88
Harmonia de Rameau, utilizando como referencial teórico a atual concepção de Série Harmônica, o que
possibilitaria uma nova interpretação dos dados apresentados por Rameau.
4.0 Bibliografia
Bailhache, Patrice
, Une histoire de l'Acoustique musicale.Paris: CNRS Editions. 2001.
Boyer,C.B
História da matemática. São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 1996
Cohen, H. F.,
Quantifying music. The science of music at the first stage of the Scientific Revolution, 1580-
1650. Dordrecht: D. Reidel Publishing Company, 1984
Descartes,R.
,Compedium musicae(Utrecht,1650/R,4/1695;Engedn.,London,1653;
Palisca,C.V
.,“Scientific Empiricism in Musical Thought“,Seventeenth Century Science and the Arts,
ed.H.H.Rhys(Princeton,1961), 91-137
Dostrovsky, S.:
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Anedoctal History of the science of sound (New York,1935)
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Introdução à história da matemática. Campinas: Editora atual
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, The Physics of Musical Sounds (London, 1965)
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Musical Engineering (New York, 1952/R1967)
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Science & Music (Cambridge, 1937/R1968)
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Musical Acoustics (Philadelphia, 1941, 4/1956)
Lindsay, R.B
. Acoustics: Historical and Philosophical Development. Stroudsburg: Dowden
Wisnik, J. M.,
O som e o sentido Editora: Companhia das Letras
Roederer, J. G.,
Introdução à física e psicofísica da música Editora: Edusp
Rameau, J. P.,
Treatise on Harmony Editora:Dover
89
A MATEMÁTICA E O DESENVOLVIMENTO DA ACÚSTICA NO RENASCIMENTO
Augusto
Andrade Pereira
augusto_huck@yahoo.com.br
Orientador: Prof. Dr. Oscar João Abdounur
abdounur@ime.usp.br
IME-USP
Introdução:
A música faz parte da história cultural do homem desde seus primórdios. Já na Grécia Antiga,
existiam postulados sobre assuntos pertinentes à acústica como, por exemplo, as causas para consonância
e dissonância de intervalos musicais. Durante um longo período de tempo tais questões, entre outras, foram
abordadas sob uma perspectiva basicamente matemático-especulativa. A partir do período do
Renascimento, a ciência como um todo, inclusive a acústica, obteve um caráter empírico e esta última
começou a fundamentar-se cada vez mais em princípios matemático-experimentais evidenciando uma nova
natureza na relação entre a matemática e a música.
Embora o enfoque principal desse trabalho seja a leitura histórico matemática do Renascimento à
luz de Thomas Kuhn, fez-se necessário buscar outros períodos da história da acústica para que tal leitura
pudesse ser feita de maneira mais adequada.
Um primeiro teórico pré-renascentista importante para tal leitura foi Pitágoras. Aproximadamente no
século VI a.C., em um período onde a ciência ainda não possuía um caráter
experimental, Pitágoras
realizou um experimento com o monocórdio capaz de fornecer relações matemáticas entre o tamanho da
corda e a nota emitida por ela quando vibrada. Tal experiência representa uma exceção dentro do contexto
científico em que se insere na medida em que ocorreu em período fortemente marcado por uma ciência
especulativa, característica da Escola Pitagórica
Esse caráter especulativo manteve-se predominante na historia da acústica durante séculos e
somente durante o período do Renascimento é que veio adquirir elementos de natureza matemático-
empírica. Durante tal período, diversos músicos teóricos colaboraram com aproximação da música com a
matemática experimental, como por exemplo, Zarlino, Benedetti e Galileo Galilei.
A possibilidade de enquadramento desse período da historia da ciência no conceito kuhniano de
Revolução Cientifica é a principal motivação desse trabalho.
Abordagem Histórica:
Aproximadamente seis séculos antes de Cristo, em um período onde a ciência ainda não possuía
um caráter experimental, Pitágoras realizou um experimento com o monocórdio capaz de fornecer relações
matemáticas entre o tamanho da corda e a nota emitida por ela quando vibrada. Entretanto,
embora tais
relações tenham sido encontradas experimentalmente, Pitágoras as generaliza sem base dedutivo-
experimental, obtendo de modo geral diversas conclusões de caráter fortemente especulativos. Pitágoras
acreditava que a mesma relação entre o som e o tamanho da corda valeria para qualquer corpo que a
respeitasse, conclusão mais tarde confrontada por Vincenzo Galilei (1520-1591). Por exemplo, sob tal
perspectiva pitagórica, um copo com certa quantidade de água quando vibrado
emitiria uma nota uma
oitava acima da nota emitida pelo mesmo copo com o dobro do volume de água, uma vez que o intervalo de
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oitava é produzido pela relação 1:2, encontrada na vibração da corda do monocórdio para esse mesmo
intervalo.
Para cada intervalo musical, as razões entre os tamanhos das cordas encontradas por Pitágoras
estão representadas na tabela a seguir:
Nome
Proporção do tamanho da corda
Tônica 1:1
Oitava 1:2
Quinta 2:3
Quarta 3:4
Observando tais relações Pitágoras atribuiu o caráter dissonante ou consoante de cada intervalo à
sua natureza matemática.
Tal experimento, isolado do contexto especulativo de sua época, não
teve continuidade e um
caráter matemático-empírico permaneceu durante séculos ainda afastado da música. A natureza
especulativa predominantemente nessa ciência manteve-se até o período do Renascimento, quando o
empirismo passou a prevalecer.
Já no início do Renascimento Gioseffo Zarlino (1517-1590), importante músico teórico de seu
tempo, inseriu novos intervalos consoantes aos conhecidos por Pitágoras:
Nome
Proporção do tamanho da corda
Terça Maior
4:5
Sexta Menor
5:8
Terça Menor
5:6
Sexta Maior
3:5
Zarlino apresentou uma explicação mais específica, embora ainda especulativa, para o mesmo
problema da consonância e dissonância, atribuindo às consonâncias musicais relações perfeitas entre
números inteiros
menores ou iguais a seis, número especial por diversas razões religiosas. Olhando a
tabela de relações apresentada acima, podemos observar que tal regra não se aplica à sexta menor. Zarlino
explicava tal exceção pelo fato de que o número oito podia ser obtido através da multiplicação de 4 por 2,
números que somados dariam 6. Embora Zarlino tenha feito conclusões meramente especulativas, grande
parte do seu trabalho representou uma tentativa de adequar a teoria à prática de seu tempo, sendo um
representante importante da emergência do caráter empírico nos contextos da ciência acústica nessa
época.
No fim do século XVI, outro músico teórico que também se preocupou com o
mesmo problema foi
Gionvanni Batista Benedetti. Benedetti sugeriu que o som seria vibrações no ar geradas pelas oscilações da
corda e que variaria segundo a velocidade dessa vibração e que quanto menor o tamanho da corda, mais
vibrações ela realizaria em um mesmo intervalo de tempo. Dessa forma quanto menor a corda, mais agudo
o som por ela produzido. Através disso Benedetti concluiu que a consonância seria determinada pela