Esquizofonia



Yüklə 4,54 Kb.
Pdf görüntüsü
səhifə14/79
tarix14.12.2017
ölçüsü4,54 Kb.
#15678
1   ...   10   11   12   13   14   15   16   17   ...   79

38 
 
repetida uma “peça” levada à sua mais alta potência expressiva, sua mais 
alta tonalidade. A repetição sabe ser uma transvaloração e um salto para 
uma incrível dimensão superior, transcendente a toda a repetição 
idêntica. Ela abre às realizações de durações múltiplas e conexas, planos 
de realidades singulares e simultâneas, compossíveis: as múltiplas 
sincronicidades das ocasiões atuais. É precisamente nestes múltiplos 
planos de durações, nestes múltiplos planos de realidades, nesta estrita 
simultaneidade dos compossíveis que o silêncio se apresenta como uma 
fratura regional. Ele adquire um sentido literalmente geológico – mas 
atenção, os valores podem brutalmente se inverter e entrar em declínio. 
Uma grande regressão é sempre possível como perigo: e é dentro da 
perspectiva sonora de um eterno retorno físico-orgânico que é preciso 
entrever a realidade de um amanhã silencioso, isto é, uma espécie de 
solidificação do meio musical que esboça uma brutal paragem fluxo 
futuro da produção sonora. O escoamento energético transformacional 
musical pode assim marcar uma paragem que é por sua vez (pólo reativo) 
uma declinação possível de uma região extrema do eterno retorno, de 
onde a dupla conotação ‘ativa” e “reativa” do silêncio pressupõe o 
retorno brutal do indiferenciado mas igual e simultaneamente a 
possibilidade de um novo recomeço a partir do zero do Cosmos (sonoro), 
do mundo na sua auto-criação. Neste duplo sentido, o silêncio é a fratura 
real: solidificação (Pólo negativo), mas igualmente a nova distribuição 
possível das multiplicidades sonoras (Pólo positivo). Aqui se encontra a 
dupla afirmação de Nietzsche (duplo silêncio) e a de Hölderlin (o Tempo 
que separa e que liga). 
Para Nietzsche o silêncio é o ouro do Tempo supremo, em outras 
palavras, denominado de Tempo universal ou Tempo Objetivo: uma 
temporalidade subjetiva, fora de toda a homogeneidade possível, no e 
para o mundo, fora de toda a duração, da memória e de suas densidades 
(a geografia contra a história, a extensão dos sons contra a espessura 
intensiva). É que, graças à sua consistência, o silêncio inverte a totalidade 
das perspectivas do Mundo-Tal-Como-Ele É e do Mundo-Como-Vai-Ser. É 
preciso aí ver um silêncio para o mundo que vem duplicar aquele do 
simultaneísmo interior, fundador de toda a duração e de toda a memória. 
O silêncio é duplo: extensivo e intensivo, para o mundo e no cérebro, para 
a música e no intelecto. Se o tempo é Um, Tempo Supremo, o silêncio é 
sempre o dobro, redobrado. Simultaneísmo e compossibilidade. 
Os gradientes intensivos do silêncio são as densidades: os modos 
expressivos do silêncio, e a resolução (harmônica) é como um modo da 
fratura do tempo. 
As máquinas eletrônicas abrem a via de uma música e de uma vida do 
terceiro tipo. Pode ser que isto venha ser um infinito próprio do terceiro 
milênio. Mas Nietzsche elabora a sua teoria do tempo que se articula em 
torno de um duplo silêncio e do pestanejar do instante. 
O todo-eternamente-a-seu-semelhante identifica-se em simbiose com a 
contínua melodia enfim realizada. É este lance de eternidade, instante 
expressivo, e quanto, da criação do Mundo-Parsifal. O instante abre a 
imensidão do tempo e junta-se novamente ao eterno. Assim a obra se 
metamorfoseia em uma verdadeira emanação da Vontade e de sua mais 
alta intensidade, um círculo de ouro: é aqui, dentro da infinita 
continuidade da melodia e da modulação que se encontra enfim a hora 
do Meio-dia. 
Se o mundo se tornou perfeito, é porque, quando se dissipou o infinito da 
melodia, apareceu este silêncio, Poço da Eternidade, no qual o Tempo 
fugiu voando: “Não cantes! Silêncio! O mundo é perfeito!” (Z,4). 


39 
 
A curvatura (ou inflexão, curvatura do mundo e curvatura do ser, a 
finitude humana) é a compossibilidade da totalidade das linhas de 
durações individualizadas. Ela abre a porta para uma imensidão temporal 
trans-humana (As múltiplas realidades de Norman Spinrad). Com efeito, 
ela temporaliza a dobra da diferença (Deleuze, A Dobra) e, para ser 
concreto, digamos que a mônada sonora, puro núcleo ideal da densidade 
contraída, é o processo de composição enquanto criação. Neste sentido, o 
silêncio é o grande ordenante do plano de composição e do plano de 
consistência sonora: ele precipita as densidades. A composição é esta 
operação “mágica” que consiste em desdobrar a continuidade 
quantitativa das linhas de duração musicais a fim de realizar o continuum 
sonoro. 
A composição, ou colocação na variação contínua exprime a realização 
concreta do continuum sonoro abstrato (não efetuado). 
É preciso empregar o condicional: a curva seria este eón, este tempo 
infinitivo próprio ao acontecimento, tornado silêncio. Um silêncio que vai 
englobar todo o futuro, todo o passado e este espantoso instante sobre o 
qual Nietzsche insiste. Revejamos esta reaproximação da curva e da linha 
reta, pois por definição “o querer é criador”... 
Estes dois aspectos do silêncio determinam o Tempo como o Desigual: O 
Ritmo constitui a verdadeira dimensão desigual do Tempo (diferença e 
repetição e Lógica da sensação. O desigual é o ritmo propriamente dito: 
os passos no deserto de Dune dos Freeman à procura da sua liberdade 
como o tempo sem pulsação ou suspenso dos batimentos não 
metronômicos. Na prática o desigual ou dimensão real do ritmo conjuga 
as múltiplas linhas de duração que asseguram a verdadeira unicidade do 
Tempo. Existe uma grande equivalência ontológica Ritmo, Silêncio e 
Tempo: é a essência da música. A alusão ao pórtico da eternidade, a 
sentença “Tempo supremo e duplo silêncio”, são os enunciados que 
apresentam nos feitos a Abertura real, ou seja, aquela do Tempo e aquela 
das matérias musicais, aquela do mundo e aquela das idéias sonoras. O 
pórtico é ele mesmo a temporalização, o processo de abertura a toda 
temporalidade e a toda duração possível. 
O Tempo tornou-se, diz Nietzsche, nosso próprio contemporâneo: a auto-
estima do Tempo por ele mesmo, diz-se deste círculo de ouro cujo acesso 
está dissimulado nas proximidades do enigmático “pórtico”. 
O Zaratrustra é este caminho que abre uma via de acesso para a nossa 
interioridade mais íntima e para a abertura do mundo das forças, a mais 
real e a mais fecunda: o pórtico da eternidade evoca uma temporalidade 
de uma estranha natureza, anel dos anéis, é assim o tempo considerado 
como círculo de ouro, realidade do instante infinitesimal, Instante de uma 
percepção perspectivista, afetiva e interna, do mundo-tal-como-ele-é-na 
realidade. O poder se encarna nas expressões de força produzidas pela 
efetuação das temporalidades múltiplas e conexas. A vontade exprime-se 
no e pelo silêncio. 
Nós precisamos militar ativamente pelo imperativo da necessidade, por 
isto que nos dá acesso à criação e à avaliação, e é nisto que reside a 
experimentação tanto na vida como no processo de criação das novas 
sínteses sonoras. Se Wagner marcou grandemente o seu tempo e o 
intelecto do homem Nietzsche, hoje em dia é provavelmente a música 
eletrônica que encarna o seu pólo mais vital e mais inovador, mais radical: 
as sinergias do futuro. Sem dúvida veremos num futuro próximo o 
nascimento das máquinas do quarto tipo com o transplante do orgânico 
no silício. É-nos necessário um tempo real: ele corresponde ao curso real 
das coisas, dos corpos e dos acontecimentos. Um tempo real, isto é, um 
tempo que nos abre as portas do mundo real: “mais pequeno mas muito 


Yüklə 4,54 Kb.

Dostları ilə paylaş:
1   ...   10   11   12   13   14   15   16   17   ...   79




Verilənlər bazası müəlliflik hüququ ilə müdafiə olunur ©genderi.org 2024
rəhbərliyinə müraciət

    Ana səhifə