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A Lei
sobre o bem da humanidade. É ele quem deve fazer com
que os homens sejam o que ele quer que sejam.”
ROBESPIERRE.
“A função do governo é dirigir as forças físicas e morais
da nação para os fins que a instituíram.”
BlLLAUD-VARENNES.
“Um povo ao qual se quer devolver a liberdade deve ser
formado de novo. É preciso destruir antigos preconceitos,
mudar hábitos arraigados, corrigir afeições depravadas,
restringir as necessidades supérfluas, extirpar vícios in-
veterados... Cidadãos, a inflexível austeridade de Licurgo
criou a base inabalável da República espartana. O caráter
fraco e confiante de Sólon mergulhou Atenas na escravi-
dão. Este paralelo encerra toda a ciência de governar.”
LEPELLETIER.
“Considerando a extensão da degradação humana, estou
convencido de que é necessário fazer-se uma total regene-
ração e, se posso assim dizer, criar um novo povo.”
o
S
SociAliStAS
querem
A
ditAdurA
Pretende-se, outra vez, que os homens não passam de vil matéria.
Não lhes cabe desejar seu próprio desenvolvimento. São incapazes para
isto. De acordo com Saint-Just, somente o legislador pode fazê-lo.
As pessoas são meramente o que o legislador quer que elas sejam. De
acordo com Robespierre, que copia Rousseau literalmente, o legis-
lador começa por indicar a finalidade para a qual se institui a nação.
Uma vez esta finalidade determinada, o governo tem somente que di-
rigir as forças físicas e morais da nação para esta finalidade. Entretanto,
os habitantes da nação devem permanecer completamente passivos.
E, de acordo com os ensinamentos de Billaud-Varennes, o povo não
deve ter senão os preconceitos, os hábitos, as afeições que o legislador
autorizar. Ele chega até a afirmar que a inflexível autoridade de um
homem é a base da República.
Vimos que, no caso de ser o mal tão grande que os procedimentos
governamentais ordinários não conseguem remediá-lo, Mably reco-
menda a ditadura para promover a virtude: “Recorram”, diz ele, “a
um tribunal extraordinário, com poderes consideráveis, por curto
espaço de tempo. A imaginação dos cidadãos precisa ser sacudida.”
Esta doutrina não foi esquecida. Escutemos Robespierre:
44
Frédéric Bastiat
O princípio do governo republicano está na virtude e
o meio necessário para estabelecer a virtude é o ter-
ror. Em nosso país, desejamos substituir a moral pelo
egoísmo, a probidade pela honra, os princípios pelos
costumes, os deveres pela conduta, o império da razão
pela tirania da moda, o desprezo do vício pelo despre-
zo da infelicidade, a altivez pela insolência, a grandeza
d’alma pela vaidade, o amor à glória pelo amor ao di-
nheiro, as boas pessoas pelas pessoas agradáveis, o mé-
rito pela intriga, o gênio pelo espírito, a verdade pelo
brilho, o encanto da felicidade pelo tédio da volúpia,
a grandeza do homem pela pequenez dos grandes, um
povo magnânimo, poderoso e feliz por um povo amá-
vel, frívolo e miserável; em suma, desejamos substituir
todas as virtudes e milagres da república por todos os
vícios e absurdos da monarquia.
A
ArrogânciA
ditAtoriAl
A que altura acima do resto da humanidade coloca-se Robespier-
re! E observe-se a arrogância com que ele fala! Ele não se limita a
exprimir o desejo de uma grande renovação do espírito humano. E
nem sequer espera o que pode resultar de um governo bem organi-
zado. Não, ele quer realizar por si próprio a reforma da humanidade
e por meio do terror.
O discurso do qual é tirado este pueril e laborioso amontoado de
antíteses tinha por objetivo expor os princípios da moral que devem con-
duzir a um governo revolucionário.
Observe-se que, quando Robespierre vem pedir a ditadura, não
é somente para repelir o estrangeiro ou para combater os grupos de
oposição. Ele prefere a ditadura para fazer prevalecerem, pelo terror,
seus princípios próprios de moral. Ele afirma que esta é uma medida
temporária, que precede uma nova constituição. Mas, na verdade,
o que deseja mesmo é usar o terror para extirpar do país o egoísmo, a
honra, os costumes, os bons modos, a moda, a vaidade, o amor ao dinheiro, a
boa companhia, a intriga, a espirituosidade, a volúpia e a miséria.
Somente depois que ele, Robespierre, tiver alcançado este mila-
gre, conforme ele mesmo afirma e com razão, é que permitirá às leis
reinarem de novo. Ah, miseráveis criaturas! Vocês pensam que são
tão grandes! Vocês, que acham a humanidade tão pequena! Vocês,
que querem reformar tudo! Por que não se reformam vocês mesmos?
Esta tarefa seria suficiente!
45
A Lei
o
cAminho
indireto
pArA
o
deSpotiSmo
Em geral, contudo, estes senhores — os reformadores, os legisla-
dores e os escritores — não desejam impor diretamente o despotismo
aos homens. Oh, não! Eles são por demais moderados e adeptos da
filantropia para fazer isso! Eles só pedem o despotismo, o absolutis-
mo, a onipotência da lei. Aspiram somente a fazer leis.
Para mostrar a prevalência desta estranha ideia na França, eu ne-
cessitaria copiar por inteiro a obra de Mably, Raynal, Rousseau e Fé-
nelon — e mais longos trechos de Bossuet e Montesquieu — e também
reproduzir inteiramente as atas da Convenção. Não farei tal coisa.
Remeto o leitor a este material.
n
Apoleão
queriA
umA
humAnidAde
pASSivA
Não é surpreendente supor-se que esta ideia tenha agradado a Napo-
leão. Ele a adotou com fervor e a pôs energicamente em prática. Como
um químico, Napoleão considerava toda a Europa material para suas
experiências. Mas, na devida ocasião, este material reagiu contra ele.
Em Santa Helena, Napoleão — grandemente desiludido — pare-
ceu reconhecer alguma iniciativa nos povos. E assim procedendo, ele
se tornou menos hostil à liberdade. Isto não o impediu, entretanto,
de dar a seu filho, em seu testamento, a seguinte lição: “Governar é
difundir a moral, a instrução e o bem-estar.”
Depois de tudo isso, dificilmente seria necessário citar as mesmas
opiniões de Morelly, Babeuf, Owen, Saint-Simon e Fourier. Aqui es-
tão, entretanto, alguns trechos do livro de Louis Blanc, sobre a orga-
nização do trabalho. “Em nosso projeto, a sociedade recebe o impulso
do poder.” (p. 126).
Em que consiste o impulso que dá à sociedade o poder de gover-
nar? Na imposição do projeto do Senhor Louis Blanc.
Por outro lado, a sociedade é o gênero humano.
Portanto, em definitivo, o gênero humano recebe impulso de
Louis Blanc. Pode-se dizer que o povo é livre para aceitar ou recu-
sar este plano. Evidentemente, as pessoas são livres para aceitar ou
recusar conselhos de quem quer que seja. Mas esta não é a maneira
pela qual o Senhor Louis Blanc entende o assunto. Ele espera que
seu projeto seja convertido em lei e, por conseguinte, imposto pela
força do poder.
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