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categoria de deuses” (VITRUVIUS, 1955, p.224, tradução nossa). A título do exemplo,
relata trabalhos de
Platão, Pitágoras e Arquimedes. Expõe suas descobertas fundamentais de maneira radicalmente diversa
daquela apreciada pelos gregos, não efetuando demonstrações abstratas, mas sim, trabalhando sobre
questões práticas. Mostra o problema de duplicar a área de um quadrado, construindo um segundo
quadrado sobre a diagonal do primeiro. Para os gregos, era um impasse filosófico a construção de uma
diagonal tendo como comprimento um número irracional. Para os romanos, esta construção consistia em
um excelente método de duplicação da área de um aposento. Vitruvius destaca o teorema de Pitágoras,
sem interesse na sua demonstração, explicando sua utilização por meio de números e exaltando suas
aplicações na construção de edificações,
especialmente de escadas, possibilitando que cada degrau esteja
na adequada proporção. Temas relacionados com a astronomia são tratados no livro IX, onde encontra-se o
plano de construção de relógio do sol com a respectiva construção geométrica que determina a marcação
das sombras.
O estudo da água foi efetuado pelos romanos com rigor científico. Vitruvius sintetiza todo o
conhecimento sobre qualidade da água e sua distribuição nas cidades. Ruínas dos aquedutos romanos
comprovam o avançado conhecimento romano sobre matemática aplicada.
Vitruvius cita trabalhos de
Arquimedes, relatando o episódio do roubo cometido na confecção da coroa do rei Hierão, onde prata foi
misturada ao ouro. Descreve a reação de Arquimedes ao concluir qual procedimento adotar: “pleno de
alegria, saiu da banheira e dirigiu-se nu para sua casa, falando em alta voz que havia encontrado o que
buscava” (VITRUVIUS, 1955, p.226, tradução nossa). Desse modo, Vitruvius deixa transparecer o conceito
que os romanos tinham do cientista grego: distraído e desligado da realidade.
Especial destaque pode ser dado à preocupação de Vitruvius com as questões relacionadas ao
bem-estar e à saúde dos habitantes das cidades. Tal postura conduz reflexões sobre a educação
matemática, que particularmente
nos dias atuais, não pode acontecer desligada das questões ecológicas.
Bibliografia
1. BAIER, Tânia.
Programação Linear: uma Opção para o Curso de Matemática Aplicada à Administração
de Empresas
. 1994. Universidade Regional de Blumenau. Dissertação de Mestrado.
2. BOYER, Carl.
História da Matemática
. 2.ed. São Paulo: Edgard Blücher, 1996.
3. EVES, Howard.
Introdução à História da Matemática.
Campinas: Ed. da UNICAMP, 1995.
4.UPINSKY, Arnaud-Aaron.
A perversão matemática
– O Olho do Poder. Rio de Janeiro: Alves, 1989.
5. VITRUVIUS, Marcus Pollio.
Los diez libros de arquitectura
. Barcelona: Ibéria, 1955.
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A PESQUISA HISTÓRICA E OS DEBATES SOBRE DEMONSTRAÇÃO MATEMÁTICA
João Acácio Busquini
FFCL Nossa
Senhora Aparecida
jbusquini@bol.com.br
Resumo:
Do discurso do matemático e da prática do professor, surge a pergunta geradora desta pesquisa:
quais significados são atribuídos à prova rigorosa ou demonstração matemática por licenciandos do curso
de Matemática? Para maior compreensão do campo pesquisado, partimos da análise histórica e, da
literatura disponível sobre a
Prova Rigorosa
. Nesta análise, encontramos duas faces distintas:
a primeira,
do denso material sobre a pesquisa internacional, e na segunda, a pesquisa nacional que, embora
crescente, necessita de maiores discussões na comunidade de educadores matemáticos. Da concepção
grega de demonstração nas raízes gregas, até a demonstração do Teorema de Fermat de A. Wiles, o
significado da demonstração conceitos distintos, apoiados em seus campos históricos, sociais e culturais.
Nesta seara, didática e epistemológica, inserimos os instrumentos (questão e testes),
produzidos no Reino
Unido, para compreendermos o significado que buscamos entre os futuros professores. Este recurso
favorece o intercâmbio da pesquisa nacional e internacional sobre a demonstração. Desta maneira,
delineamos algumas considerações finais visando identificar preocupações e estabelecer relações por meio
dos significados – explicação e visualização - que compreendam o ensino-aprendizagem nos cursos de
licenciatura em Matemática.
1. Considerações iniciais
A demonstração caminha na direção da construção de argumentos com nossos alunos, implicando
que, responda suas dúvidas ou incertezas, convençam outros e a si mesmos e validem uma afirmação, mas
que nos parecem serem impermeáveis em nas salas de aula.
A escassez de pesquisas e um levantamento sistematizado das dificuldades em relação à
demonstração enfrentada por alunos do
Ensino Superior como, por exemplo, as pesquisas apresentadas
nos Encontros Paulistas de Educação Matemática - EPEM’s e em revistas especializadas, são indicadores,
de que caminhamos lentamente na direção de termos claros as dificuldades, da não familiaridade, por parte
dos
nossos alunos, com o raciocínio formal.
Mesmo nos cursos superiores, a ausência de tematização, especificamente, em nosso caso, a
tematização da prova seria o estudo sistemático e aprofundado de seu significado do ponto de vista clássico
(definição e operacionalização), do papel das demonstrações para a Matemática e, para o ensino da
Matemática, e possível forma de abordagem além da clássica. Estes elementos também parecem ser
fatores a contribuir para essas dificuldades.
Tematizadas ou não, familiares ou não, as provas rigorosas são instrumentos por excelência de
geração do conhecimento matemático e, por isso, levadas às salas de aula. Sujeitos às provas rigorosas,
alunos e professores desenvolvem mecanismos de ação para enfrentá-las e, nesse enfrentamento,
obviamente, atribuem significados que formam e ou reproduzem conceitos sobre a Matemática e seu
ensino.