373 Guia de Economia Comportamental
e Experimental
ção também é associado a processos não motivados, como
os efeitos de primazia e a ancoragem, evidentes quando a
pessoa se baseia em informações que já encontrou em uma
etapa anterior de um processo (Nickerson, 1998).
Viés da diversificação
As pessoas buscam maior variedade quando escolhem si-
multaneamente vários itens para consumo futuro do que
quando fazem escolhas sequencialmente, isto é, um a um.
A diversificação é não ótima quando as pessoas superesti-
mam sua necessidade de diversidade (Read e Loewentein,
1995). Em outras palavras, escolhas sequenciais levam a uma
experiência de utilidade maior. Por exemplo, antes de viajar
nas férias, talvez eu grave uma lista de músicas variadas para
ouvir no meu MP3 player, mas depois acabe ouvindo quase
só rock, o meu estilo favorito. Ver também viés de projeção.
Viés da razão
As pessoas têm mais dificuldade para lidar com proporções
ou razões do que com números absolutos. Quando pediram
a consumidores que avaliassem dois planos de aluguel de fil-
mes em uma escala limitada (por exemplo, 7 e 9 filmes novos
por semana para os planos A e B, respectivamente), em con-
traste com uma oferta equivalente em um escala expandi-
da (364 e 468 filmes por ano, respectivamente), as pessoas
preferiram o melhor plano (plano B) mais frequentemente
na escala expandida do que na contraída (Burson, Larrick e
Lynch, 2009). Isso ocorre porque nosso sistema experien-
cial, ao contrário do sistema racional, codifica informações
como representações concretas, e os números absolutos
parecem mais concretos do que as razões ou porcentagens
(Kirkpatrick e Epstein, 1992). Ver também framing, teoria do
sistema dual, heurística do afeto.
Viés de projeção
Em Economia Comportamental, viés de projeção refere-se
à suposição das pessoas de que seus gostos e preferências
permanecerão iguais com o passar do tempo. Por exemplo,
a pessoa pode superestimar o impacto positivo de uma pro-
moção na carreira porque não avalia corretamente a adap-
tação (hedônica), inclui uma variedade acima do ótimo em
seus planos de consumo futuro (ver viés da diversificação),
ou subestima o preço de venda futuro de um item porque
não leva em conta o efeito dotação. As diferenças entre va-
loração presente e futura devem ser particularmente mal
avaliadas para os bens duráveis, para os quais os níveis de
satisfação tendem a flutuar no decorrer do tempo. Finalmen-
te, a subapreciação pelos consumidores da formação de há-
bito (associada a níveis mais altos de consumo com o passar
do tempo) pode acarretar um viés de projeção quando se
planeja para o futuro, por exemplo, na poupança para a apo-
sentadoria (Loewenstein, O’Donoghue e respectivo, 2003).
Viés de retrospectiva
Esse viés, também conhecido como o viés do “eu já sabia”,
é um viés de julgamento alicerçado em parte nas heurísticas
da disponibilidade e representatividade e ocorre quando o
fato de recebermos novas informações altera o que recorda-
mos de um pensamento original (Mazzoni e Vannucci, 2007).
Esse viés pode levar a julgamentos distorcidos sobre a pro-
babilidade de ocorrência de um evento, pois o resultado
de um evento é percebido como sendo previsível. Também
pode ocasionar distorções de memória para julgamentos de
conhecimentos factuais. O viés de retrospectiva pode ser
um problema na tomada de decisão em áreas do direito. Em
ações judiciais contra erro médico, o viés de retrospectiva
dos jurados tende a aumentar conforme a gravidade do re-
sultado (lesão ou morte) (Harley, 2007).
Viés do otimismo
As pessoas tendem a superestimar a probabilidade de
eventos positivos e subestimar a de eventos negativos.
Por exemplo, podemos subestimar o risco de sofrer um
acidente de carro ou de ter câncer em comparação com
esse mesmo risco para outras pessoas. Vários fatores po-
dem explicar esse otimismo irrealista, entre eles os vieses
de autointeresse, controle percebido, estar de bom humor
etc. Um possível fator cognitivo que foi identificado com
o viés do otimismo é a heurística da representatividade
(Shepperd, Carroll, Grace e Terry, 2002).
Viés do presente
O viés do presente refere-se à tendência de dar um peso
maior a recompensas que estão mais próximas do tempo
presente quando consideramos os trade-offs entre dois mo-
mentos futuros (O’Donoghue e Rabin, 1999). Ver também
desconto intertemporal.
Viés do status quo
O viés do status quo evidencia-se quando as pessoas pre-
ferem que as coisas permaneçam como estão, não fazendo
coisa alguma (ver também inércia), ou mantendo uma deci-
são tomada anteriormente (Samuelson e Zeckhauser, 1988).
Isso pode acontecer mesmo quando os custos de transição
são pequenos e a importância da decisão é grande. Dados
de campo sobre adesão a planos de saúde na universidade,
por exemplo, mostram grande disparidade nas escolhas de
plano entre os segurados novos e os mais antigos que não
poderiam ser explicadas por preferências inalteradas. Um
plano específico, com prêmios e franquias mais favoráveis,
tinha uma fatia de mercado crescente entre os novos empre-
gados, mas uma fatia significativamente menor entre os mais
antigos. Samuelson e Zeckhauser mencionam que o viés do
status quo é condizente com a aversão à perda e poderia
ser explicado, na esfera psicológica, por compromissos as-
sumidos previamente e por ideias sobre custo irrecuperável,
dissonância cognitiva e necessidade de sentir-se no controle
e evitar arrependimento. Essa última noção baseia-se na ob-
servação de Kahneman e Tversky de que as pessoas sentem
mais arrependimento por resultados ruins decorrentes de
novas ações do que por consequências ruins resultantes de
inação (Kahneman e Tversky, 1982).