicional. Resulta-
do, 80% dos estudantes enviavam três relatórios. Quando essa regra mudou para quatro relatórios
gratuitos, menos de 20% enviaram três e 70% enviaram quatro relatórios. Estudantes de famílias de
baixa renda não só enviaram mais requerimentos, como também mostraram maior probabilidade
de se candidatarem a instituições seletivas.
Neuroeconomia
Nos últimos dez a quinze anos, vimos também um grande crescimento nos estudos sobre neuroe-
conomia (Glimcher et al, 2009). A disciplina da neuroeconomia estuda a tomada de decisão e o
cérebro com base em uma combinação de abordagens neurocientíficas, econômicas e psicológi-
cas. No ano passado, a Society for Neuroeconomics realizou sua décima conferência anual. Não
conseguimos escolher qual seria o melhor artigo dessa conferência, por isso, decidimos selecio-
nar e resumir algumas conclusões dos pesquisadores;
• Pessoas sacrificariam mais dinheiro para impedir a dor em outros do que nelas próprias.
Aumentar a quantidade de serotonina no cérebro dos participantes aumentou a aversão
ao dano tanto à própria pessoa como a outros, enquanto aumentar a dopamina reduziu
somente a aversão ao dano a outros.