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UM CONTEXTO HISTÓRICO DA GEOMETRIA COM ÊNFASE
NO PERÍODO DA MATEMÁTICA MODERNA
Ana Célia da Costa Ferreira
PUCPR
celianaferreira@pop.com.br
Resumo:
A compreensão matemática, no decorrer dos tempos, têm-se mostrado privilégio de poucos, pois
sua comunicação, divulgação e aprendizagem são difíceis desafios para todos que lidam direta ou
indiretamente com esse conhecimento. Para muitos a impressão que se tem é que a Matemática não evolui,
em termos teóricos metodológicos, seu ensino passa uma imagem estática, sem novidades. Educadores
esquecem a história e os movimentos ocorridos, que contribuíram para as mudanças curriculares e
metodológicas desse saber. Na década de 1950, os avanços científicos e tecnológicos
da sociedade
mundial, preocupam os educadores matemáticos. Inicia-se um movimento para reformular o ensino-
aprendizado da Matemática, conhecido como Movimento da Matemática Moderna. No Brasil, esse
movimento incentivou, em cada estado, a criação de grupos de estudos. No Paraná, o Movimento foi
representado pelo grupo NEDEM com o propósito de divulgar estudos relativos à proposta local de
Matemática Moderna. A preocupação de ainda hoje, encontrarmos os conteúdos de geometria nos capítulos
finais dos livros didáticos e perceber que muitos professores secundarizam, levou-nos
a investigar como o
Movimento da Matemática Moderna no Paraná abordou o ensino de geometria, como o mesmo foi
apropriado pela escola paranaense na década de 60 e 70. O presente artigo não responde ainda, a esta
questão, mas tenta descrever o pensamento geométrico presente desde os primórdios da humanidade
enfocando o Movimento da Matemática Moderna.
Princípios do Pensamento Geométrico
A noção do pensamento matemático aparece no homem desde os tempos das cavernas. Suas
representações de caça e pesca foram notadas em paredes, pedras e ossos. O homem primitivo,
observador da natureza, aprendeu a extrair dela, considerações a
respeito da geometria, ao observar o
contorno do sol e da lua, o arco-íris, as sementes, o tronco das árvores... Eves (1992, p.1) comenta que
“inúmeras circunstâncias da vida, até mesmo do homem mais primitivo, levava a um certo montante de
descobertas geométricas subconscientes”.
As representações da natureza e de atividades praticadas pelo homem primitivo são precedidas de
uma “geometria subconsciente”, como se refere Eves (1992, p.2) “Esta geometria subconsciente era
empregada pelo homem primitivo para fazer ornamentos decorativos e desenhos, e provavelmente é
correto dizer que a arte primitiva preparou em grande escala o caminho para o desenvolvimento geométrico
posterior”. Mesmo a idade primitiva não se constituir de fatos científicos, o homem
iniciou um longo caminho
de descobertas geométricas.
Pelas observações e representações feitas a partir da natureza pelos primitivos, a inteligência
humana foi capaz de estabelecer conceitos, teoremas e regras geométricas, esse processo foi um longo
caminho percorrido através da história humana. No decorrer dessa história, esse conhecimento passou por
discussões, desacordos, movimentos, que inspiraram suas transformações e inovações. A ciência
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matemática saiu da mente dos grandes sábios para ser ensinada para todos. Povos como os babilônicos,
egípcios, chineses, hindus, contribuíram para o que conhecemos hoje de geometria.
É notável a contribuição dos gregos para a matemática, em especial para a geometria. Para Roxo
(1937), os gregos presidiram ao nascimento da matemática. Esse conhecimento
iniciou-se pelo estudo da
geometria, era esta o objeto de suas especulações, recorrendo às construções geométricas efetuadas com
régua e compasso. Com eles nasce a geometria dedutiva.
Eves (1992) aponta “os aspectos dedutivos da geometria devam ter sido consideravelmente
explorados e aprimorados pelo trabalho dos pitagóricos” (p.8), desenvolveram “o discurso lógico como uma
seqüência de afirmações obtida por raciocínio dedutivo a partir de um conjunto aceita de afirmações iniciais”
(p.9). Essas afirmações iniciais eram chamadas de axiomas e postulados do discurso. Nasce os axiomas e
postulados, os quais Euclides utiliza para a escrita de seus Elementos.
O desenvolvimento da álgebra a partir dos estudos da geometria grega e as traduções dos
Elementos de Euclides na Europa, foi um marco importante para o desenvolvimento da geometria.
A álgebra abriu as portas para a geometria analítica, Eves e Roxo, consideram esta como um
método da geometria. “Graças ao simples jogo do mecanismo algébrico tornara –se possível criar, segundo
um plano mais vasto e mais bem ordenado, um novo mundo geométrico, por assim dizer ilimitado e que a
intuição direta das figuras não nos poderia revelar” (Roxo, 1937, p. 21). O autor
considera que Descartes
trouxe para a matemática uma nova concepção – “a concepção sintetista”.
A geometria cartesiana foi se aperfeiçoando e tomando lugar frente aos métodos gregos de
demonstrações. A álgebra dominou o pensamento matemático e o espírito humano. Surgiram neste período
a geometria projectiva e a diferencial.
No início do século XIX, o matemático alemão Gauss, o húngaro Janos Bolyai e o russo Nikolai
Ivanovich Lobachevsky, foram os pioneiros “a suspeitar e mesmo proclamar, a impossibilidade de obter uma
contradição sob uma das negações do postulado das paralelas” (Eves, 1992, p.21), surgindo assim, a
geometria não euclidiana.
O Brasil e a Geometria Escolar
A visão Platônica de ensino dominava os centros escolares,
no Brasil, não foi diferente, apesar de
quase não se ter registro do ensino da geometria. Na colônia, os Jesuítas permaneceram por volta de dois
séculos ministrando o curso de Letras (aulas de gramática, retórica e latim), completado com os cursos de
Artes e Teologia. No curso de Artes, estudava-se Matemática, Lógica, Física, Metafísica e Ética. A
Matemática era precedida de Geometria: plana e sólida, Castro (1953).
Com a expulsão dos Jesuítas em 1759, a educação brasileira passou por um período difícil,
permanecendo poucos centros de instrução. Somente 13 anos depois é que foram instituídas as Aulas
Regias – aulas de disciplinas isoladas – que se espalharam pela colônia, sem condições de funcionamento
e sem alunos. Em relação às aulas régias de Geometria, por volta de 1776, o Governador de São Paulo
ordenava, num edital ameaçador:
que em cumprimento do bando lançado no dia 20 do mês anterior, todos os
estudantes e pessoas conhecidamente curiosas se
alistassem na aula que
se havia de abrir para o ensino de geometria. Àquele que, infringindo o
determinado nesse edital, se não apresentassem a alistar perante o
Reveríssimo Padre Frei Jose do Amor Divino Duque, aplicar-se-ia a pena
de se sentar praça de soldado. (NUNES, apud MIORIM, 1998, p. 84).