22 Guia de Economia
Comportamental e Experimental
à falta de informação. E é por isso que nossas repetidas tentativas de melhorar o comportamento
fornecendo mais informação fazem pouco (ou nada) para melhorar as coisas.
O problema básico é: possuímos nossos software e hardware internos que se desenvolveram
com o passar dos anos para lidar com o mundo. E, embora tenhamos algumas habilidades sensa-
cionais, em muitoss casos elas são incompatíveis com o mundo moderno que projetamos. Esses
são os casos em que podemos sair perigosamente do caminho e cometer erros graves. Está ficando
cada vez mais caro viver com esses erros. Por quê? Pense nesses perigos como se eles fossem ter-
roristas. Mil anos atrás, quanto dano um terrorista poderia causar antes de ser pego? E hoje? Com
tecnologias como explosivos, guerra química e biológica, até um grupo muito pequeno pode cau-
sar danos colossais. O mesmo se aplica a cair em tentação. Em um mundo onde não tivéssemos ce-
lulares e carros, os perigos de não prestar atenção não seriam tão grandes — na pior das hipóteses,
trombaríamos com uma árvore quando estivéssemos andando. Mas se estamos em um carro a 120
km/h, qualquer errinho de atenção pode custar muito caro. O mesmo se aplica ao que comemos.
Em um mundo onde os alimentos não possuíssem teor calórico tão elevado, comer por 10 minutos
a mais depois de satisfeitas as nossas necessidades nutricionais não faria muito mal. Mas quando
um donut contém centenas de calorias e podemos devorá-lo em menos de um minuto, comer por
um pouquinho a mais de tempo pode custar caro. Muito caro.
Existem muitos vieses e muitos modos de cometer erros, mas dois dos pontos cegos que
mais me surpreendem são a contínua crença na racionalidade das pessoas e dos mercados. Isso
me supreende particularmente porque até as pessoas que parecem acreditar que a racionalida-
de é um bom modo de descrever indivíduos, sociedades e mercados sentem-se bem diferente
quando lhes fazemos perguntas específicas sobre as pessoas e instituições que elas conhecem
bem. Por um lado, elas podem citar todo tipo de crenças elevadas sobre a racionalidade das pes-
soas, empresas e sociedades, mas por outro expressam sentimentos muito diferentes sobre suas
caras-metades, sogras (e tenho certeza de que essas caras-metades e sogras também têm umas
histórias bem malucas sobre nossos entrevistados) e organizações em que trabalham. Por alguma
razão, quando examinamos de perto algum exemplo da vida, a ilusão de comportamento sensato
esmaece quase instantaneamente. E quanto mais examinamos pequenos detalhes da nossa vida,
mais as nossas decisões ruins parecem multiplicar-se.
Como exercício, pense em sua vida e anote o número de vezes em que você fez as seguintes
atividades nos últimos 30 dias. Tenha em mente mais duas coisas: 1) Se você não anotar os nú-
meros, será muito mais fácil manter a ilusão de sua própria racionalidade. Portanto, você é quem
sabe se prefere confrontar ou não o seu comportamento. 2) Se deixar linhas em branco, a sensa-
ção será bem diferente do que se escrever “zero”, então, se quiser ser realmente honesto consigo
mesmo, não deixe linhas em branco.
23 Guia de Economia Comportamental e Experimental
Nos últimos 30 dias, o número de vezes em que eu...
Comi demais .................................................................................................................................................................................
Mandei mensagens de texto enquanto dirigia ...............................................................................................................
Li e-mails enquanto dirigia .....................................................................................................................................................
Gastei dinheiro e me arrependi depois .............................................................................................................................
Gastei tempo demais em redes sociais .............................................................................................................................
Procrastinei ...................................................................................................................................................................................
Fui me deitar muito tarde e dormi mal .............................................................................................................................
Bebi demais ..................................................................................................................................................................................
Não fui tão carinhoso quanto devia com minha cara-metade ................................................................................
Não passei tempo suficiente com meus filhos ...............................................................................................................
Não me exercitei tanto quanto queria ...............................................................................................................................
Não tomei meus remédios .....................................................................................................................................................
Menti (e não uma mentirinha inofensiva) .........................................................................................................................
Administrei mal o meu tempo ..............................................................................................................................................
Disse sim para algo ao qual deveria ter dito não ..........................................................................................................
Disse algo inapropriado e depois me arrependi ...........................................................................................................
Peguei um voo não ótimo só para ganhar algumas milhagens extras ................................................................
[Acrescente abaixo quaisquer outros comportamentos indesejáveis]
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