Totem e tabu


OBSERVAÇÕES E EXEMPLOS DA PRÁTICA ANALÍTICA



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OBSERVAÇÕES E EXEMPLOS DA PRÁTICA ANALÍTICA

A coleção de pequenas contribuições, de que aqui apresentamos uma primeira parte, exige algumas palavras e introdução. Os casos de doença que chegam à observação de um psicanalista são, naturalmente, de valor desigual no que se refere ao aumento de seus conhecimentos. Há aqueles em que tem de aplicar tudo o que sabe e dos quais nada aprende; e outros que lhe mostram o que já conhece de uma maneira particularmente bem marcada e num isolamento excepcionalmente revelador, de modo que o psicanalista fica em dívida para com eles não apenas apenas pela confirmação, mas também pela ampliação de seus conhecimentos. Temos razões para supor que os processos psíquicos que desejamos estudar não são diferentes na primeira e na segunda espécie de casos, mas decidimos descrevê-los tal como ocorreram nos exemplos favoráveis e claros. De modo semelhante, a teoria da evolução pressupõe que no reino animal a segmentação do ovo se processa da mesma maneira tanto nos casos em que um alto grau de pigmentação está presente — casos desfavoráveis portanto para a observação — como naqueles em que o objeto de estudo é transparente e pouco pigmentado, sendo, por essa razão, escolhidos para observação.

Mas os numerosos exemplos que, durante o dia de trabalho de um analista, trazem-lhe uma confirmação do que já sabe, são, na maioria, perdidos de vista, pois reuni-los num todo quase sempre envolve longa demora. Há, portanto, uma certa vantagem em fornecer uma estrutura dentro da qual observações e exemplos desse tipo possam ser publicados e tornados conhecidos de modo geral, sem se esperar que sejam elaborados a partir de um ponto de vista mais generalizado.

Sob o título que é aqui introduzido, será oferecido espaço para material dessa espécie. As comunicações serão tão concisas quanto possível. As diferentes contribuições não estão dispostas em qualquer ordem particular.


(1)
SONHOS COM UMA CAUSA

PRECIPITANTE NÃO-IDENTIFICADA


Uma pessoa que dormia bem acordou certa manhã numa estação de veraneio no Tirol, sabendo que tivera um sonho de que o Papa morrera. Não pôde encontrar explicação para ele. Durante a manhã do mesmo dia, sua esposa lhe disse: ‘Ouviu o barulho terrível que os sinos fizeram esta manhã?’ Não tinha ouvido, mas, evidentemente, sonhara a respeito. A interpretação que seu sonho deu aos sinos foi a sua vingança dos piedosos tiroleses. Segundo os jornais, o Papa achava-se ligeiramente indispostos naquela ocasião.

(2)
HORA DO DIA EM SONHOS


Isso com muita freqüência representa a idade da pessoa que sonha em algum período específico de sua infância. Em certos sonhos, cinco e um quarto da manhã significavam a idade de cinco anos e três meses, o que era significativo, visto ser a idade do sonhador na ocasião do nascimento de seu irmão mais moço. — Muitos exemplos semelhantes.
(3)
A REPRESENTAÇÃO DE IDADES NOS

SONHOS
Uma mulher sonhou que estava caminhando com duas garotinhas que tinham uma diferença de idade de 15 meses. Foi incapaz de lembrar-se de qualquer família de suas relações que tivesse duas filhas nessa situação. Ocorreu-lhe que ambas as crianças representavam ela própria, e que o sonho estava lembrando-lhe que os dois acontecimentos traumáticos de sua infância achavam-se separados um do outro por 15 meses (3 1/2 e 4 3/4 anos de idade).


(4)
POSIÇÃO AO DESPERTAR DE UM SONHO
Uma mulher sonhou que estava deitada de costas e apertando as solas dos pés contra os de outra mulher. Pela análise parecia possível que ela estivesse pensando em cenas de travessuras, que substituíram a lembrança de uma observação de relações sexuais. Quando acordou reparou que, pelo contrário, estivera deitada sobre o estômago, com os braços cruzados, imitando assim a posição de um homem dando um abraço.
(9)
DOIS QUARTOS E UM QUARTO
Ele teve um sonho em que viu dois quartos familiares que haviam sido transformados num só.

Nada de concreto. O sonho dizia respeito aos órgãos genitais femininos e o ânus, que, em criança, ele havia considerado como uma só região, o ‘fundo’ (de acordo com a ‘teoria da cloaca’ infantil) enquanto agora sabia existirem duas cavidades e orifícios separados. Uma representação invertida.


(10)
SOBRETUDO COMO SÍMBOLO
Em sonhos femininos, um sobretudo [‘Mantel‘, em alemão] é indiscutivelmente o símbolo de um homem. A assonância lingüística pode talvez desempenhar algum papel.
(13)
PÉS (SAPATOS) VERGONHOSOS
Após vários dias de resistência, a paciente relatou que se sentira muito humilhada porque um jovem que encontrava regularmente perto da casa do médico, e que geralmente a olhava com admiração, na última ocasião olhara desdenhosamente para os seus pés. Na realidade, não tinha razão para sentir-se envergonhada deles. Ela própria deu a explicação, após admitir que havia considerado o jovem como filho do médico, que portanto (por via de transferência) representava o irmão mais velho dela. Seguiu-se então a lembrança de ter tido o hábito de acompanhar o irmão ao banheiro, quando ela tinha aproximadamente cinco anos de idade, e de olhá-lo urinar. Ficava com inveja por não ser capaz de fazê-lo da mesma maneira e certo dia tentaria imitá-lo (inveja do pênis). Ao fazê-lo, no entanto, molhara os sapatos e ficara muito zangada quando o irmão, por causa disso, zombara dela. Durante muito tempo depois, sua ira retornava sempre que o irmão olhava desdenhosamente para os sapatos dela, a fim de lembrar-lhe sua desventura. Acrescentou que essa experiência havia determinado seu comportamento posterior na escola. Se era malsucedida em alguma coisa à primeira tentativa, nunca podia forçar-se a tentar de novo, de maneira que em muitas matérias fracassou completamente. — Esse é um bom exemplo da maneira pela qual a vida sexual atua como um modelo e influencia o caráter.

(15)
AUTOCRÍTICA NOS NEURÓTICOS


É sempre notável e merece uma atenção especial, quando um neurótico tem o hábito de falar mal de si próprio, expressando uma opinião baixa sobre si mesmo etc. Como no caso das autocensuras, muitas vezes é possível explicar isso supondo que ele está se identificando com outra pessoa. Em certa paciente, porém, as circunstâncias durante a sessão tornaram necessária uma outra explicação para tal comportamento. Uma jovem senhora, que nunca se cansava de declarar que tinha muito pouca inteligência, não era bem dotada etc., estava apenas tentando indicar com isso que possuía uma grande beleza física, escondendo essa jactância por trás de sua autocrítica. Tampouco se achava ausente neste caso — o que é sempre de se esperar em tais casos — uma referência aos efeitos prejudiciais da masturbação.
(19)
CONSIDERAÇÕES DE REPRESENTABILIDADE
Um homem sonhou que estava puxando um mulher de detrás de uma cama; ou seja, estava lhe dando preferência. — Ele (um oficial) estava sentado a uma mesa, em frente ao Imperador: isto é, estava se colocando em oposição ao Imperador (seu pai). Em ambos os casos o sonhador deu ele mesmo a tradução.
(20)
SONHOS COM PESSOAS MORTAS
Se alguém sonha que está falando com pessoas mortas, se reunindo com elas etc., isso freqüentemente representa a sua própria morte. No entanto, se lembrar durante o sonho de que a pessoa em questão se acha morta, o sonhador está repudiando o fato de o sonho representar a sua própria morte.
(21)
SONHOS FRAGMENTÁRIOS
Esses sonhos freqüentemente contêm apenas os símbolos relacionados com o seu tema. Por exemplo, aqui temos um sonho que ocorreu num contexto de impulsos homossexuais: estava saindo para passear com um amigo… (indistinto)… balões.
(22)
APARECIMENTO NO SONHO DOS SINTOMAS DA DOENÇA
Os sintomas da doença (ansiedade etc.), quando aparecem num sonho, parecem de modo geral significar: “Estou doente por causa disto (isto é, em conexão com os elementos anteriores do sonho)”. Tais sonhos, por conseguinte, correspondem a uma continuação da análise no sonho.
FAUSSE RECONNAISSANCE (DÉJÀ RACONTÉ)

NO TRATAMENTO PSICANALÍTICO
Acontece com freqüência durante o tratamento analítico que o paciente, após relatar algum fato de que se lembrou, prossiga dizendo: ‘Mas eu já lhe contei isso’ — enquanto o analista tem certeza de ser essa a primeira vez que escutou a história. Se o dissermos o paciente muitas vezes protestará com energia, dirá que tem certeza de estar com a razão, que é capaz de jurar, e assim por diante: enquanto que a própria convicção do analista de que o que ouviu é novo torna-se correspondentemente mais forte. Tentar resolver o impasse silenciando o paciente a gritos ou sobrepujando-o em protestos, seria um procedimento muito pouco psicológico. É sabido que o senso de convicção da exatidão da própria memória não tem valor objetivo; e, visto que uma das duas pessoas interessadas deve necessariamente estar enganada, a vítima de uma paramnésia pode ser tanto o médico como o paciente. O analista dirá isso ao paciente, interromperá a discussão e adiará a solução do assunto para uma ocasião posterior.

Numa minoria de casos, o próprio analista recordará depois já ter ouvido a informação durante uma discussão e ao mesmo tempo descobrirá a razão subjetiva, e freqüentemente forçada, que conduziu a esse esquecimento temporário. Na grande maioria dos casos, porém, é o paciente quem está equivocado e poderá ser levado a reconhecer o fato. A explicação dessa ocorrência freqüente parece ser que o paciente realmente teve a intenção de dar essa informação, que por uma ou diversas vezes fez, na realidade, alguma observação que conduzia a ela, mas foi então impedido, pela resistência, de realizar seu propósito e, mais tarde, confundiu a lembrança de sua intenção com a lembrança de sua atuação.

Deixando de lado os casos em que ainda possa existir algum elemento de dúvida, apresentarei agora outros que são de especial interesse teórico. A certas pessoas acontece, e pode mesmo acontecer repetidamente, aferrarem-se com particular teimosia à afirmação de que já contaram ao analista isso ou aquilo, quando a natureza das circunstâncias e da informação em foco torna inteiramente impossível que possam estar com a razão, porque o que alegam já haver contado ao analista e que pretendem seja reconhecido como velho e já familiar ao analista também, mostram ser lembranças da maior importância para a análise — fatos confirmatórios pelos quais o analista há muito tempo esperava ou soluções que rematam toda uma parte do trabalho e que certamente teriam sido assunto de um exame exaustivo. Diante dessas considerações, o próprio paciente logo admite que sua lembrança deve tê-lo enganado, embora seja incapaz de explicar seu caráter definido.
O fenômeno apresentado pelo paciente em casos como esses merece ser chamado de ‘fausse reconnaissance’, sendo inteiramente análogo ao que acontece em alguns outros casos e que já foi descrito como ‘déjà vú’. Nestes, o sujeito tem uma sensação espontânea, do tipo ‘Já estive antes nesta situação’ ou ‘Já passei por tudo isto’, sem nunca ter condição de confirmar sua convicção pela descoberta de uma lembrança real da ocasião anterior. Esse fenômeno, como é bem sabido, provocou grande número de tentativas de explicação, as quais podem, grosso modo, ser divididas em dois grupos. Um tipo de explicação encara a sensação que constitui o fenômeno como merecedora de crédito e presume que algo realmente foi lembrado — restando saber o quê. A segunda explicação, muito mais concorrida, sustenta, pelo contrário, que estamos lidando com uma lembrança ilusória, o problema estando em descobrir como esse erro paramnésico pode ter surgido. Esse último grupo abrange muitas hipóteses amplamente diferentes. Há, por exemplo, a opinião antiga, atribuída a Pitágoras, de que o fenômeno do déjà vu prova que o sujeito já teve uma vida anterior; há ainda a hipótese baseada na anatomia (apresentada por Wigan em 1860), segundo a qual o fenômeno se baseia na falta de simultaneidade no funcionamento dos dois hemisférios cerebrais e, finalmente, existem as teorias puramente psicológicas, apoiadas pela maioria das autoridades mais recentes, que encaram o déjà vu como indicação de uma debilidade aperceptiva e atribuem a responsabilidade de ocorrência a causas como a fadiga, a exaustão e a distração.

Em 1904, Grasset apresentou uma explicação do déjà vu que deve ser computada ao grupo que ‘acredita’ no fenômeno. Sua opinião era que, em alguma época anterior, houvera uma percepção inconsciente, que somente naquele momento tinha aberto caminho até a consciência, sob a influência de uma impressão nova e semelhante. Diversas outras autoridades concordaram com essa opinião e sustentaram ser a base do fenômeno a recordação de algo que foi sonhado e depois esquecido. Em ambos os casos, tratar-se-ia da ativação de uma impressão inconsciente.


Em 1907, na segunda edição do meu livro Psychopathology of Everyday Life [1901b, Capítulo XII (D)], propus uma explicação exatamente similar para essa forma de paramnésia aparente, sem mencionar o artigo de Grasset por desconhecer a sua existência. A título de excusa, posso observar que cheguei à minha conclusão em conseqüência da investigação psicanalítica que pude fazer de um exemplo de déjà vu numa paciente, o qual era extremamente claro, embora houvesse ocorrido cerca de 28 anos antes. Não reproduzirei aqui a pequena análise. Demonstrou-se que a situação em que o déjà vu ocorrera fora realmente calculada para reviver a lembrança de uma experiência anterior da paciente. Esta, que era na ocasião uma criança de 12 anos, estava visitando uma família na qual havia um irmão que estava seriamente doente, prestes a morrer, enquanto o próprio irmão da paciente estivera numa situação igualmente perigosa alguns meses antes. Entretanto, achava-se associada ao primeiro desses dois acontecimentos similares uma fantasia incapaz de penetrar na consciência — a saber, um desejo de que o irmão morresse. Conseqüentemente, a analogia entre os dois casos não podia torna-se consciente e sua percepção foi substituída pelo fenômeno de ‘ter passado por aquilo tudo antes’, com a identidade sendo deslocada do elemento realmente comum para a localidade. O nome déjà vu é, como sabemos, aplicado a toda uma classe de fenômenos análogos tais como o ‘déjà entendu’, o ‘déjà éprouvé’ e o ‘déjà senti’. O caso que irei agora relatar, como exemplo isolado de muitos outros semelhantes, consiste num ‘déjà raconté’ e pode ter sua origem remontada a uma resolução inconsciente que nunca foi executada.

Um paciente me disse, no decorrer de suas associações: ‘Quando me achava brincando no jardim com um canivete (isso se deu quando eu tinha cinco anos de idade) e cortei fora meu dedo mindinho — oh, eu só pensei que ele fora cortado — mas já lhe falei sobre isso.’

Garanti-lhe que não tinha lembrança de nada sobre o assunto. Ele insistiu com uma convicção crescente ser impossível que estivesse enganado. Acabei por dar fim à discussão da maneira que descrevi acima e lhe pedi para, de qualquer modo, repetir a estória pois então veríamos em que ponto nos achávamos.

‘Quando eu tinha cinco anos, estava brincando no jardim perto da babá, fazendo cortes com o meu canivete na casca de uma das nogueiras que aparecem em meu sonho também. De repente, para meu inexprimível terror, notei ter cortado fora o dedo mindinho da mão (direita ou esquerda?), de modo que ele se achava dependurado, preso apenas pela pele. Não senti dor, mas um grande medo. Não me atrevi a dizer nada à babá, que se encontrava a apenas alguns passos de distância, mas deixei-me cair sobre o assento mais próximo e lá fiquei sentado, incapaz de dirigir outro olhar ao meu dedo. Por fim, me acalmei, olhei para ele e vi que estava inteiramente ileso.’

Concordamos logo que, a despeito do que havia pensado, não poderia ter-me contado a história dessa visão ou alucinação. Estava bem ciente de que eu não teria deixado de explorar uma prova como de ele ter tido um temor à castração na idade de cinco anos. O episódio destruiu a resistência em assumir a existência de um complexo de castração, mas ele levantou a questão: ‘Por que estava tão certo de ter-lhe contado antes esta lembrança?’

Ocorreu-nos então que, repetidas vezes e em relação à várias coisas, ele tinha tido a seguinte lembrança trivial, sem nunca retirar dela nenhum proveito:

‘Certa vez, quando meu tio partiu em viagem, perguntou a mim e à minha irmã o que gostaríamos que ele nos trouxesse, ao voltar. Minha irmã pediu um livro e eu, um canivete.’ Compreendemos então que essa associação que surgira meses antes fora na realidade uma lembrança encobridora da recordação reprimida e constituíra uma tentativa (abortada pela resistência) de contar a história da perda imaginária do dedinho — equivalente inequívoco de seu pênis. O canivete que seu tio realmente lhe trouxera ao voltar era, como claramente se lembrava, o mesmo que aparecera no episódio que por tanto tempo fora suprimido.

Parece desnecessário acrescentar algo, a título de interpretação dessa pequena ocorrência, ao esclarecimento que ela oferece ao fenômeno da ‘fausse reconnaissance’. Com referência ao tema geral da visão do paciente, posso observar que, particularmente em relação ao complexo da castração, falsificações alucinatórias semelhantes não são raras e podem facilmente servir ao propósito de corrigir percepções incômodas.

Em 1911, um homem de instrução superior, residente numa cidade universitária da Alemanha, não pertencente às minhas relações e cuja idade me é desconhecida, colocou-me à disposição as seguintes notas sobre a sua infância:

‘No decurso da leitura de seu estudo sobre Leonardo da Vinci [1910c] fui levado a uma discordância interna pelas observações feitas no início do Capítulo III. Sua afirmação de que as crianças do sexo masculino são dominadas por um interesse em seus próprios órgãos genitais provocou-me uma contra-afirmação de que “Se é essa a regra geral, sou, sob todos os aspectos, uma exceção a ela”. Prossegui então lendo a passagem que se segue com o máximo espanto, o espanto que se sente ao encontrar-se um fato de caráter inteiramente novo. Em meio ao meu espanto, ocorreu-me uma lembrança que me demonstrou, para minha própria surpresa, que o fato, de maneira alguma, poderia ser tão novo quanto parecia, porque, à época em que estava atravessando o período das “pesquisas sexuais infantis”, um acaso feliz proporcionou-me a oportunidade de inspecionar os órgãos genitais femininos de uma menina da minha própria idade e, ao assim proceder, observei muito claramente um pênis do mesmo tipo que o meu. Pouco depois fui mergulhado em nova confusão pela visão de algumas estátuas e nus artísticos femininos e, a fim de anular esta discrepância “científica”, engendrei a seguinte experiência: Apertando as coxas uma contra a outra, consegui fazer que meus órgãos genitais desaparecessem entre elas; e fiquei contente em descobrir que, dessa maneira, conseguia livrar-me de todas as diferenças entre minha própria aparência e a de um nu feminino. Evidente, pensei comigo mesmo, fizeram os órgãos genitais desaparecer de modo semelhante nos nus femininos.’

‘Nesse ponto, uma outra lembrança me ocorreu, lembrança que sempre fora da maior importância para mim, pelo fato de constituir uma das três recordações que representam tudo o que posso lembrar de minha mãe, morta quando eu ainda era muito pequeno. Lembro-me de vê-la parada em frente ao lavatório, limpando os vidros e a bacia, enquanto me achava brincando na mesma peça e cometendo alguma travessura. Como castigo, levei um sonoro tapa na mão e então, para meu grande terror, vi meu dedo mínimo cair, não me atrevi a dizer nada, mas meu terror tornou-se ainda mais intenso quando vi o balde ser pouco depois carregado para fora pela empregada. Por muito tempo fiquei convencido de que perdera um dedo — até a época, segundo creio, em que aprendi a contar.’

‘Muitas vezes tentei interpretar esta recordação, que, como já disse, sempre foi da maior importância para mim, por causa de sua conexão com minha mãe; mas nenhuma das interpretações me satisfez. Somente agora, depois de ter lido seu livro, foi que comecei a suspeitar de uma resposta simples e satisfatória ao enigma.’

Há um outro tipo de fausse reconnaissance que não raramente aparece ao final de um tratamento, para satisfação do médico. Depois de ter sido bem-sucedido em forçar o fato reprimido (seja este de natureza real ou psíquica) à aceitação do paciente, a despeito de todas as resistências, e conseguido, por assim dizer, reabilitá-lo — o paciente poderá dizer: ‘Sinto-me agora como se o houvesse sabido todo o tempo’. Com isto, o trabalho da análise se completa.



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