81 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
Função valor da
Teoria da Perspectiva
Utilidade
Valor de
x na
escala da perda
Perdas
(x < 0)
Ganhos
(x > 0)
Valor de
x na
escala do ganho
1.
Avalia resultados como mudanças relativas
a um “ponto de referência”
2.
Perdas e ganhos são avaliados separadamente
3.
Aversão à Perda
+X
-X
Escolher
cedo
Escolher
tarde
M
ud
an
ça
d
e
si
na
l,
no
rm
al
iz
ad
o
áreas δ
áreas β
0.05
- 0.05
0
Adaptado do original*
Adaptado do original*
Adaptado de Rick & Loewenstein (2008, p. 3815)
Figura 1. Ativação nas áreas fronto-parietais (áreas ∂) e límbicas (áreas ß) quando as escolhas
envolviam uma oportunidade de recompensa imediata (McClure et al. 2004). Áreas ∂ incluem regiões
do córtex visual, as áreas pré-motora e motora suplementar, córtex intraparietal direito e esquerdo,
córtex pré-frontal dorsolateral direito, córtex pré-frontal ventrolateral direito e córtex lateral órbi-
to-frontal direito. Áreas ß incluem o estriado ventral, o córtex órbito-frontal medial, o MPFC (córtex
pré-frontal medial), o córtex cingulado posterior e o hipocampo posterior esquerdo. Para avaliar a
atividade geral entre as áreas ∂ e ß e estabelecer as comparações apropriadas, McClure et al. (2004)
primeiro normalizaram a mudança no sinal percentual (utilizando a correção por meio de unidade
padrão [z-score]) dentro de cada área e cada participante, para que a contribuição de cada área do
cérebro fosse determinada com relação ao seu próprio intervalo de variação de sinal. Então se esta-
beleceu a média dos escores de mudanças de sinal normalizadas entre áreas e participantes sepa-
radamente para as áreas ∂ e ß. O gráfico dos escores de variação média é feito para cada sistema e
cada resultado de escolha. A atividade relativa nas regiões ∂ e ß do cérebro está correlacionada com
as decisões dos participantes envolvendo dinheiro disponível imediatamente. Houve uma expressiva
correspondência entre área e escolha (p< 0,005), com áreas ∂ demonstrando maior atividade quan-
do a opção escolhida era o adiamento da recompensa. Adaptado da fig. 4 de McClure et al. (2004).
(b) Emoções como a moeda comum
Uma das perspectivas fundamentais em mais de meio século de pesquisa sobre recompensa e pu-
nição é a de que os animais reduzem as alternativas multidimensionais a uma única moeda comum
que facilita a comparação e a substituição (McFarland & Sibly 1975; Shizgal 1997; Montague & Berns
2002). Enquanto as discussões sobre moeda comum na neurociência geralmente “não fazem refe-
rência à experiência hedonística” (Shizgal 1997, p. 198), propomos, nos moldes de Rolls (1999), que as
emoções funcionam como a moeda comum com a qual os humanos fazem trade-offs intertemporais.
Rolls (1999) afirmou que as emoções são experimentadas conscientemente, como estados de senti-
mento (o famoso problema dos “qualia”), justamente porque os humanos fazem seu tipo específico
de trade-offs. Fazer o trade-off entre a dor imediata de uma vacina contra a gripe, por exemplo, e a
redução potencial da infelicidade gerada por contrair gripe requer alguma forma de codificação do
efeito negativo dos dois diferentes resultados. Os meios para atingir essa codificação, argumenta
Rolls (1999, p. 251), são as emoções experimentadas conscientemente. Nas palavras dele:
82 Guia de Economia Comportamental e Experimental
“A visão que sugiro a respeito desses qualia é a seguinte: o processamento das informações que
chegam e saem dos nossos sistemas sensoriais (a visão da cor vermelha, por exemplo) pode ser re-
levante para planejar ações utilizando a linguagem e o processamento consciente aí implícito. Dado
que esses estímulos devem estar representados no sistema que planeja, podemos questionar se seria
mais provável estarmos conscientes deles ou não. Sugiro que seria um sistema com uma finalidade
bastante específica que permitiria que tais estímulos sensoriais e estados emocionais e motivacionais
fizessem parte do planejamento (com base linguística) e, ainda assim, permanecessem inconscientes.
Parece-me mais parcimonioso sustentar que estaríamos conscientes desses ‘qualia’ sensoriais, emo-
cionais e motivacionais porque eles estariam sendo utilizados (ou disponíveis para utilização) nesse
tipo de processamento de pensamento superior (com base linguística).”
A escolha intertemporal, nessa perspectiva, envolve um equilíbrio de duas influências afetivas
qualitativamente distintas, mas imediatas: (i) motivações imediatas para ações específicas basea-
das em custos e benefícios imediatos; e (ii) emoções imediatas experimentadas como resultado da
consideração sobre as consequências futuras potenciais do nosso comportamento. Fazer dieta, por
exemplo, pode envolver uma disputa entre o impulso imediato de comer e a culpa imediata experi-
mentada resultante desse impulso. Poupar pode envolver uma concessão entre, de um lado, o prazer
imediato por gastar ou o sofrimento por não gastar e, de outro, a experiência imediata da culpa e
do medo por gastar e o orgulho por não fazê-lo. Implementar o comportamento de longo prazo não
equivale a escolher uma maçã a uma banana por preferência à primeira. Isso contrapõe sistemas
neurais inerentemente distintos entre si.
(c) Força de vontade
Como observou Adam Smith na epígrafe, embora “discernir as consequências remotas de todas as
nossas ações” e “antever a vantagem ou o prejuízo mais prováveis de resultar delas” sejam uma con-
dição necessária para o adiamento da gratificação, não são suficientes. Além de reconhecer e dar
atenção às consequências futuras das nossas ações presentes, também precisamos ser capazes de
controlar nosso comportamento de forma a implementar a linha de comportamento desejada e, em
geral, presciente. Vale dizer, o comportamento presciente requer o elemento adicional que Smith
chamou de “autocontrole”, por vezes também chamado de “força de vontade”.
A literatura a respeito da força de vontade (vide Baumeister & Vohs 2003 para uma análise)
demonstrou de maneira consistente que agir contrariamente ao ímpeto imediato da motivação emo-
cional (a raiva, por exemplo) ou dos estados de impulso (a fome) implica mais do que uma avaliação
puramente cognitiva de agir de determinado modo está em consonância com o interesse próprio;
requer, também, o emprego de um recurso limitado comumente designado como força de vonta-
de. Essa pesquisa demonstra que, tal qual a energia que é despendida pelos músculos, a força de
vontade tem um estoque limitado (pelo menos no curto prazo). O paradigma experimental geral
empregado por Baumeister e seus colegas confronta os participantes com duas tarefas sucessivas e
não relacionadas, mas que requerem força de vontade. O comportamento na segunda tarefa é com-
parado a um grupo de controle que não realizou a primeira tarefa. A constatação geral é a de que
empregar a força de vontade em uma situação tende a limitar a capacidade das pessoas em utilizá-la
em uma situação subsequente. Por exemplo, em um estudo de autoria de Vohs & Faber (2007), os
participantes inicialmente assistiram a um vídeo, sem som, de uma mulher falando. Palavras eram
periodicamente apresentadas na parte inferior da tela. Foi solicitado que alguns participantes de-
sempenhassem a difícil tarefa de se concentrarem exclusivamente na mulher, ignorando as palavras.
Para outros, não foi oferecida nenhuma orientação sobre como assistir ao vídeo. Solicitou-se que
todos os participantes declarassem sua disposição em pagar por diversos produtos. Os participantes