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basicamente onde deixavam nós tocarmos, o que aconteceu é que nós
fomos expulsos de vários destes lugares. Nós gostávamos de tocar em NY,
tocávamos melhor lá.
Trabalho Sujo - Então surge o album perdido, que a Kapp não lançou. Dai
o hiato de 24 anos, que é quebrado pela gravadora alemã lança o CD
duplo do Silver Apples. O que você ficou fazendo neste meio tempo? E
como você reagiu quando as pessoas começaram a falar novamente sobre
os Silver Apples?
Simeon - Depois que fomos expulsos da Kapp, Danny e eu escolhemos
diferentes caminhos. Nenhum dos dois foi fazer música. Depois dos Silver
Apples, eu não consegui fazer nada certo. Danny começou a mexer com
vendas e produção de TV e eu voltei a ser um artista, o que eu era antes
de fazer rock. Durante todo este tempo eu fiz exibições por todo o país e
pensava ter uma carreira promissora, mas dai um amigo me contou sobre
este CD alemão e sobre o tributo inglês ao Silver Apples... após isso resolvi
voltar. Eu ainda pinto, tenho um atelié ao lado do estúdio de
ensaios/gravações do Silver Apples no Alabama. Mas voltando à sua
pergunta, eu não sei como reagir quando as pessoas falam sobre a minha
música. Eu somente toco o que gostaria de ouvir, o que acontece,
acontece.
Trabalho Sujo - Cair na estrada novamente é um processo natural?
Lembro que quando o single "Fractal Flow" saiu, muitas pessoas
escreveram que você estava melhor do que nunca.
Simeon - Yeah, eu acho que é um processo natural. Desde 96, eu fiz 3
tours americanas, uma européia e outra japonesa como trio. Depois eu
reformei a banda como dupla, com Joe Propatier como baterista, e nós
fizemos mais uma tour americana e outra inglesa. Cerca 150 shows. Então
eu achei Danny depois e procurá-lo por muito tempo! Fizemos vários
shows na área de NY e pelo fato de que ele tem seu trabalho e sua
família, não poderemos fazer uma tour juntos. Eu fiz um show no meio
deste ano em Londres, mas tocando sozinho, e provavelmente vou fazer
mais um nesta linha. Se eu for fazer mais uma tour com um baterista,
provavelmente será com o Joe.
Trabalho Sujo - Você bateu a van durante a tour, certo? Você já se
recuperou?
Simeon - Foi após um show me NY com Danny. A van capotou umas cinco
vezes. Danny saiu andando ileso. Eu quebrei meu pescoço e fiquei
paralizado do pescoço para baixo. Não podia me mover ou sentir nada.
Depois de um ano de terapia, agora eu posso andar e posso usar
parcialmente minhas mãos e braços. Posso tocar meus osciladores, mas
os teclados são um problema. Tenho praticado por horas todo dia.
Trabalho Sujo - Quais são os próximos passos?
Simeon - Fui convidado para um show em NY em janeiro. Estou ensaiando
muito para ficar bom o suficiente para dar este show, dai vou ver o que
rola. Eu tenho vários sons para gravar e estou me preparando para fazer
isso.
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Trabalho Sujo - Você imagina que tem alguns fãs no Brasil?
Simeon - Sei que vendemos alguns discos por ai. É estimulante saber que
tem gente ai que gosta dos Silver Apples. Adoraria visitar o Brasil um dia.
Trabalho Sujo - O que você acha de todo este lance que está acontecendo
com a música eletrônica?
Simeon - Eu escuto todos os tipos de música. Como todas as formas de
expressão/performance criativa. Não importa o quão grande é a idéia, se
ela não foi bem executada, não tem sentido. Eu tenho escutado algumas
performances muito chatas e sem inspiração do Mozart, que não tem
explicação. A mesma coisa com a música eletrônica. A grande maioria é
semelhante, mas quando eu estava em Tóquio, fui até uma rave onde um
DJ chamado Matsuri estava tocando e eu fiquei chapado. Quando é legal,
pode ser muito excitante.
Trabalho Sujo - E para finalizar, conte sobre a sua parceria com o Sonic
Boom (ex-Spacemen 3, atualmente no Spectrum).
Simeon - O Silver Apples fez alguns shows em 97 junto com o Spectrum.
Depois do primeiro, que foi em Boston, Sonic foi falar comigo e me deu
uma maçã prateada musica, que ele mandou fazer em minha
homenagem, me contando que era fã desde que era pequeno. Eu fiquei
muito alegre pois sempre gostei de Spacemen 3 e do seu trabalho com o
Spectrum. Escutei sua versão de "A pox on you", e perguntei se poderia
cantar esta música durante sua apresentação. Ele concordou, mas pediu
para tocar theremim em "You and I", o que eu concordei sem a menor
dúvida. A audiência pirou durante nossas apresentações, e nós fizemos
isso nos próximos 3 shows, sendo que o último foi em NY, concordei que
na próxima vez que estivesse na Inglaterra, sua gravadora poderia
reservar um estúdio para nós gravarmos algo juntos. Nos meses
posteriores, nós trocamos fitas com idéias, e então quando eu fui para a
Inglaterra, nós gravamos juntos.
Texto tirado do Trabalho Sujo, blog do Alexandre Matias, com muitos
textos e resenhas de música (
www.trabalhosujo.blogspot.com/
).
Visite o site do Silver Apples (
www.silverapples.com
).
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SINTOMAS DE UMA CONTAMINAÇÃO SONORA*
Ricardo Rosas
O que é música, afinal? Pergunta cada vez mais difícil de responder. Não
apenas os hábitos perceptuais de escuta têm mudado vertiginosamente,
como sua própria definição, formas de produção e distribuição têm
alterado de modo irreversível a paisagem sônica nas últimas décadas.
Essa mutação acelerada do que chamamos "música" abala alicerces há
muito solidificados em torno de um sistema que não apenas formatava
teorias musicais e seus ardentes defensores da academia, como todo um
circuito fechado ligando indústria fonográfica (gravadora, estúdios, caça-
talentos) e mídia.
O advento da Internet, uma maior acessibilidade de equipamentos e
programas sofisticados de criação musical (que podem ser baixados,
gratuitamente, por exemplo, numa transação Peer-to-Peer), a facilidade
de distribuir arquivos musicais via mp3, bem como a crescente discussão
em torno do que é "música", na Internet - com um número cada vez
maior de teorias as mais diversas -, tudo isso tem permitido um
alargamento antes impossível de imaginar. Efeitos e sintomas de tantas
mutações são vários, vejamos alguns:
1. Emergência do Ruído. Se antes restrito a círculos vanguardistas no
século XX, fossem eles os futuristas, eletro-acústicos, musique concrete,
John Cage e outros, o ruído ocupa agora a cena central, seja por sua
contaminação na música pop (Stereolab, Radiohead, etc.), seja por sua
legitimação como autêntico gênero musical ( o "drill'n'bass" de Aphex
Twin, Autechre e todo o movimento da Glitch music, também chamada
pós-digital, "click and cuts", etc.)
2. Cultura do Plágio. A prática do compartilhamento de arquivos e a
cultura anti-copyright (ou copyleft) que tem grassado na Internet nos
últimos tempos têm não apenas gerado novos estilos, como o Bootleg ou
Bastard Pop, mas a recuperação de velhas práticas como a Plunderphonia
(algo como "Roubofonia") de John Oswald, Negativland, ou os cut-ups,
gerando novos híbridos difíceis de categorizar. Uma vez online, qualquer
coisa pode virar um sample - todo elemento sonoro se torna um
fragmento passível de manipulação e recontextualização.
3. Criação Coletiva Desterritorializada. Na medida em que fica cada vez
mais fácil converter sons em arquivos digitais, mais fácil o seu fluxo pela
rede, permitindo alterações de todo tipo. Dessa forma, colaborações em
tempo real entre músicos na Internet tem se tornado uma coisa comum,
enquanto colaborações online que não sejam em tempo real já são praxe.
Velhas noções de música estão sendo desafiadas pela combinação de
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