18 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
Economia Comportamental, do ponto de vista de sua contribuição potencial à elaboração de
políticas públicas. A evidência empírica disponível mostra que a forma como os cidadãos fazem
suas escolhas é bastante afetada por variáveis não-monetárias, tais como maneira como lhes são
apresentadas as opções e o contexto de sua aplicação.
As questões éticas envolvidas na pesquisa em Economia Comportamental são tema do capítulo
de Ana Maria Bianchi. A partir de um breve retrospecto da história do pensamento econômico, Bian-
chi discute as dimensões positiva e normativa da ciência econômica, bem como as implicações éticas
da arquitetura de escolha, da aplicação da Economia Comportamental à teoria do desenvolvimento,
e das evidências de comportamento moral entre animais.
O foco do capítulo de Carol Franceschini e Felipe A. de Araújo é de natureza metodológica. Os
autores discorrem sobre as características da pesquisa experimental em seus diferentes formatos e
discutem questões críticas de validade interna e externa. A partir desse panorama da pesquisa expe-
rimental, conduzida especialmente em laboratório, discutem como esses estudos tem sido usados na
área de preferências sociais, descrevendo os jogos econômicos mais utilizados na área.
No campo da psicologia econômica, Diogo C. S. Ferreira e Anthony Evans discutem o tema do
comportamento altruísta, pró-social ou de cooperação. Analisam as explicações desse comporta-
mento elaboradas pela psicologia social, pela Economia Comportamental e pela biologia. Os autores
mostram evidências de pesquisa sobre a eficácia da punição de terceiros na manutenção e no desen-
volvimento da cooperação, e abordam a hipótese do altruísmo competitivo.
O texto de Ana Maria Roux V. C. Cesar, Paulo S. Boggio e Camila Campanhã dá um panorama da
área de neuroeconomia e expõe os resultados de um estudo experimental no campo da neuroeco-
nomia e da neurocontabilidade, realizado por meio de um jogo de metas. Em sua investigação sobre
os aspectos neurofisiológicos do processo de decisão, baseada em eletroencefalogramas, os autores
concluem que o cérebro é capaz de captar a incongruência de informação, mas que isso não afeta o
comportamento de decisão quando esse já está de alguma forma condicionado.
A Parte IV deste guia reúne entrevistas realizadas com personalidades que se sobressaem na
pesquisa em Economia Comportamental e Experimental contemporâneas. O tom é informal, como
convém a depoimentos pessoais sobre a experiência de pesquisa de cada entrevistado, que listam as
questões que permanecem em aberto e analisam os novos rumos da pesquisa na área.
Constam nesta parte os depoimentos de Richard Thaler da University of Chicago, um dos pais da
área de Economia Comportamental e principais referências mundiais no tema. Thaler aborda alguns
pontos-chave explorados no seu livro best-seller Misbehaving, dando uma visão abrangente da área
e dos bastidores do seu surgimento desde o final da década de 70. Mais ainda, discute algumas polê-
micas na área, trazendo uma visão crítica e abrangente de seu desenvolvimento nos próximos anos.
Paul Dolan, da London School of Economics, expõe sua visão sobre as aplicações dos estudos da
Economia Comportamental (EC) para a área de políticas públicas, assim como agendas de pesquisa
importantes que vêm emergindo na área. Mais ainda, fala dos pontos chaves do seu livro best-seller
Happiness by Design, no qual aborda a temática da felicidade e como melhor alcançá-la.
19 Guia de Economia Comportamental e Experimental
A entrevista de Ravi Dhar, da Yale School of Management, aborda as suas aplicações na área
de marketing e negócios e fala do alcance que seus estudos tem ganhado no mundo todo. O
especialista considera que uma das principais contribuições da EC está em seus estudos experi-
mentais e na cultura de testar e aprender, que fornecem um modo de pensar melhor e de forma
mais inteligente sobre os consumidores.
Duas entrevistas constantes da Parte IV testemunham a importância assumida pelas pesqui-
sas de Economia Comportamental e Experimental nos trabalhos do Banco Mundial. A primeira
delas foi conduzida junto a Varun Gauri, diretor responsável pelo World Development Report
2015, MInd, Society and Behavior, a segunda junto a Arianna Legovinni, que acompanhou o au-
mento do prestígio dos métodos experimentais na área de desenvolvimento, e chefia o departa-
mento responsável pelos estudos de avaliação de impacto do Banco Mundial.
Em seu depoimento, Varun Gauri dá sua perspectiva da importância da área e suas pesquisas
experimentais e empíricas para políticas de desenvolvimento. Fala ainda do espaço que a área
vem ganhando internamente no Banco Mundial e no campo de desenvolvimento econômico, fato
que resultou na criação da Global Insights Initiative (GINI) em outubro de 2015. Arianna Legovini
traz uma abordagem mais metodológica, contando um pouco sobre o papel da DIME (Develo-
pment Impact Evaluation unit) no Banco Mundial, seus estudos e como o uso experimentos e
testes controlados randomizados podem ser ferramentas importantes para trazer subsídios para
programas na área de desenvolvimento.
Outra perspectiva sobre experimentos de campo é dada por John List, professor e diretor
do departamento de Economia da University of Chicago, que, além de apresentar um panorama
geral da área, traz sua visão crítica como um dos pioneiros no uso de experimentos de campo
como instrumento na teoria econômica e como fonte de informação sobre o comportamento dos
indivíduos em seu habitat.
Para fechar a seção de depoimentos, uma conversa divertida e informal entre George Loewens-
tein, professor de economia da Carnegie Mellon University, e o publicitário Rory Sutherland, original-
mente escrita como prefácio do ”The Behavioral Economics Guide 2014”, fala sobre o alcance da área,
tanto na academia quanto setor público e privado nos últimos anos.
Já a Parte V traz um visão aplicada de pesquisadores em empresas, consultorias e órgãos, que
têm utilizado ativamente os ensinamentos da Economia Comportamental e suas metodologias para
geração de novas estratégias e intervenções. Os capítulos exploram temas que vão desde nudging,
políticas públicas e regulação, até a necessidade de fornecer novas perspectivas e insights para as
áreas de marketing, negócios e publicidade.
Após essa breve caracterização do conteúdo das partes e capítulos que integram o guia,
queremos reforçar seu caráter introdutório e sua intenção de oferecer ao leitor brasileiro um
roteiro para facilitar sua entrada nessa fascinante área de pesquisa, seja como pesquisador, seja
como simples interessado.