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A dialética, acima do tom de manifesto próprio da tenra idade com que muitos de seus
representantes começaram a escrever criticamente, é algo que perpassa o formalismo. Há em
teóricos que ainda emprestarão seu conhecimento ao desenvolvimento do presente estudo
científico ecos e desenrolar do nascido na fonte crítica do formalismo russo. Começar, pois,
esta tese com o nascedouro do aporte teórico que me importará resulta do entendimento de
encontro da literariedade segundo os preceitos formalistas para com a literatura enquanto arte
de representação em La frontera de cristal, de Carlos Fuentes, e ...y no se lo tragó la tierra,
de Tomás Rivera.
1.2 Imagem e(m) literatura
i.ma.gem
1.Representação gráfica, plástica ou fotográfica de pessoa ou de objeto.
2.Representação
plástica
de
Cristo,
da
Virgem,
dum
santo,
etc.
3.Estampa
que
representa
assunto
ou
motivo
religioso.
4.Reprodução
de
pessoa
ou
de
objeto
numa
superfície
refletora.
5.Representação mental dum objeto, impressão, etc.; lembrança, recordação.
6.Representação cinematográfica ou televisionada, de pessoa, animal, objeto, cena,
etc.
7. Metáfora. [Pl.: –gens.]
§ i.ma.gé.ti.co adj. (FERREIRA, 2004, s/p.)
17
A citação acima nos serve de amparo e introdução para o trato da conceituação em que
me pautarei de agora em diante. A escolha das possibilidades apresentadas pelo Dicionário
Aurélio de língua portuguesa (2004) tem a ver com a repetição em outros dicionários, apesar
de acréscimos e pequenas variações, da maior parte das definições nele apresentadas para o
vocábulo “imagem”. Ainda que todas estejam de certo modo interligadas no âmbito de
desenvolvimento da presente tese, as significações que mais bem servirão de apoio para os
argumentos ora apresentados são: a de representação mental (número 5), por sua
correspondência para com o que entendo como caminho até a irrupção de um imaginário
(argumentação melhor trabalhada no próximo segmento, tópico 1.3); a de metáfora (número
7), pelo entendimento de que é o principal recurso de imagem trazido à baila por Carlos
Fuentes em La frontera de cristal; e a de representação fotográfica de pessoa ou objeto
(número 1), por sua aproximação para com a linguagem de instantâneos fotográficos que
surgem do laconismo, da economia linguístico-narrativa de ...y no se lo tragó la tierra, de
Tomás Rivera.
17
FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Eletrônico versão 5.12 (2004).
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Em consonância com o acima exposto e com observações do norte-americano
historiador da arte William John Thomas Mitchel (1986), a professora, pesquisadora e
antropóloga da Universidade de São Paulo (USP), Sylvia Caiuby Novaes, descreve várias
possibilidades e/ou tipos de abordagem mais usuais, mais “comuns” para as imagens. Seriam
elas: “gráficas (como as pinturas, as estátuas e os desenhos); óticas (como os reflexos no
espelho e as projeções); perceptivas (como as aparências); mentais (como os sonhos, as
memórias, as ideias); verbais (como as metáforas e as descrições)” (NOVAES, 2008, p. 455).
Reitero que, tanto o recorte de acepções lexicográficas quanto o pequeno apanhado de
conceituações teóricas têm por objetivo realçar como é constante e por isso mesmo possível a
correlação das partes “imagem”, como vocábulo, como termo, a um todo maior, um grande
amálgama chamado IMAGEM. Dessa forma, espero assim explicar que, apesar da existência
de um enfoque no presente trabalho, grande parte das abordagens sobre imagem até aqui
suscitadas serão retomadas hora e vez durante o desenvolvimento de materialização deste
estudo, pois essas imagens se fazem presentes no corpus e muito porque, como poderemos
verificar, nem sempre são ou serão estanques entre si.
Assim sendo, repito, ainda, que as atenções principais do presente tópico estão
voltadas para a imagem como fruto, como resultado de um processo mental, muito próximo
da percepção, onde envolvidos estão os atores de tal processo: o autor – transmissor e
“projetor”, incitador, provocador de imagens; e o leitor – ora também agente participativo e
criador nessa demanda, ora receptor à mercê da voz ou de vozes narrativas criadas por seu
(des)orientador, o escritor do texto literário.
É sabido, porém, que a imagem, pensada como fruto de uma demanda, de todo um
processo cerebral se apresenta como um terreno arenoso, a ser o mais das vezes evitado, ou,
ainda, evitado de ser aprofundado, mesmo em abordagens teóricas de nomes já consagrados.
Tal é o caso dos autores em que ancoro meus argumentos neste apartado. Porém, ainda que
apenas resvalando na (ou mesmo desviando-se da) questão da imagem e, por conseguinte, do
imaginário, como produto de todo um trabalho mental, acrescento que sem o diálogo com o
raciocínio teórico desses mesmos autores, pouco elucidaríamos das teias em que se enovelam
as imagens que saltam das linhas dos romances nos quais se calca o presente estudo.
Um destes nomes é o de Gilbert Durand (1921-2012), filósofo francês, especialista do
imaginário, referência nos estudos sobre este tema, fundador (1966) do Centro de Pesquisa do
Imaginário e do CRI-GRECO 56 (C.N.R.S. 1982), que reúne 43 centros de pesquisa sobre o
imaginário no mundo. De toda sua produção, a obra deste importante autor com a qual aqui
dialogo é o seu O imaginário ([1994] 2011). Para além da relevância de um ensaio desse peso
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