Jobson da silva santana


– ANÁLISES DAS REPORTAGENS DO A TARDE ONLINE DE 26.06.2007 A 27.12.2007



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3 – ANÁLISES DAS REPORTAGENS DO A TARDE ONLINE DE 26.06.2007 A 27.12.2007
3.1 – “Trabalhadores rurais ocupam a fazenda na região do São Francisco” (Anexo A)

Nesta reportagem factual (SODRÉ, 1986), escrita pela jornalista Mariana Mendes, no jornal A TARDE, edição de 26 de junho de 2007, o tipo de lide é o clássico. A repórter utiliza o termo “ocupado” utilizado no lugar do termo ”invadido”, como se pode ver na passagem: O termo foi utilizado adequadamente, pois é notório o uso da palavra ocupação para designar o contexto.“No momento da ocupação o Exército não estava presente, sendo pego de surpresa pelos manifestantes.”. Além disso, o termo “integrantes” é utilizado: “Os integrantes do movimento tomaram esta iniciativa depois de várias tentativas de discussões e acordos com o Governo, onde não tiveram resultados.”. Integrante significa fazer parte. Então, a autora considera os sujeitos envolvidos membros dos movimentos. Dessa forma, a autora coloca que os movimentos sociais constituem organizações que reivindicam.

Logo no título da reportagem, pode-se observar o uso do termo “trabalhadores rurais”, ao invés de membros do MST. Isto significa que a autora destaca a situação de classe trabalhadora, buscando seus direitos, e pertencentes à área rural, zona normalmente esquecida pelo governo. Para Engels (1876) o trabalho é o que forma o próprio ser humano. É através do trabalho que o homem transforma a natureza em objetos funcionais para o seu cotidiano.

O trabalho é a fonte de toda a riqueza, afirmam os economistas. Assim é, com efeito, ao lado da natureza, encarregado de fornecer os materiais que ele converte em riqueza. O trabalho, porém é muitíssimo mais do que isso. É a condição básica e fundamental de toda a vida humana e é em tal grau que, até certo ponto, podemos afirmar que o trabalho criou o próprio homem. (ENGELS, 1876, p. 271).

Assim, o homem difere-se dos outros animais pela capacidade de transformação. Ele pode transformar o meio para fazer com que este se adéque a suas necessidades. Dessa forma, pode-se dizer que os trabalhadores rurais utilizam o meio, relacionado à zona rural, para atingir suas demandas, que muitas vezes é convertida em agricultura de subsistência. No entanto, para que estes trabalhadores possam exercer o papel do trabalho mais dignamente, é preciso que estes tenham o meio para que seja possível a transformação deste de maneira a atender suas necessidades, é preciso que estes tenham acesso ao trabalho. Por isso a reforma agrária é importante.

Para Gonçalves et al. (2008, p. 67), no capitalismo existem movimentos sociais que negam a desigualdade existente no sistema. Pode-se dizer que, para a autora, o MST não está neste grupo, pois ela caracteriza o movimento com os termos “iniciativa”, “trabalhadores”, “ocupação” e “organização”. Termos estes que estão relacionados aos movimentos sociais organizados e considerados de luta e, por serem de luta, não negam as disparidades do capitalismo, ao contrário, tentam combatê-las.



3.2 - “Sem terra ocupam fazenda para protestar contra transposição” (anexo B)

A publicação desta reportagem, de lide clássico, se deu na edição do A TARDE de 27 de junho de 2007. De acordo com classificação de Sodré (1986), trata-se de reportagem factual e foi assinada pelas jornalistas Cristina Laura e Mônica Bernardes, da Sucursal Juazeiro e Agência Estado. As autoras utilizam o termo “ocupam”. De acordo com os Juristas David Santos, Leandro Eduardo Lopes e Rogério de Santana (BI: Silva, José Gomes, 1997, p. 114-123), existem profundas diferenças entre ocupar e invadir. Invadir significa um ato de força para tomar alguma coisa de alguém em proveito particular. Ocupar significa, simplesmente, preencher um espaço vazio, no caso em questão terras que não cumprem sua função social, e fazer pressão social, coletiva para aplicação de lei e a desapropriação. É, portanto, um ato legal perante a lei.

Além disso, denominam os membros como sem terra, mas também caracterizam enquanto trabalhadores, como pode ser visto na reportagem. Estas ainda destacam a organização quando colocam que a ocupação foi feita de maneira tranquila. Estas ainda colocam que os trabalhadores desistiram de esperar pela reposta do governo. A palavra desistir significa, segundo Rocha (1996), remete renúncia e abandono. Assim, as autoras defendem que inicialmente os membros do MST aguardaram uma resposta do governo federal, para só então realizarem a ocupação.

Já o prefeito de Cabrobró disse que os movimentos sociais utilizam os manifestantes “massa de manobra para atrapalhar a chegada da modernidade na região”. O termo massa de manobra remete a um grupo ser guiado alienadamente devido aos interesses de outrem. “Atrapalhar” remete a dificultar. Desta forma, o prefeito acusou a base destes movimentos de serem alienados e mencionou que o movimento como o todo impede o desenvolvimento tecnológico da cidade.

O mesmo prefeito não reconhece a condições de trabalhadores enquanto classe. Para Lessa e Tonet (2008), ao discorrer sobre a filosofia de Marx, a classe proletária é aquela que depende da sua força de trabalho, vendendo-a para sobreviver. Para isto, não precisa estar necessariamente empregado, pois o que está sem emprego busca vender a sua força de trabalho, só que não tem êxito e por isso continuam desempregados. Fica claro que o prefeito não considera esta situação, pois os mesmos não são chamados de trabalhadores pelo dirigente de Cabrobró.

O mesmo prefeito ainda define os membros do MST de “desocupados” Ou seja, ele não considera a manifestação uma atividade de manifestação importante. Ainda o prefeito separa estes trabalhadores dos demais, ao dizer que “todo mundo que é trabalhador está de acordo com a obra”. Assim, o mesmo infere que, como os manifestantes estão contra, eles não são trabalhadores.

Em contra partida, o coordenador da Comissão Pastoral da Terra afirma que o governo “só tem nos enganado”. O uso da partícula “só” mostra que o governo, para o coordenador, nunca os tratou com a verdade. Além disso, o mesmo diz que o governo é contraditório, ao afirmar que com as alternativas projetadas pelo movimento: “a obra poderia atingir 35 milhões de pessoas imediatamente, enquanto que, com a transposição, seriam 12 milhões até 2025.”

3.3 – “Manifestantes fecham canal de acesso para transposição” (anexo C)

Adilson Fonseca assina esta reportagem do A TARDE, edição de 28 de junho de 2007, com lide clássico. O texto possui um caráter bem descritivo dos fatos (factual, de acordo com Sodré), o que denota certa imparcialidade. No entanto, aplicando a Análise do Discurso, é possível perceber algumas ideologias por trás de algumas palavras utilizadas.

No final da primeira página, podemos visualizar a expressão “reintegração de posse” na seguinte sentença: “Alertados sobre a possibilidade de uma ação de reintegração de posse, que tramita em Brasília, e sobre a possibilidade de entrada do Exército na área onde estão acampados, os manifestantes prometem resistir.”

Nota-se que a expressão destacada vai de encontro ao ideal dos movimentos sociais, uma vez que, ao falar de reintegração de posse, sugere-se que a área era posse de alguém, ou seja, local privado. O significado que o verbete reintegração traz é de que a área vai voltar a fazer parte (reintegrar) de alguém. Reintegração de posse significa, portanto, que a área vai voltar completamente ao seu dono.

Uma vez que a palavra “posse” denota propriedade particular, a expressão reintegração de posse torna a imagem dos ocupantes da área criminosos, pois eles estão em uma área de outro proprietário, caracterizando como crime de invasão, apesar de o texto utilizar o termo “ocupação”. Pode-se ver que há uma contradição pelo autor, uma vez que há inversão de papéis sociais, ao colocar as vítimas como culpados. Para Santaella:

Quando essa exacerbação de Baudrillard apenas evidencia que, quando a renúncia há conceitos como classe, Estado, ideologia é levada às últimas consequências, o feitiço analítico se vira contra o feiticeiro, pois, ao anular todas as diferenciações da vida coletiva que se ver transformada em ficção, o analista é posto a serviços da própria mistificação que visava denunciar. (SANTAELLA, 1996, p. 324)

Assim, o autor, ao contradizer-se utilizando as expressões “ocupação” e “reintegração de posse”, parece não levar em consideração as desigualdades sociais existentes entre os movimentos sociais e o Exército. Segundo o site (http://portaldovoluntario.org.br), na versão virtual do livro “Direito a Moradia” (2010), reintegração de posse se caracteriza por o proprietário, ou seja, o dono do estabelecimento, após o tempo de afastamento, desejar voltar ao imóvel. A contradição reside no fato de, se o local em questão é público, nunca teve dono e, portanto, não pode haver reintegração.

Na segunda página, quinto parágrafo, destacam-se as expressões “duro golpe”, a “ferro e fogo” e “onde será captada”. As duas primeiras expressões carregam peso e agressividade. Para Santaella (1996, p. 330). “Toda linguagem é ideológica porque, ao refletir a realidade, ela necessariamente a refrata. Há sempre, queira-se ou não, uma transfiguração, uma obliquidade da linguagem em relação a que ela se refere.”

Neste caso, a linguagem é utilizada para mostrar que o ministro Geddel Vieira Lima foi pesadamente atacado. A palavra “golpe”, utilizada na expressão dá a este ataque um caráter de ilegalidade. Por outro lado, quando o mesmo ministro utiliza a expressão “ferro e fogo” demonstra que irá fazer cumprir suas decisões, independente dos meios necessários. Isto se confirma com a próxima frase, com a expressão “onde será captada”. Neste caso, não se considera que há a possibilidade de a água não ser captada e de não haver a transposição do rio. A expressão mostra que há certeza na realização da obra.

O autor da reportagem ainda denuncia que aqueles que são contra a ideia da transposição do rio, são vítimas de preconceito. Como o Estado da Bahia se colocou contra, expressões estigmatizadas, utilizadas bem antes deste episódio, para rebaixar o povo nordestino, como “coisa de baiano”, “bagunceiros” são reavivados neste episódio. O preconceito regional é propagandeado pelos meios de comunicação de massa. Segundo Landi (1992:122) apud Rubim (2000: 54), a mídia é manipuladora, despolitizante e imbuída de preconceitos, que são passados pelo uso da linguagem audiovisual.

Reafirma-se assim, uma ideologia preconceituosa que atinge aqueles que chegam a outros estados. Frases preconceituosas se tornam hábitos. O autor da reportagem menciona esta situação quando diz que as expressões “coisas de baiano” e “bagunceiros” são utilizados “normalmente”, ou seja, com constância e sem estranhamento.

3.4 – “Índios dançam o Toré em prol do São Francisco” (anexo D)

A reportagem “Índios dançam o Toré em prol do São Francisco” (anexo D), escrita por Mariana Mendes, para o A TARDE, edição de 29 de junho de 2007, é factual e, também, usa lide clássico. A autora da reportagem utiliza o termo “ocupação” ao se referir a indígenas e membros dos movimentos sociais que estavam na fazenda Tucuru. (Os significados que circundam o verbete “ocupação” foram explicados anteriormente, nas análises do primeiro e do segundo texto).

No segundo parágrafo, as expressões “fiéis” e “irredutíveis” são utilizadas para descrever a posição dos manifestantes. Fiel denota fidelidade, ou seja, o não abandono às reivindicações. Já irredutíveis mostra que não há demonstração de vontade de mudança ou flexibilização das reivindicações.

A autora da matéria jornalística parece destacar mais a característica do ato do que o objetivo, uma vez que é a dança que aparece no título e na foto. Segundo Debord:

A própria separação faz parte da unidade do mundo, da práxis social global que se cindiu em realidade e imagem. A prática social, diante da qual se coloca o espetáculo autônomo, é também a totalidade real que contém o espetáculo. Mas a cisão desta totalidade a mutila a ponto de fazer parecer que o espetáculo é o seu objetivo. (DEBORD. 1997, p. 15)

Ou seja, a dicotomia criada entre a realidade e a imagem faz com que se exacerbe a manifestação a ponto de esta ser colocada como ponto principal, e não o alvo da manifestação. É o que ocorre nesta reportagem quando a manifestação (dança do toré) se destaca em relação ao objetivo (evitar a transposição do rio São Francisco).



3.5 – “Transposição: Bispo da Barra diz que agora é o confronto” (anexo E)

Na edição do A TARDE de 29 de junho de 2007, foi publicada a reportagem factual (SODRÉ, 1986) de autoria de Adilson Fonseca. O parágrafo que abre a matéria tem características de lide de citação, rememorativo e clássico, configurando-se em um multilide (PENA, 2008). Neste texto, foram encontrados os termos “ocupação” e “desocupação”, o que demonstra que a ação feita por integrantes do MST e indígenas está dentro da lei. Exemplos dos termos utilizados no texto são: “D. Luiz chegou a Cabrobó ontem pela manhã, às 6h30, vindo de Barra, de onde saiu na noite do dia anterior. Imediatamente se reuniu com as lideranças indígenas e integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) para discutir as estratégias da ocupação do canteiro de obras.”. Uma outra citação encontrada foi: “DESOCUPAÇÃO – Ainda segundo Rômulo Macedo, com essa decisão, os manifestantes terão que desocupar a área.”.

No entanto, o autor mostra que, para o exército e áreas do governo, trata-se de medida para pedir reintegração de posse. Mais uma vez é mostrado que o Estado coloca como privado áreas que, a princípio, não desenvolviam nenhuma função social.

Logo na primeira página, o bispo da Barra menciona que “só resta o confronto”. Isto deixa claro que as chances para diálogo se esgotaram. Ao mesmo tempo, mais adiante, o bispo fala que espera que o confronto seja pacífico. Nota-se que ele posiciona confronto como oposição e resistência. Logo, não necessariamente envolve violência.

Ainda na primeira página, o autor da reportagem chama os membros do MST de “manifestantes”. Haveria possibilidades de usarem outros termos, como membros, pessoas, integrantes. A escolha da palavra “manifestantes”, destaca a opção do autor em enfatizar a função destes sujeitos, de manifestar e sustentar sua posição.

O uso do termo “ocupar” no lugar de “invadir” e ”retomar” no lugar de “reintegração de posse” mostra a posição de quem escreveu a matéria em não criminalizar as ações dos manifestantes. A expressão “reintegração de posse” só é utilizada na matéria quando menciona o pedido de membros do governo na justiça. Neste caso, não há como utilizar outro termo, uma vez que é o nome dado a este tipo de solicitação judiciária.

A frase dita pelo bispo: “É isso que dói e nos envergonha”, foi mencionada após ele descrever a lacuna que o Estado tem deixado no amparo a estas comunidades. Assim, ocorre a explicitação que o que incomoda o bispo é a falta do Estado. Assim, para este, soa contraditório o Estado não atuar e querer fazer a transposição com a justificativa de atender a população.

O juiz mencionado na reportagem lançou a seguinte fala: “A manifestação é uma ação dos que ainda não conhecem direito”. Esta frase por si já soa como inverdade, pois como os manifestantes vão reivindicar algo que não conhecem? Além disso, os manifestantes lutam por seus direitos, como a questão da busca da terra, a tão esperada reforma agrária. Posteriormente, o autor da reportagem menciona que tanto os indígenas, quanto os membros do MST estão sendo acompanhados por advogados. Logo, estão conhecendo a causa, Ainda que se use uma linguagem popular, todos estão sabendo dos seus direitos e deveres.



3.6 – “Governo consegue reintegração” (anexo F)

Adilson Fonseca assina mais uma reportagem factual (SODRÉ, 1986), para a edição de 29 de junho de 2007 do A TARDE. Aqui, como na maior parte das matérias analisadas, o lide é clássico. O texto utiliza o termo ocupar para designar as ações do movimento. Porém o autor informa que pode ser utilizada “força federal” para que os manifestantes desocupem a área. A expressão “força federal” na maioria das vezes é usada para denominar violência policial justificada pelo trabalho de segurança do qual exerce o papel.

O autor chama a ação dos manifestantes de “luta”. Segunda Rocha (1996, 321) a expressão significa briga. No contexto de movimentos sociais, significa briga ideológica. Assim para o jornalista os integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) constituem lutadores ideológicos contra, no caso em questão, a transposição do rio São Francisco.

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST surgiu a partir da necessidade de promover a reforma agrária. Esse por sua vez é um sistema que visa distribuir terras de forma justa. A partir desse pensamento e da oposição real em que o Brasil se encontra, pessoas que não possuem terras para plantio organizaram um movimento de protesto contra a centralização de terras nas mãos de poucos.

O movimento é organizado em 24 estados brasileiros a partir de comissões de frente que buscam a reforma agrária de forma verdadeira. Cada comissão é responsável pelos setores de saúde, direitos humanos, gênero, educação, cultura, comunicação, formação, projetos e finanças, produção, cooperação, meio ambiente e frente de massa.

Como forma de reivindicação e de fazer valer a reforma agrária, o MST ocupa os latifúndios e se mobilizam em massa de forma que os proprietários fiquem sem maneiras de reagir. Também adquiriu ao longo do tempo características absorvidas de outras lutas sociais em busca dos direitos humanos.

O MST a partir de sua manifestação impactante universalizou sua causa e tornou conhecida a necessidade de fazer valer o direito do homem de ter seu espaço para morar e promover seu sustento e ainda trouxe à tona a ocupação improdutiva de terras por pessoas que visam apenas terem posses.

3.7 – “Trabalhadores ocupam sede do INCRA” (anexo G)

Esta reportagem de Amélia Vieira, com lide clássico, publicada no A TARDE de 12 de dezembro de 2007, também é factual. O texto já começa contraditório, ao utilizar a palavra “ocupam” no título e “invadem” na legenda da foto. Assim, não dá para saber o verdadeiro víeis do texto, ou até mesmo se a autora está confusa em relação às denominações.

Apesar da confusão inicial, o texto caracteriza-se por ser bem descritivo. Além das condições de trabalhadores, a autora enfatiza as más condições dos trabalhadores: “em barracas de lona à beira de estradas.”.

A jornalista também chama os trabalhadores rurais de “posseiros”, dando a estes a característica de proprietários das terras que tem direito. Segundo o dicionário Aurélio, versão online, posseiro consiste em “pessoa que detém de fato a posse de uma gleba de terra, mas não é o dono de direito, não possuindo assim documentação e registro em cartório, como por exemplo, quem ocupa terras devolutas sem registro e titulação em cartório. “Isto condiz com a realidade dos trabalhadores rurais do Movimento dos Sem Terra (MST), uma vez que estes não possuem documentação ou registro do território.

Para o Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra) (2009), grilagem:

É a ocupação irregular de terras, a partir de fraude e falsificação de títulos de propriedade. O termo tem origem no antigo artifício de se colocar documentos novos em uma caixa com grilos, fazendo com que os papéis ficassem amarelados (em função dos dejetos dos insetos) e roídos, conferindo-lhes, assim, aspecto mais antigo, semelhante a um documento original. A grilagem é um dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural brasileiro.

Pode-se dizer que esta autora considera que muitos latifundiários são grileiros, uma vez que ela afirma que os trabalhadores rurais ocupam áreas e não invadem. Juridicamente, a ocupação se dá em terras sem função social, improdutivas e não regulamentadas, ou seja, pertencentes de grileiros.

Marx (1982, p. 50), afirma que o trabalho é uma condição sem o qual o homem não se constituiria ser humano. Soa, portanto, contraditório como trabalhadores se localizam, ainda que durante a ocupação, segundo a descrição da autora, em barracas de lona a beira da estrada.



3.8 – “Rebeldia necessária é possível” (anexo H)

O autor da reportagem factual (SODRÉ, 1986) é Saymon Nascimento. O lide, diferentemente da maioria das outros textos, é dramático. A matéria foi publicada na edição de 15 de dezembro de 2007 no A TARDE. O autor demonstra ser provocativo ao colocar como título a sentença “rebeldia necessária é possível”.

Nesta frase pode-se encontrar um conjunto de paradoxos. A palavra rebeldia, atualmente, é utilizada como característica negativa. No entanto, o título coloca que há rebeldia necessária, ou seja, não se devem aceitar todas as ideologias sem se rebelar contra o que se considera errado. Além disso, o autor afirma que não somente existe rebeldia necessária, como afirma que ela é possível. Para isso, utiliza o entrevistado como exemplo de rebeldia necessária concretizada.

Logo após o título, encontra-se no texto a seguinte frase, pertencente ao entrevistado: "Não quero viver para ter três cartões de crédito e pagar a prestação do carro". Esta frase mostra claramente que o entrevistado quer exercer sua profissão como função social. Ao longo do texto, esta declaração é enfatizada com outras, tal como "Meu interesse era a documentação de movimentos sociais.”

Duarte (2003, p. 307) apud Miranda (2005, p. 91) coloca que os jornalistas terão suas culturas diferentes, a depender da empresa e para quem se trabalha. No caso do MST, depende da linha editorial se o jornalista irá se posicionar contra ou a favor do movimento. Pelas frases proferidas pelo entrevistado, pode-se notar que este se posiciona a favor do MST e, além disso, planeja realizar um projeto com o movimento. Dentre os movimentos sociais, o entrevistado mostra estreita relação com o MST. Ele declarou que: "Um de meus próximos projetos é voltar a trabalhar com o MST, registrando o movimento do ponto de vista das pessoas que o compõem, e não sob a perspectiva de líderes e dirigentes.” Esta frase mostra o interesse em o fotojornalista conhecer a base e não a direção.

O entrevistado considera que é a base que compõe o movimento: “das pessoas que o compõem, e não sob a perspectiva de líderes e dirigentes”. Por fim, o entrevistado coloca que os ataques ao MST diminuíram no governo Lula, “mas muita gente morreu no campo, sem que houvesse muita repercussão.”. Aqui o entrevistado coloca seu desapontamento com as mortes de membros do MST sem que isto fosse considerado importante pela grande mídia.



3.9 – “Conflito entre indígenas e MST se agrava em Terra Nova” (anexo I)

A correspondente da Sucursal Eunápolis assina a reportagem factual (SODRÉ, 1986), publicada no A TARDE de 27 de dezembro de 2007. Nesta matéria, de lide clássico, os termos “invadido” e “ocupado” são utilizados. Porém não há contradição da autora, uma vez que são utilizados em contextos diferentes. A autora utiliza o termo que refere a ocupação quando trata-se de uma aldeia em uma área indígena. Assim, há apenas o preenchimento de um local.

Já o termo “invadido” denota tomada a força de um local que é propriedade do outro. Isto foi utilizado quando os indígenas se colocaram na área tida como dos membros do MST. Dessa forma, fica claro que a autora da matéria considera a atitude dos indígenas ilegal e se coloca a favor do MST.

A expressão “bloquearam de vez” contida no segundo parágrafo demonstra que, para a autora, a ação de “invasão” dos índios já vinha sendo realizada paulatinamente e que agora o bloqueio da área foi total.



3.10 – “Tensão entre MST e índios pataxós no sul da Bahia” (anexo J)

Aqui, outra reportagem factual (SODRÉ, 1986) publicada na edição de 27 de dezembro de 2007, do A TARDE, com autoria de Maria Eduarda Toralles, da Sucursal de Eunápolis. Neste presente texto, a autora prefere o lide clássico e utiliza o termo “ocupar” tanto para se referir ao Movimento sem Terra, quanto para falar dos indígenas que estão na área onde se localizavam o MST. Isto significa que a autora não demonstrou parcialidade entre o confronto.

Apesar desta colocação inicial, é dito no texto que os índios não estão permitindo a passagem de pessoas da vila, incluindo doentes. A expressão “inclusive, a saída de doentes” demonstra que a autora considera exagero impedir a passagem destes. Dessa forma, os índios ficam com a imagem em desvantagem no texto descrito.

A jornalista também mostra contradição por parte dos indígenas, ao mostrar que os índios estão ocupando o que seriam suas terras: “Assentamento Terra Nova, ocupado no domingo, por cerca de 170 índios pataxós da Aldeia de Guaxuma, em Porto Seguro (a 707 km de Salvador).”, porém o mesmo texto afirma que a FUNAI mencionou que a área não pertence à comunidade indígena, como é explicitado no seguinte trecho: “O superintendente do Incra relatou que na época da transferência consultou a Funai, que declarou que a área não pertencia ao território indígena. "O que o Incra quer é que seja publicado logo o estudo de ampliação da terra indígena. Aguardo isso desde 1998. A Funai tem que definir logo a área que estão reivindicando para não haver conflitos", conclui Gugé. Os pataxós permanecem na porteira de entrada do assentamento. "Nenhum representante do Incra ou da Funai esteve aqui até o momento”, declarou Uruçu Pataxó. ”.

Para concluir, o texto informa que as famílias do MST já tiveram que reassentar em outro lugar, a fim de “evitar conflito”. Esta informação novamente coloca os membros do MST como vítimas em relação à ocupações indígenas.


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