Jobson da silva santana


- Ideologia e sujeito na questão do MST



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1.4 - Ideologia e sujeito na questão do MST

Não há sentido sem interpretação (ORLANDI, 2009) e a interpretação, ainda de acordo com Orlandi (2009), se dá como se o sentido sempre estivesse apenas no texto, sem relação com a história e com o simbólico, “como se a linguagem e a história não tivessem sua espessura, sua opacidade – para serem interpretadas por determinações históricas que se apresentam como imutáveis, naturalizadas” (ORLANDI, 2009, pág. 46). Ou seja, o histórico e o simbólico – ideológico – se naturaliza, há um apagamento da interpretação.

Do que se colhe da matéria “Agora falta o homem trabalhar” (O Globo, 03.01.2007), fica clara a linha editorial do jornal, que acusa o governo Lula de incompetente e preguiçoso: “O que falta ao governo de Lula não é vontade de reformar o país. É disposição e competência para pegar no batente, a sério, de oito da manhã às cinco da tarde”. Aliás, todas as reportagens de O Globo, sobre o MST, no período estudado pelos pesquisadores desta monografia, relacionam os problemas sociais como causados pelo governo Lula. Para Orlandi, a ideologia faz parte e é condição para a constituição do sujeito e dos sentidos:
O indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia para que se produza o dizer. Partindo da afirmação de que a ideologia e o inconsciente são estruturas-funcionamentos, M. Pêcheux diz que sua característica comum é a de dissimular sua existência no interior de seu próprio funcionamento, produzindo um tecido de evidências “subjetivas”, entendendo-se “subjetivas” não como “que afetam o sujeito” mas, mais fortemente, como “nas quais se constitui o sujeito” (ORLANDI, 2009, pág. 46).
No texto de A TARDE, como no exemplo da dança do toré, acima, existe a lacuna da história, da contextualização. O apagamento da memória social torna o discurso do jornal como o único válido, a única fonte de informação.

Então, leciona Orlandi (2009), há a necessidade de uma teoria não subjetivista da subjetividade, para que se possa trabalhar o efeito de evidência dos sujeitos e dos sentidos. Esta evidência dos sentidos faz com que se veja transparente aquilo que faz remissão a conjuntos de formações discursivas e suas relações, cujo efeito é o da determinação da memória, ou interdiscurso. O sujeito é interpelado pela ideologia e essas evidências “dão aos sujeitos a realidade como sistema de significações percebidas, experimentadas” (ORLANDI, 2009, pág. 47). Assim, para Orlandi, a ideologia é uma função necessária entre linguagem e mundo, em que linguagem e mundo se refletem no efeito imaginário de um sobre o outro. E nessa relação simbólica, a língua, para que haja sentido, necessita se inscrever na história, cujos efeitos linguísticos materiais são chamados de interdiscursividade (ORLANDI, 2009, pág. 47).

Para Orlandi, não há discurso sem sujeito, nem sujeito sem ideologia, pois a interpretação pressupõe uma relação do sujeito com a língua e com a história, para a produção dos sentidos. Porém, “nem a linguagem, nem os sentidos nem os sujeitos são transparentes: eles têm sua materialidade e se constituem em processos em que a língua, a história e a ideologia concorrem conjuntamente” (ORLANDI, 2009, pág. 48).
1.5 - O sujeito e sua forma histórica: os antecedentes históricos do MST

Na sociedade atual a forma-sujeito histórica é contraditória, pois o sujeito é ao mesmo tempo livre e submisso. Livre porque pode dizer tudo, desde que se submeta à língua, que é a base do que se chama assujeitamento (ORLANDI, 2009).

No site oficial do MST (www.mst.org.br) são relacionadas às bases das lutas camponesas que, segundo o que se publica naquele sítio, sempre aconteceram na História do Brasil. Do período colonial ao final de 1800, índios e negros encabeçavam essa luta, quer na defesa de territórios invadidos por bandeirantes e colonizadores, quer na defesa da liberdade a partir de uma terra própria, como foi o caso dos quilombos. No final do século XIX e início do século XX, temos registros de movimentos camponeses messiânicos, que seguiam um líder carismático, também envolvendo lutas regionalizadas. Foi o caso do Movimento dos Canudos, com Antônio Conselheiro; do Contestado, com Monge José Maria; entre outros. A terra sempre foi o fundo de cena de muitas lutas.

Através da relação da língua com a ideologia “o sujeito gramatical cria um ideal de completude, participando do imaginário de um sujeito mestre de suas palavras (ORLANDI, 2009, pág. 50). Esta é a característica da modernidade, chamada de sujeito-de-direito ou sujeito jurídico. A questão da subjetividade, no entanto, não pode ser reduzida a uma questão linguística, sem observar a dimensão histórica e a psicanalítica, bem como a relação do que se diz com a exterioridade (ORLANDI, 2009).

O campo jornalístico está sujeito às regras da língua e aos mecanismos editoriais de cada veículo. O saber jornalístico está inserido num campo mais amplo, que é a sociedade em que a empresa atua e no sistema econômico vigente no país.

Para C. Haroche (1987), a forma-sujeito-religioso (submetido a Deus), vigente na Idade Média, foi substituída pela forma-sujeito jurídico (submetido ao Estado e às leis):

Crença nas cifras, na precisão, sustentada pelo mecanismo lógico (se...então; ou...ou). [...] Essa é a submissão menos visível porque preserva a ideia de autonomia, de liberdade individual, de não-determinação do sujeito. É uma forma de assujeitamento mais abstrata e característica do formalismo jurídico, do capitalismo (ORLANDI, 2009, pág. 51).

O sujeito-de-direito não é uma mera entidade psicológica e, portanto, se distingue da noção de indivíduo. O sujeito-de-direito “é efeito de uma estrutura social bem determinada: a sociedade capitalista, que individualiza o sujeito pelo Estado, processo fundamental para se governar uma sociedade capitalista. O assujeitamento submete o indivíduo ao sistema capitalista, mas ao mesmo tempo apresenta-o como livre. Desse modo, “o discurso aparece como instrumento (límpido) do pensamento e um reflexo (justo) da realidade (ORLANDI, 2009). A ideologia é que fornece as evidências, através da linguagem, da relação do sujeito com a historicidade, parte das condições de produção do discurso:


Ao dizer, o sujeito significa em condições determinadas, impelido, de um lado, pela linguagem e, de outro, pelo mundo, pela sua experiência, por fatos que reclamam sentidos, e também por sua memória discursiva, por um saber/poder/dever dizer, em que os fatos fazem sentido por se inscreverem em formações discursivas que representam no discurso as injunções ideológicas. (ORLANDI, 2009, pág. 53).

Ainda de acordo com o site oficial do MST, os anos 30 e 40 foram marcados por conflitos violentos, em diversas regiões, envolvendo posseiros que saíam armados em defesa das terras que habitavam. Mas foi entre 1950 e 1964 que o movimento camponês passou a se organizar enquanto classe. Datam desse período movimentos como as Ligas Camponesas, a União dos Lavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil (ULTAB) e o Movimento dos Agricultores Sem Terra (Master), que foram tragicamente extintos pela ditadura militar, após 1964, com seus líderes assassinados, presos ou exilados.

O latifúndio solapava a reforma agrária. Porém, no final dos anos 70 e início de 80, quando as iniciativas pela redemocratização tomam força, os camponeses se lançam a uma nova forma de pressão: as ocupações organizadas por dezenas ou centenas de famílias. A partir daí, estavam traçadas as diretrizes do MST, oficializado em 1984.
2 – OS JORNAIS A TARDE E O GLOBO: DIFERENTES CONTEXTOS

2.1 – A linha editorial do “A Tarde”
Em 15 de outubro de 1912, o bacharel Ernesto Simões Filho fundou na Bahia o jornal A Tarde, o nome inspirado no vespertino A Noite, inaugurado no ano anterior por Irineu Marinho no Rio de Janeiro.

De acordo com o site Almanaque da Comunicação (www.almanaquedacomunicacao.com.br/noticias/435.html), Simões Filho inspirou-se também na diagramação do jornal carioca, destacando fotos na primeira página e um olho para as manchetes; rodava o seu periódico numa rotativa emprestada, mas não por muito tempo. Logo adquiria uma linotipo e uma impressora Marinoni, elétrica, capaz de rodar até 10 mil exemplares por hora. Tornava-se uma referência de qualidade da imprensa baiana que então tinha no Jornal de Notícias, de Aloísio Carvalho Filho, o seu melhor expoente, e no Diário da Bahia a tradição.

Segundo o site oficial do jornal A TARDE (www.atarde.com.br), em 1912 foi criado o primeiro exemplar do jornal. Foi o pioneiro ao lançar anúncios com fotos, dando origem assim ao caderno Classificados e transmitido ativamente notícias da Primeira Guerra Mundial.

Na década de 1920, o jornal lançou de seções específicas, como Turismo, Automobilismo, Página Feminina e Cinema. Durante a Revolução de 30, a sede do jornal localizada na Praça Castro Alves sofreu importantes ataques políticos, por membros da Aliança Liberal apedrejaram a sede. O veículo impresso foi vítima de censura na década de 30, neste período Ernesto Simões Filho, o fundador, foi agredido e exilado.

De acordo com o historiador e antropólogo Alcyr Lintz Geraldo (2010), a Aliança Liberal era um grupo constituído de diversos partidos políticos, principalmente de origem mineira e gaúcha e outros movimentos que faziam oposição ao governo Júlio Prestes. O movimento surgiu com o intuito de definir novos nomes para a presidência do país. Tratava-se de uma oposição à República do café-com-leite, em que os governadores se revezavam entre mineiros e paulistas.

A Aliança Liberal unia diversos interesses, uma vez que os tenentes, reacionários, também apoiavam a aliança. Para Sodré (1998), diversos jornais apoiaram a aliança liberal. Dentre estes, encontra-se o jornal A TARDE. Assim, nota-se que o jornal A TARDE já tinha em sua linha editorial o posicionamento de oposição ao governo, uma vez que a Aliança Liberal marcava a oposição. Esta oposição é encontrada até os dias atuais. Esses ataques foram feitos por alguns membros da Aliança liberal.

Segundo Cadena (2010), na década de 20, o jornal sofria as restrições estabelecidas por Arthur Bernardes, respaldadas pela Lei Afonso Gordo de 1923, também denominada de Lei Infame. Mas, foi na década de 30 que o jornal A TARDE sofreu a censura por fazer oposição ao governo Getúlio Vargas e seu interventor na Bahia, Juracy Magalhães. Arthur Bernardes foi advogado e político, governador de Minas Gerais entre 1918 e 1922. Foi o 12º presidente do Brasil, entre 15 de novembro de 1922 e 15 de novembro de 1926. Foi um dos articuladores da Revolução de 1930 em Minas Gerais. Em 1932, foi preso e transferido para a cidade do Rio de Janeiro por ter sido um dos mentores, em Minas Gerais, da Revolução Constitucionalista. Cumpriu exílio em Lisboa, retornando ao país depois de receber anistia em 1934. Faleceu no Rio de Janeiro, em 24 de março de 1955.

Na opinião de Barreto Leite Filho (2010), no site Almanaque Folha Online, “A Lei Adolfo Gordo foi uma lei anti-operária, não foi uma lei contra a liberdade de imprensa. Foi uma lei que resultou das greves, das grandes greves de 1917 e 1919, que foram os maiores movimentos da massa operária que se deram no Brasil até hoje. A de 1917 foi ainda mais forte, mais ampla. Em vários pontos, por exemplo, do Rio Grande e de São Paulo, os anarquistas estiveram eventualmente no poder.

A Lei Adolfo Gordo, portanto, votada contra o movimento operário, que era um movimento puramente sindical, porque não havia comunistas no Brasil naquele tempo, nem socialistas. Só havia anarquistas e sindicalistas livres e independentes. A lei se destinava a reprimir o movimento operário. Não atingia, ou pelo menos não pretendia e de fato não atingia, a imprensa não-operária, atingia a imprensa liberal”. O jornal A Tarde, por não ser um veículo da classe operária, não foi atingido pela Lei Adolfo Gordo.

No ano de 1957, o fundador do jornal A Tarde faleceu de diverticulite. Na década de 1960, segundo o site oficial, o veículo voltou a sofrer censura durante a ditadura militar. Em 1970, A TARDE ganha representatividade em outras localidades. Na década de 80 foi criada a rádio A TARDE FM. Com a demanda do uso da internet na década de 90 (GUIZZO, 1999), surgiu A TARDE versão online em abril de 1997. A equipe da redação do portal é formada por 20 profissionais, sendo um editor, quatro jornalistas, dez estagiários e quatro operadores de internet, responsáveis pela transposição da versão impressa do A TARDE para a rede” (MOHERDAUI: 2005, p. 16).

Desde o início do século XXI até o presente momento, segundo o site oficial, o grupo fornece aos leitores diferentes meios de divulgação da informação. São eles: o jornal impresso, a rádio A Tarde FM, e o A Tarde online. Em 2009 foi criado o Mobi A Tarde, é um serviço de envios de informações para celular e palmtops. Em meados do mês de março o A TARDE lançou o serviço AVANCE Telecom, que oferece serviços de comunicação e Internet.

O jornal A Tarde atualmente consiste em um dos principais veículos de comunicação impresso da Bahia. Por este motivo e por sua linha editorial, marcada pelo olhar de oposição à situação política, este jornal foi escolhido para ser analisado, sob o víeis da Análise do Discurso. A análise do discurso será efetuada neste veículo porque, segundo Gill (2003), “Como atores sociais, nós estamos continuamente nos orientando pelo contexto interpretativo em que nos encontramos e construímos nosso discurso para nos ajustar a este contexto”. Ou seja, o público cria uma imagem do contexto a partir do discurso inserido na matéria que lê. Assim, foi escolhido o A Tarde online, por ser um veículo de comunicação e formador de opinião.


2.2 – A linha editorial do “O Globo”

O jornal O Globo pertence às Organizações Globo, que possui a Rádio Globo, a Rede Globo de Televisão. Funcionou como jornal vespertino até 1962 e, a partir de então, tornou-se matutino. A linha editorial de O Globo é de apoio a quem estiver no comando da nação, como se percebe do editorial celebrando o Golpe Militar de 1964:

Ressurge a Democracia”

Vive a Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições. (O GLOBO, 1964, pág. 1)

Foi em julho de 1925, 23 dias antes de sua morte, aos 49 anos, que o jornalista Irineu Marinho Coelho de Barros fundou o Jornal “O Globo”. Antes disso já havia sido colaborador do jornal “O Fluminense”, depois passou de revisor a diretor do extinto “Diário de Notícias” e trabalhou no “A Tribuna” - um dos jornais mais antigos do país. Em 1911 ajudou a fundar o primeiro jornal vespertino do Rio de Janeiro, “A Noite”, onde trabalhou durante 14 anos até ser expulso devido a desafetos infiltrados entre os acionistas do jornal. Irineu, no entanto, já havia manifestado interesse em criar outro jornal, e na volta de uma viagem a Europa, onde conheceu publicações estrangeiras, técnicas e equipamentos gráficos aperfeiçoados, decide criar “O Globo”.

O nome do jornal foi escolhido em concurso popular, e na tarde de 29 de julho de 1925 surge a primeira edição, que estampava reportagens sobre a exploração da borracha e o aumento do número de carros no Rio de Janeiro. Sua ousadia e afinco ao trabalho (ele só deixava a redação do jornal após 15 horas de trabalho) foram refletidos no jornalismo arrojado de “O Globo” e na influência que exerceu sobre seu primogênito, Roberto Marinho, que após a morte do pai transformou seu legado em um dos maiores impérios da comunicação da atualidade. No caderno especial em memória a Roberto Marinho publicado pela revista Época1 consta que Irineu, além de mostrar grande valor ao trabalho, também ensinou os filhos a levar a vida com elegância: “Costumava dizer a eles que uma das melhores formas de recuperar o humor era ler trechos de Pickwick Papers, de Charles Dickens”2.

Roberto Marinho, logo após a morte de seu pai, se recusou a aceitar o posto de diretor de redação do jornal por não se considerar apto a responsabilidade sendo de tão pouca idade – não havia completado 21 anos de idade. Sua mãe, Francisca, ou dona Chica, sugeriu ao filho que vendesse o jornal, ao passo que esse respondeu: “Vender o jornal coisa nenhuma. Quem vai tomar conta do jornal sou eu.”3 Era preciso antes, no entanto, aprender a tocá-lo, como patrão e jornalista - e Roberto Marinho colou nos passos do diretor de redação, o experiente Euricles de Matos. Desse modo, foi Euricles de Matos, editor chefe de “O Globo”, quem orientou e preparou Roberto Marinho para assumir o lugar do pai.

Desse modo, foi aos 26 anos que Roberto Marinho, que quando criança dizia querer ser jornalista “Como meu pai”4, assumiu a direção do jornal O Globo. Além do jornalismo, Roberto Marinho, quando jovem, nutria interesse pelo trabalho de mecânico: “Me fascinava a mágica dos processos industriais”, revelou em 1989, numa carta ao então candidato à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. Assim, sua profissão poderia ter sido outra caso não tivesse assumido por algumas vezes o papel de secretário de seu pai quando este ainda estava no jornal A Noite.

Nessa época, Irineu havia feito duras críticas ao presidente da república Epitácio Pessoa, e, após dois anos, ele e sua família encontraram o então ex-presidente a bordo do navio Guilio Cesare, que estava indo rumo a Europa. Roberto Marinho, com receio do encontro, se surpreendeu com o comportamento amigável do ex-presidente. “Impressionado com o comportamento de Epitácio Pessoa, ele redigiu uma carta a um amigo na qual relatava o acontecido e derramava-se em elogios à dignidade do ex-presidente. Ao pedir que juntassem sua correspondência ao malote da família, o texto acabou sendo lido por seu pai. Irineu aprovou o que leu e mandou publicá-la, na íntegra, na primeira página de A Noite5. Foi assim, aos 20 anos de idade, que Roberto Marinho fez sua primeira incursão no jornalismo.

Sua primeira vitória aconteceu em 1930, antes de assumir a redação de O Globo, quando investiu em novos equipamentos para o jornal – sem o conhecimento de Herbert Moses, o encarregado das finanças -, cuja qualidade da impressão era notável, e quando conseguiu produzir uma notícia exclusiva sobre a queda do presidente Washington Luís. Roberto conseguiu uma imagem rara do chefe de Estado deposto ao lado do cardeal Leme, o que se tornou seu primeiro furo: “O doutor Roberto não é empresário, ele é jornalista”, disse Evandro Carlos da Andrade, diretor de redação de O Globo nos anos 70 e 80, já falecido, em depoimento ao Projeto Memória, da TV Globo6.

Conquanto não fosse afeito à especulação política, Roberto Marinho se tornou interlocutor dos principais políticos brasileiros do século XX, começando principalmente com Getúlio Vargas. Como diz o jornalista Cláudio Mello e Souza, “o jogo político era fundamental para a sobrevivência do jornal nos anos 30, quando Getúlio controlava os diários por meio de pressão de financiamento para esse ou para aquele”7. A ‘liberdade de imprensa’ dependia da arbitrariedade tanto de Vargas como de seu ministro da Fazenda, e sua trajetória durante esse período lhe rendeu tanto amizades quanto ataques por parte dos diferentes pólos nos quais se movimentava a política naquela época.

Seu relacionamento com os comunistas, no entanto, sempre foi de lealdade, como mostra uma frase proferida por ele que se tornou célebre durante o regime militar. Ao ser questionado sobre os comunistas que trabalhavam em seu jornal pelo ministro da Justiça do governo Castello Branco, Juracy Magalhães, Roberto Marinho respondeu: 'Ministro, o senhor faz uma coisa, vocês cuidam dos seus comunistas, que eu cuido dos nossos lá do Globo'8.

Embora esse fato mostrasse a influência que Roberto Marinho possuía com seu jornal e com sua emissora, a rádio Globo, fundada no fim de 1944, aos poucos ele percebeu que estava muito vinculado ao regime. “Por apegar-se a pessoas, e não a conjunturas políticas que podiam - e costumavam - ser transitórias, Roberto Marinho contratava profissionais independentemente do lado em que estivessem em outros momentos”9. Isso fez com que ele encontrasse alguns obstáculos durante os períodos mais conturbados da política brasileira, como as inimizades com Assis Chateaubriand, Carlos Lacerda, Samuel Wainer e Leonel Brizola, frutos de suas conflituosas relações com o poder. No entanto, ao olhar para o império que se tornou as organizações Globo de comunicação, é inegável o talento e o pioneirismo tanto de Roberto Marinho quanto de seu pai, Irineu, no que concerne ao desenvolvimento da comunicação jornalística no Brasil.

A primeira edição online do jornal O Globo foi publicada na internet foi no ano de 1995, no portal Globo.com, o qual reproduzia o conteúdo do jornal impresso. Os sites jornalísticos tinham links para comentário, bate-papo e para informações sobre novelas e toda a programação da Rede Globo (FERRARI, 2004).



2.3 – Web Jornalismo e os temas jornalísticos do “A Tarde” online e “O Globo” online

O advento do jornalismo eletrônico trouxe novamente à tona, entre certos pesquisadores, a discussão em torno da estrutura que, há muito, molda o contexto jornalístico: a técnica da pirâmide invertida. Esta técnica consiste em redigir uma notícia a partir dos dados mais importantes, ou seja, pautando-se fundamentalmente nas seguintes questões: 1) O quê?; 2) Quem?; 3) Onde?; 4) Como?; 5) Quando?; e 6) Por quê?. Seguem-se, posteriormente, informações complementares, em ordem decrescente de interesse. Enquanto alguns autores defendem a importância da pirâmide invertida no Web jornalismo, outros a consideram uma técnica limitadora nessa nova forma de jornalismo, alegando que o recurso de hiperlinks pode expandir e reestruturar significativamente a notícia.

O que se observa em oito dos textos analisados do A Tarde online é que são construídos seguindo a regra do lide de pirâmide invertida, o mesmo estilo dos jornais impressos, ou seja, o lide clássico (PENA, 2008), que responde às perguntas O quê?, Quem?, Onde?, Como?, Quando? e Por quê? logo no primeiro parágrafo. Os dois textos restantes, um começa com lide dramático e o outro com multilide (híbrido de clássico, de citação e rememorativo), de acordo com classificação informada por Felipe Pena (2008). No O Globo, quatro reportagens possuem lide clássico, três usam lide de enumeração e outro usa lide de citação. Os dois últimos textos são artigos, assinados por Élio Gaspari, jornalista do próprio O Globo. Para Charaudeau (2009), o artigo “está próximo da crônica a ponto de se confundir com a crônica política”. Artigo é um texto eminentemente opinativo, defende um único ponto de vista, ou seja, o de quem o assina. Percebe-se, nos dois veículos de comunicação online, que o lide clássico, ou pirâmide invertida, mais comum nos jornais impressos, também tem lugar privilegiado no jornalismo online, como se colhe dos exemplos:
Um grupo com aproximadamente 1,5 mil pessoas ocupou as fazendas Mãe Rosa e Toco Presto, no município de Cabrobró, no sertão pernambucano, para protestar contra o início das obras de transposição do Rio São Francisco. A área ocupada, no km-29 da BR-428, vem sendo usada como canteiro de obras da construção do canal Eixo Norte pelos soldados do Batalhão de Engenharia do Exército. Hoje, eles prometem fechar o canal feito pelos soldados e destruir o trabalho já executado pelas Forças Armadas. (A TARDE, 26.06.2007)

A aliança do MST com a CUT abriu ontem uma nova onda de ocupações no interior paulista. Desta vez, o movimento atinge as regiões de Araçatuba e Andradina. Um total de 170 famílias invadiu, na madrugada, a fazenda Floresta, de 900 hectares plantados com cana-de-açúcar. Outras 300 famílias já estavam articuladas para ocupar as fazendas Aracanguá e Araçá, ambas em Araçatuba, e mais 114 entrariam em uma área em Andradina. O objetivo do MST e da CUT agora é chamar a atenção do Incra e do governo federal para a reforma agrária. (O Globo, 25.02.2007)

Quanto à polêmica da adoção da Técnica da Pirâmide Invertida, o autor João Canavilhas, da Universidade da Beira Interior, Portugal, ressalta:
Apesar da eficácia na transmissão rápida e sucinta de notícias, a aplicação desta técnica tende a transformar o trabalho jornalístico numa rotina, deixando pouco campo à criatividade e tornando a leitura das notícias pouco atractiva, pelo que a importância desta técnica tem sido objecto de muitas polémicas. (CANAVILHAS, 2006).
Para o autor, essa técnica se associa basicamente a um jornalismo que é limitado pelas características de seu suporte, como ocorre na notícia impressa, que, fisicamente, se restringe ao cerceado espaço do papel. Portanto, fazer uso da técnica da Pirâmide Invertida na Web significaria privar o Webjornalismo de “uma de suas potencialidades mais interessantes: a adoção de uma arquitetura noticiosa aberta e de livre navegação”. (CANAVILHAS, 2006)

Os recursos do hipertexto e da multimídia, no jornalismo eletrônico, chegaram para revolucionar, mudando as prioridades do jornalista que atua nesse meio, principalmente no que respeita a dimensão, arquitetura e enriquecimento do texto. A flexibilidade dos meios online permite organizar as informações de acordo com as diversas estruturas hipertextuais. Cada informação, de acordo com as suas peculiaridades e os elementos multimédia disponíveis, exige uma estrutura própria. (Salaverria, 2005 apud Canavilhas, 2006).

Como se viu dos exemplos de lide transcritos acima, portanto, ambos os veículos de comunicação dão preferência ao estilo de escrita própria ao jornal impresso. As reportagens do A Tarde e do O Globo, aqui analisadas, têm estrutura longa, algumas com dez parágrafos, não usam links ou hiperlinks, o que deixa o internauta preso a um único bloco de texto. Nas matérias pesquisadas não foram encontrados vídeos ou áudios relacionados ao texto, como também não havia links para histórias dos grupos sociais relatados ou qualquer contextualização com as questões da posse da terra, cerne da luta do MST e dos indígenas.

O uso da pirâmide deitada não serviria, aqui, apenas por uma questão estética ou de estilo, mas, principalmente, para deixar que o próprio leitor se aprofundasse na leitura, através de links oferecidos, o que enriqueceria a compreensão histórica e social dos atores envolvidos, bem como abriria um leque de possibilidades para contextualizar as reportagens, pois, na web, os internautas se deparam com um novo modelo de leitura, com a utilização de links.

Neste novo cenário, a internet, portanto, nasce a divergência entre muitos autores sobre a importância dos moldes da Pirâmide Invertida. Para Canavilhas, o jornalismo eletrônico implica certo afastamento da Pirâmide Invertida. Porém há os que insistem na aplicação da Pirâmide ao Webjornalismo, sob a alegação de que a organização dos fatos publicados a partir de sua ordem de importância deve prevalecer. Cabe ressaltar que, apesar das divergências, ambas as correntes defendem a adoção de uma nova linguagem para o Webjornalismo. Não há que se ignorar, no entanto, que, no jornalismo eletrônico, o papel do leitor é bastante influente, uma vez que é ele quem determina a trajetória de sua leitura. Conforme assinala Canavilhas:
A introdução de novos elementos não textuais permite ao leitor explorar a notícia de uma forma pessoal, mas obriga o jornalista a produzi-la segundo um guião de navegação análogo ao que é preparado para outro documento multimédia. O jornalista passa a ser um produtor de conteúdos. (CANAVILHAS, 2001).
Assim, se, por um lado, a estrutura da Pirâmide Invertida, serve à informação de última hora, de curto conteúdo, por outro, perde em eficácia para matérias eletrônicas mais desenvolvidas, onde o leitor pode explorar possibilidades muito maiores do que as fornecidas pela imprensa escrita.

Canavilhas (2006) propõe para o jornalismo eletrônico o modelo de uma pirâmide deitada, com quatro níveis de leitura, iniciada pelo “lead” (ou Unidade Base), que contém as informações essenciais (O quê, Quando, Quem e Onde), que podem evoluir ou não para um formato mais elaborado. Seguindo a ordem, o segundo nível (Nível de Explicação) ficaria atrelado ao Por quê e ao Como, servindo como complementação ao fato noticiado. O terceiro nível (Nível de Contextualização) disponibilizaria um maior número de informações pertinentes à matéria, onde se incluiriam recursos multimídias e outros tipos de arquivos, de modo a melhor ilustrar as instâncias “O quê”, “Quando”, “Quem”, “Onde”, “Por quê” e “Como”. O último nível (Nível de Exploração) agregaria a notícia ao arquivo publicado e a arquivos externos.

Os jornais A Tarde online e O Globo online, como se demonstra nesta monografia, se utilizam do formato clássico de lide, não ousando muito em relação à apresentação da notícia. A aposta é no leitor convencional, já acostumado com a leitura de jornal impresso, pela exposição hierárquica da notícia, do que é considerado mais importante ocupando o primeiro parágrafo da matéria e deixando as menos importantes para os parágrafos seguintes.

Para Canavilhas, “a pirâmide deitada é uma técnica libertadora para utilizadores, mas também para os jornalistas.” (CANAVILHAS, 2006)

Os recursos tecnológicos da Web abrem um espaço de múltiplas e vastas possibilidades para qualquer material ali disponibilizado, permitindo não só que a informação seja complementada com os mais variados recursos midiáticos, mas também o acesso a antigas notícias arquivadas e funcionalmente indexadas. Além disso, a possibilidade de atualização fácil e rápida das matérias, bem como ampla interatividade com o leitor, faz do jornalismo eletrônico uma ferramenta preciosa em relação aos seus outros formatos.

Dos jornais analisados observou-se que apenas no final de cada matéria apareciam links para notícias similares ou suítes. No interior das reportagens, no entanto, não havia links para outras matérias afins ou para textos mais profundos. O espaço da web é pouco explorado em todas as possibilidades e os jornalistas constroem textos longos, colocando nas matérias muitas informações que poderiam vir através de links.

Não há como ignorar que o Webjornalismo trouxe consigo a necessidade de se adotar um novo modelo para a construção da notícia. No entanto, do que se observa das reportagens de ambos os jornais analisados, percebe-se que o uso da pirâmide deitada é completamente ignorado. O que se tem, como já dito, é o uso da pirâmide invertida, respondendo às perguntas básicas “o que”, “quem”, “quando”, “onde”, “por que”. Os textos publicados na internet são muito extensos, próprios para veículos impressos, bem como não possuem links ou hiperlinks. O leitor já encontra todo o conteúdo num só texto, sem necessidade de buscar em outros links que contenham áudio, vídeo ou mesmo outros textos. Aqui, um exemplo do A TARDE:
Cerca de 1500 pessoas ligadas a movimentos sociais dos estados da Bahia, Pernambuco, Sergipe, Alagoas, Minas Gerais e Ceará ocuparam por volta das 1h30 desta terça-feira (26), a fazenda Mãe Rosa, situada no município de Cabrobó (PE), onde foram iniciadas as obras de transposição do Rio São Francisco pelo Exército. Os integrantes do movimento, que são contra as obras, estão com estrutura de acampamento, podendo ficar por tempo indeterminado. (A TARDE, fev. 2007)
Este outro exemplo é do jornal O Globo:
Entre julho e outubro, foram 47 ocupações, menor número em quatro anos -BRASÍLIA. Relatório da Ouvidoria Agrária Nacional revela que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) poupou o governo Lula e reduziu o número de invasões de terra no período eleitoral. Líderes do movimento, como João Pedro Stédile e João Paulo Rodrigues, fizeram campanha para a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Entre julho e outubro de 2006, houve 47 invasões de terra - o menor registro no período nos quatro anos do primeiro mandato de Lula. (O GLOBO, jan. 2007)


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