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e Experimental
Em outro estudo, usamos diferentes molduras para definir uma massagem de $100 como utili-
tária (recomendada por um médico para aliviar a dor nas costas) ou hedonista (desejada porque a
massagem é considerada aprazível). Esbanjadores e avarentos foram igualmente propensos a quali-
ficar a massagem hedonista como mais dolorosa de pagar do que a massagem utilitária, mas os ava-
rentos foram mais sensíveis à distinção. Avarentos eram 46% mais propensos a comprar a massagem
utilitária do que a massagem hedonista. Esbanjadores estavam 29% mais propensos a comprar a
massagem utilitária. O resultado de ambos os estudos sugere que fatores circunstanciais que ameni-
zam a dor de pagar diminuem as diferenças de gasto entre avarentos e esbanjadores, motivando os
primeiros a se comportarem mais como os últimos.
Ao passo que as pesquisas acima se concentraram em intervenções que aumentam o gasto dos
avarentos, futuras pesquisas devem examinar se há intervenções que simultaneamente aumentam o
gasto dos avarentos e diminuem o dos esbanjadores. Rick (2007) observou que os avarentos gastam
mais quando estão tristes (relativo ao seu gasto em estado neutro) e que os esbanjadores gastam
menos quando estão tristes, mas os efeitos foram pequenos.
Pesquisas futuras sobre a dor de pagar devem também tentar estabelecer a relação causal para
a ativação da ínsula nas decisões de compra. Knutson et al. (2007) concluíram que a ativação da
ínsula desestimula o consumo, mas a natureza correlacional da pesquisa com ressonância magnética
funcional (fMRI) tornou impossível descartar a possibilidade de que não comprar bens aumente a
ativação da ínsula (embora essa hipótese alternativa pareça menos plausível do que a explicação pro-
posta). Uma forma de obter evidências convergentes seria examinar se os medicamentos contra dor
e ansiedade (por exemplo, lorazepam; Paulus et al. 2005) costumam aumentar o gasto e provocam
um efeito particularmente forte nos avarentos.
Por fim, observemos o papel complementar que a pesquisa neurológica e a comportamental
tiveram na geração de perspectivas de como as pessoas controlam seu gasto. O próprio modelo de
Prelec & Loewenstein (1998), motivado pela pesquisa comportamental, mais tarde inspirou a pesqui-
sa neuroeconômica de Knutson et al. (2007) que, por sua vez, motivou o trabalho comportamental
de Rick et al. (2008). Conforme observado anteriormente, pesquisas subsequentes poderiam apro-
fundar as perspectivas sobre a dor de pagar, analisando se drogas que reduzem a dor e a ansiedade
afetam diferentes consumidores de maneira distinta.
3. Prática da dieta
Em seu brilhante capítulo “A prática da dieta como exercício em Economia Comportamental”, Her-
man & Polivy (2003, p. 473) observaram que fazer dieta é um exemplo de escolha intertemporal
mais suscetível de ser utilizado para ilustrar as discussões teóricas sobre escolha intertemporal, mas
concluíram, em última análise, que “a prática da dieta não é capaz de desempenhar o papel exemplar
que foi solicitada a desempenhar”. A principal razão, traduzida em nossos próprios termos, é que os
benefícios de comer são imediatos e tangíveis, ao passo que os benefícios da dieta são adiados e
intangíveis. Como afirmam Herman & Polivy (2003, p. 474):
“a diferença na estrutura de recompensa que os adeptos de dietas enfrentam é crucial para en-
tender (...) por que a prática da dieta pode ser mais difícil do que situações normais de adiamento de
gratificação. Os sujeitos de Mischel, em primeiro lugar, receberão com certeza a recompensa adiada;
eles sabem que, se esperarem, receberão o biscoito a mais. A adepta da dieta, porém, não possui
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essa garantia. Ela pode resistir à tentação de um prato de biscoitos, mas não tem a certeza de que
ficará magra como resultado.”
Uma razão é que a perda de peso tem apenas uma tênue relação com o consumo; a influência de
fatores tais como metabolismo e peso no início de uma dieta pode sobrepujar a influência da inges-
tão de comida. Outro fator que interfere na relação entre a restrição presente e a magreza futura é o
comportamento do “futuro eu” de uma pessoa. A restrição de hoje não é capaz de gerar a magreza
futura se não se pode esperar que nosso “futuro eu” se contenha.
Os adeptos de dietas no mundo real, além de não possuírem garantias de que sua restrição trará
grandes recompensas posteriores (na forma de uma cintura mais fina), também não têm ideia de
quando essas recompensas irão se tornar realidade. Comparando a adoção de dietas no mundo real
e o paradigma da concessão explícita, observaram Herman & Polivy (2003, p. 474): “os sujeitos de
Mischel sabem quanto tempo devem esperar. Para um adepto da dieta, o processo costuma ser lento.
É bem possível que a pessoa faça dieta para sempre e ainda não atinja o peso ideal.” A fraca relação
entre qualquer episódio particular de restrição e a magreza futura, assim como a definição ambígua
de “futuro”, sugere que as recompensas adiadas que os adeptos de dietas enfrentam são bem menos
tangíveis do que as recompensas explicitamente definidas, tipicamente oferecidas no laboratório.
Dada a intangibilidade das recompensas adiadas, os praticantes de dieta supostamente preci-
sam de alguma forma de imediatizar os custos da satisfação atual (renúncia à magreza). Herman &
Polivy (2003, p. 475) propuseram que os adeptos de dieta pesem a dor da restrição presente em
contraste com o prazer antecipado, mas especularam que obter satisfação imediata não é necessa-
riamente uma consequência de a “dor presente exceder o prazer futuro. É mais uma questão de a dor
presente exceder a presente (prazerosa) antecipação do prazer futuro. Ambos esses eventos hedo-
nistas ocorrem no presente, praticamente ao mesmo tempo, e podem ser diretamente comparados
com a mesma métrica.” Uma hipótese alternativa, em consonância com as pesquisas sobre a dor de
pagar, é que os adeptos de dietas utilizam emoções negativas para imediatizar as consequências da
satisfação. Basicamente, Herman e Polivy propuseram que a dor antecipatória motiva a satisfação
imediata, embora a influência dessa dor possa ser neutralizada pela antecipação prazerosa da saúde
futura. Por contraste, nossa perspectiva sugere que o prazer antecipatório motiva a satisfação ime-
diata, embora a influência desse prazer possa ser neutralizada pela culpa dolorosa.
Até onde sabemos, poucas pesquisas foram realizadas para descobrir como os adeptos de die-
tas imediatizam as consequências adiadas da satisfação. Uma exceção é um estudo exploratório de
Ellison et al. (1998) no qual seis mulheres com anorexia e seis mulheres saudáveis visualizaram várias
imagens de bebidas de conteúdo calórico variado enquanto faziam tomografia por ressonância mag-
nética funcional (fMRI). Algumas imagens “receberam o rótulo de bebidas de alta caloria (por exem-
plo, milkshake de chocolate)”, enquanto outras “receberam o rótulo de bebidas de baixa caloria (por
exemplo, água mineral)” (Ellison et al. 1998, p. 1192). Ellison et al. (1998) relataram que as participan-
tes com anorexia experimentaram maior ativação da ínsula e da amígdala durante todo o experimen-
to, mas, de forma crucial, os autores não analisam se a manipulação experimental (nível calórico) age
sobre essa diferença. Fica patente que são necessárias pesquisas neurocientíficas mais acuradas. A
tarefa SHOP de Knutson et al. (2007), por exemplo, poderia ser facilmente modificada para abordar
questões de dieta, por meio da substituição de bebidas com chocolate e outros alimentos associados
à gratificação que poderiam ser entregues aos participantes enquanto faziam a tomografia, e subs-
tituir o preço com informações nutricionais (por exemplo, a quantidade de calorias). Embora muitos